Cinco internos do Lar do Garoto, unidade socioeducativa de adolescentes e jovens em Lagoa Seca, no Agreste paraibano, continuam foragidos nesta segunda-feira (5), após a rebelião registrada no sábado (3) que registrou a morte de sete internos. Conforme o diretor do Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente Alice de Almeida (Fundac), Noaldo Belo de Meireles, seis internos fugiram durante o tumulto e um deles, que integrava a liderança da rebelião, foi recapturado ainda no sábado. Mais um dos líderes do motim está entre os cinco foragidos.
O número oficial foi divulgado na manhã desta segunda-feira (5) após uma recontagem nominal feita no domingo (4) com os internos nos quartos. Inicialmente, a direção da unidade havia divulgado que 17 internos haviam fugido, mas o número era baseado em uma contagem prévia, com os internos no pátio logo após a rebelião, de acordo com o Noaldo Belo.
Um dos internos foi morto por ter furtado a casa de um parente de um outro interno, conforme exemplo dado pelo diretor da Fundac. Entre as rixas, até discussão sobre futebol motivou o confronto. Pelo menos sete quartos tiveram a alvenaria danificada, conforme análise da direção do Lar do Garoto.
“Eles ‘estouraram’ um dos quartos, e foram estourando outros, e libertando outros internos, e na ação dos agentes para evitar que os internos que subiram para o telhado da unidade chegassem ao muro, alguns se aproveitaram para atacar outros internos”, explicou o diretor.
O diretor da Fundac e a direção do Lar do Garoto vão se reunir na manhã desta segunda-feira (5) para discutir soluções para o problema da superlotação na unidade e ampliação das vagas. Noaldo Belo explicou que existe um planejamento encaminhado para a ampliação de 40 vagas no Lar do Garoto.
As visitas que estavam marcadas para acontecer no domingo (4) no centro educacional Lar do Garoto, em Lagoa Seca, no Agreste paraibano, foram canceladas. A informação do cancelamento das visitas foi confirmada pela direção da unidade. Ainda com poucas notícias sobre os internos, aguardavam informações na frente do portão principal do centro pela manhã. As visitas aconteceriam entre 8h e 12h.
Reparos após rebelião
A rebelião resultou na destruição dos ferrolhos, nas grades, na alvenaria dos quartos, além de afetar o abastecimento de água e o fornecimento de energia elétrica. Os trabalhos de reparos no Lar do Garoto foram iniciados ainda no sábado, logo após o tumulto ser contido. Até o início da manhã desta segunda-feira (4) cerca de 80% do dano causado pelo motim havia sido reparado.
“Consertamos as grades e os ferrolhos e no domingo conseguimos a religação da água e da energia elétrica. Falta apenas uns consertos na parte de alvenaria de alguns dos quartos, e como precisa de um tempo para que o cimento seque. Então acreditamos que na terça-feira (6), tudo esteja devidamente reparado sem precisar remanejar ou transferir nenhum dos internos”, destacou Noaldo.
O Lar do Garoto tem capacidade oficial para abrigar 40 internos, conforme relatório do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Segundo a Fundac, somando as vagas do sistema provisório, a capacidade vai para 100 internos, embora o Lar do Garoto estivesse abrigando 218 jovens e adolescentes no dia da rebelião, segundo a direção.
Relatório apontava problemas um ano antes
Um relatório produzido em maio de 2016 já pedia ao governo da Paraíba a adoção de “medidas imediatas para reduzir a superlotação” no Centro Socioeducativo Lar do Garoto, em Lagoa Seca, agreste da Paraíba. De acordo com o membro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Vitor Cavalcante, o relatório foi produzido pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos e já identificava situações que ele considera como caos. Um dos pontos destacados pelo relatório feito há um ano era que “a internação provisória e a final funcionam no mesmo espaço”.
O diretor da Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente Alice de Almeida (Fundac), Noaldo Belo de Meireles, o problemas com o abastecimento de água apontado no relatório foi circustancial e tem relação com a crise hídrica que afeta Campina Grande desde 2016. Ainda de acordo com Noaldo Belo, os banheiros coletivos, na unidade provisória, suprem a falta de banheiro de alguns quartos que não têm banheiro.