Vaticano diz que papa não enviou rosário a Lula e que ação de advogado foi “pessoal”

O Vaticano divulgou nota de esclarecimento nesta terça-feira (12) em que atribui a uma ação “pessoal”, e não em nome do papa Francisco, a tentativa de visita do advogado argentino Juan Grabois, ontem à tarde, ao ex-presidente Luz Inácio Lula da Silva (PT).

A nota, publicada pelo site Vaticanews, responsável pela comunicação oficial da Santa Sé, afirma ainda que o rosário que Grabois tentou entregar ao petista –preso desde 7 de abril passado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba– foi “abençoado” pelo papa, mas não enviado por ele.

Ontem, logo após Grabois ser impedido de visitar Lula, o argentino afirmou em espanhol, durante entrevista coletiva na porta da PF, que o rosário havia sido abençoado pelo papa. Na tradução simultânea da entrevista, porém, um assessor do PT repassou aos jornalistas que o rosário havia sido “um presente do papa”. Na ocasião, Grabois não corrigiu nem concordou com a declaração.

O argentino disse ainda que tentava transmitir “a palavra do papa Francisco” –sem especificar, no entanto, se era uma mensagem específica ao ex-presidente preso– e se identificou como fundador do movimento dos trabalhadores excluídos e consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz –consultoria que, segundo o Vaticanews, ele não integra mais.

oje, a assessoria do acampamento do PT em Curitiba informou que o rosário foi entregue a Lula por intermédio de seus advogados. Procurada, a assessoria de imprensa do PT nacional preferiu que a assessoria de Lula se manifestasse. A assessoria do ex-presidente informou que a “nota do Vaticano se baseia na fala de Grabois” na entrevista que ele concedeu ontem e que “a informação da origem do rosário [chegou ao partido] do próprio Grabois.”

A assessoria do ex-presidente disse ainda que o texto nas redes sociais de Lula foi alterado “diante de informações contraditórias”.

Leia a íntegra da nota divulgada pelo Vaticanews:

“O advogado argentino Juan Gabrois, fundador do Movimento dos trabalhadores excluídos e ex-consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz, deu uma entrevista em sua tentativa de visitar o ex-presidente Lula na prisão de Curitiba, onde está detido há mais de dois anos meses. Grabois disse que a visita era pessoal e não em nome do Santo Padre. Ele não teve a permissão para se encontrar com Lula.

Na entrevista, ele nunca declarou que foi o Papa a enviar o Terço, mas simplesmente que se tratava de um Terço que tinha sido ‘abençoado’ pelo Papa. Terços como esse são levados, como o Santo Padre deseja, a tantos prisioneiros do mundo sem entrar no mérito de realidades particulares.”

No perfil de Lula no Facebook, o episódio foi inicialmente noticiado como “Papa Francisco envia rosário a Lula”. Hoje, o título do post e o texto dele foram alterados para a versão de que o objeto religioso fora, na realidade, “abençoado pelo papa”.

o site oficial do PT, o texto que introduz vídeo da entrevista com o advogado diz: “Papa enviou um rosário ao ex-presidente e seu consultor foi impedido de visitar Lula na carceragem da PF onde Lula é mantido como preso político”.

Site do PT noticia rosário como se tivesse sido presente do papa

Hoje, também em nota, o ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil no Vaticano, Adriano Silva Pucci, informou que a pasta “desconhece a entrega de um terço ao ex-presidente Lula, supostamente em nome do Santo Padre.”

O rosário foi entregue hoje na PF por Juan Gabrois, assessor do Papa Francisco para assuntos de Justiça e Paz, que foi impedido de visitar o presidente.

 

Advogado foi barrado

Grabois tentou visitar o ex-presidente na tarde desta segunda, mas, segundo ele, sua entrada foi impedida por autoridades da PF, que argumentaram que o consultor não poderia visitar o ex-presidente “por não ser um sacerdote consagrado”.

Na sede da PF, o ex-presidente está autorizado a receber visitas para “assistência espiritual” às segundas-feiras. Segundo a corporação, o direito não é exclusivo de Lula e vale desde 2015 para presos no local.

Entre os visitantes que já se encontraram com Lula para “assistência espiritual” na prisão estão o teólogo Leonardo Boff, o religioso Frei Betto e o monge Marcelo Barros.

“Vim com muita esperança para trazer uma mensagem ao ex-presidente Lula e lamentavelmente, de forma um tanto inexplicável para mim, os funcionários da Superintendência, por uma ordem que entendi que vinha de cima, resolveram impedir a visita”, disse Grabois em entrevista a jornalistas em frente à sede da PF.

“Todos os batizados têm uma missão, são discípulos religiosos e têm uma missão a cumprir, então me surpreende que os funcionários [da PF] não saibam disso”, afirmou.