A pesquisa envolveu 29 profissionais da Rede Zika Unicamp – grupo de estudos sobre a doença que envolve biólogos, médicos, biomêdicos e farmacêuticos – e representantes do renomado instituto de pesquisa de Cingapura na área, a Agência de Ciência, Tecnologia e Pesquisa (A*Star). O trabalho gerou artigo que foi aprovado para publicação no The Journal of Infectious Diseases – um periódico sobre doenças infecciosas – dos Estados Unidos.
Em entrevista ao G1, o professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e um dos coordenadores do estudo, Fabio Trindade M. Costa, contou que foram analisadas 45 moléculas de cada pessoa para encontrar quais delas se mostravam diferentes, com alterações. Foi como “procurar uma agulha no palheiro”, segundo ele. A conclusão foram três alteradas nos casos mais graves, os bebês com microcefalia.
“O conjunto de 3 moléculas é das [crianças] que têm os maiores sintomas. A gente pode hoje, com essas moléculas, começar um estudo para usá-las como marcador de severidade. Conhecendo isso, posso, por exemplo, fazer um tratamento que interrompa a produção desses marcadores”, explica Costa.
A coleta do exame foi feita com o soro dos pacientes, apenas uma gota de sangue usada para o diagnóstico molecular, e processada de maneira automatizada.
O professor do IB explica que todo processo infeccioso gera uma “resposta” no sistema imunológico. Esta é uma consequência natural de uma infecção, e, no caso dos pacientes com zika, eles têm um marcador específico.
Na análise dos 100 pacientes, somente uma porcentagem pequena apresentava complicações. O grupo descobriu que, nos pacientes com complicações, as moléculas analisadas se expressavam de forma diferente dos não complicados.
Em seguida, o estudo se afunilou considerando os bebês com complicações graves, e os pesquisadores perceberam que eles tinham um conjunto de biomarcadores no sistema imune distinto, ainda mais alterado, do que os outros pacientes menos complicados.
“Mostra que tem uma correlação com os problemas nos desenvolvimentos dessas crianças”, afirma Costa.
Novas perspectivas
Muitas perguntas surgem a partir de agora: qual o papel das moléculas na virulência dos casos graves? Na presença desses marcadores o vírus poderia “entrar” com mais facilidade nas células? Se tiver relação com genética, pode possibilitar descobrir se a pessoa tem grande chance de ter uma complicação? Com a descoberta, agora é hora de começar a buscar essas respostas.
“O interessante desse estudo, inédito, é o quanto que ele abre de perspectivas. Sabendo dessas moléculas, a gente já sabe o que procurar”, ressalta o coordenador.
Segundo o coordenador do estudo, já começaram as pesquisas para descobrir a interferência desses marcadores com as células da barreira placentária, para verificar se eles influenciam na entrada do vírus.
“Vamos começar a entender se essas moléculas vão interfeir nessas células e causar todas as consequências”, completa.
CARIRI EM AÇÃO
Com G1/Foto: Google
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