Conforme a PF, durante as investigações, dezenas de mulheres relataram que tiveram de pagar dois médicos obstetras e um anestesista pelo parto de cesárea no Hospital São Patrício. O caso foi descoberto em 2014 a partir de uma denúncia feita por um médico que fazia residência no local.
Uma das pacientes gravou, com ajuda da Polícia Federal, o momento em que um médico cobrava pela cirurgia: “se vai querer fazer cesárea com ligamento, aí eu vou te cobrar R$ 1,8 mil”, afirma na gravação um dos dois médicos presos na operação deflagrada nesta segunda.
Conforme a PF, os valores de R$ 400 a R$ 1,8 mil eram embolsados pelos médicos, apesar da internação ser feita por meio do SUS, conforme comprova documentação apresentada pelo hospital.
Quem não conseguia o dinheiro, conforme a PF, aguardava pelo parto natural. Pacientes relataram que ficaram vários dias em em trabalho de parto, enquanto os médicos se negavam a fazer a cirurgia sem pagamento, o que teria provocado sequelas e até uma morte entre as crianças.
“Aquelas pacientes que não tinham como pagar pelo procedimento, era aguardado entrar em trabalho de parto, e mesmo em sofrimento, mesmo muitos dias de trabalho de parto, se elas não tinham condições e dinheiro para pagar o médico, não era realizada a cesárea. Os médicos se negavam a realizar. Mulheres sofreram muitos dias e teve caso identificados de recém-nascidos que faleceram, ou que tiveram sequelas graves por terem permanecido muito tempo dentro do útero”, afirma a delegada responsável pela investigação, Ana Gabriela Becker Gomes.
Ainda conforme a investigação, os pacientes tinham que pagar por outros procedimentos realizados pelo SUS, como cauterizações, aplicação de injeções e outras cirurgias.
Os dois médicos foram presos na madrugada desta segunda-feira e encaminhados à Penitenciária Modulada de Uruguaiana, e devem responder pelos crimes de corrupção, estelionato e realização de esterilização cirúrgica ilegal. A funcionária de um dos médicos e um anestesista foram indiciados.
Conforme a delegada responsável pelas investigações, os trabalhos de averiguação vão continuar, e a polícia pede que as vítimas procurem as autoridades para levar mais denúncias.
“A gente espera que essas prisões tragam mais pessoas para fazerem a denúncia. Porque esses casos não aconteceram só aqui em Itaqui, não aconteceram só no Rio Grande do Sul. Essas cobranças indevidas acontecem no Brasil inteiro, então a gente espera que, a partir dessas prisões, mais pessoas venham a denunciar”, diz a delegada, completando que as investigações continuarão.
Presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Fernando Weber Matos disse que vai aguardar que seja feita a denúncia com provas para que seja aberta uma investigação sobre os médicos denunciados.
“Acredito que é uma prática não devida, não correta. Se o médico tem um contrato com o SUS, com o IPERGS (Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul) para fazer partos, tem que receber pelo SUS e pelo IPERGS”, afirmou em entrevista à rádio Gaúcha.
CARIRI EM AÇÃO
Com G1/Foto: Reprodução Google
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