Principal fiador do presidente Michel Temer (PMDB) no Congresso Nacional, o PSDB decidiu na noite desta segunda-feira, em reunião ampliada da executiva nacional e de demais lideranças do partido, que vai permanecer na base aliada. Os tucanos adotarão o discurso de que não podem desembarcar agora do governo, sob o argumento de que um eventual rompimento com Temer poderia prejudicar a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista.
Na reunião, prevaleceu o entendimento de que, enquanto as reformas estiverem tramitando no Congresso Nacional, o PSDB deve continuar ao lado do peemedebista. Nos bastidores, tucanos também defendem que, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolver Temer da cassação, a legenda deve agora aguardar a possível denúncia contra o presidente que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode apresentar até o fim de junho.
Ex-ministro das Relações Exteriores de Temer, o senador José Serra (SP) foi o primeiro a anunciar a decisão. Em entrevista à imprensa, ele afirmou que a maioria dos tucanos decidiu se manter na base aliada até que novos fatos surjam. “O PSDB não fará nenhum movimento agora no sentido de sair do governo. Se os fatos mudarem, terão outras análises”, afirmou o parlamentar. “É um governo que tocou adiante compromissos que assumiu conosco. Isso é visto como algo positivo”, acrescentou.
A reunião foi comandada pelo presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e contou com as presenças de várias lideranças do partido. Entre elas, a do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a do prefeito da capital paulista, João Doria. Os quatro ministros da sigla – Bruno Araújo (Cidades), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Luislinda Valois (Secretaria de Direitos Humanos) – também participam. Com a decisão de não desembarcar, os quatro permanecerão nos cargos.
Na reunião, as lideranças tucanas se revezaram no microfone. De acordo com relatos, em seus discursos, o governador de São Paulo e Serra defenderam que o partido permanecesse aliado ao governo, por enquanto, para ajudar o Palácio do Planalto a aprovar as reformas da Previdência, que sequer foi votada no plenário da Câmara, e trabalhista, que já foi aprovada pelos deputados e que tramita no Senado.
Segundo relatos, José Serra defendeu a unidade do PSDB e que a sigla leve em consideração a crise econômica pela qual o país passa. O ex-ministro das Relações Exteriores pregou que a legenda deveria tomar uma decisão “sensata” para não ser acusada de aprofundar a crise e pregou a retomada das principais bandeiras do partido, como a defesa pelo parlamentarismo.
Alckmin, por sua vez, afirmou que o PSDB deveria “observar” o cenário político até a conclusão da votação das reformas. Conforme relatos, o governador paulista ainda propôs antecipar a eleição para escolher novos membros da executiva nacional do partido, incluindo o substituto definitivo do senador afastado Aécio Neves (MG), licenciado da presidência nacional da legenda desde 18 de maio, após ser atingido pela delação de executivos do frigorífico JBS.
A eleição do substituto definitivo de Aécio no comando do PSDB está prevista somente para maio do próximo ano. Senadores e deputados querem antecipar o pleito para o segundo semestre deste ano. A estratégia é tirar o mineiro do foco político para que a legenda possa tentar “renovar” sua imagem para as eleições de 2018.
Mesmo ausente da reunião, Aécio também trabalhou, nos bastidores, para evitar o desembarque do PSDB do governo agora. A avaliação de “aecistas” é a de que, se os tucanos romperem com Temer agora, o PMDB, partido do presidente e dono das maiores bancadas no Congresso Nacional, trabalhará a favor da cassação do mandato do senador mineiro no Conselho de Ética do Senado.
CARIRI EM AÇÃO
(com Estadão Conteúdo)
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