A ação popular em favor da anulação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff avança com a assinatura de trabalhadores, estudantes, artistas, intelectuais e ganha força com a adesão de nomes de peso dentro e fora do cenário político. Depois da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), e do senador Lindbergh Farias (RJ), que assinaram no último dia 5, ocasião da posse da senadora como dirigente nacional do PT, foi a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula assinou na noite da última segunda-feira (10), em lançamento da segunda fase do Memorial da Democracia, em Belo Horizonte. “Não conseguimos falar diretamente com o presidente, mas o Paulo Okamoto se prontificou a levar a ficha até ele, que assinou”, conta a compositora e ativista digital Malu Aires, da coordenação do comitê em Belo Horizonte.
De acordo com ela, é cada vez maior o engajamento na ação popular. “Muita gente que nem conhecemos está espalhando as fichas, coletando assinaturas. E não se trata de um simples abaixo-assinado. É uma ação popular que tem força legal. Anular o impeachment significa trazer de volta a credibilidade ao ato de votar, porque o povo votou e rasgaram seu voto ao afastar a presidenta eleita democraticamente sem crime de responsabilidade”, diz.
Malu destaca que depende do Supremo Tribunal Federal (STF) trazer de volta a legalidade democrática e o equilíbrio das instituições. “Aí sim a gente pode confiar que as próximas eleições serão respeitadas. Caso contrário, como confiar em uma eleição se houve impeachment sem legalidade democrática, o que dirá dentro de um golpe de Estado? Só a volta de Dilma para caracterizar que o governo Temer é usurpador e poder revogar todas as medidas aprovadas em seu governo”, pondera. “Claro que não é algo automático, mas a partir daí podemos questionar tudo judicialmente”.
O músico Damu Silva, da coordenação do comitê do Rio de Janeiro, também destaca o envolvimento da população. “As pessoas formam fila diante da nossa tenda na Candelária para assinar a ação. São pessoas de todas as classes sociais, trabalhadores, gente quer dar sua contribuição. Muitas até dizem que não votaram em Dilma, mas entendem que ela tem de voltar”, diz.
Damu, que aproveitou um evento para pegar a assinatura do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, conta que a ex-ministra da Cultura de Dilma, Ana de Hollanda, logo que soube da ação entrou em contato. “E apareceu com mais de cem assinaturas, inclusive do irmão Chico Buarque, da ex-cunhada Marieta Severo e tantos outros artistas”. O vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) também assinou a ação.
Fernanda Pieruzzi, do comitê de Brasília, conta que a anulação do impeachment chegou a ser discutida no congresso do PT realizado no início de junho, em Brasília. E que foi aprovada moção de apoio a iniciativas como a ação popular. “Em ato contra a votação da reforma trabalhista no Senado, companheiros anunciaram dos carros de som a coleta de assinaturas”, conta.
Por mais remota que pareça a possibilidade de o STF anular o impeachment, Fernanda pensa diferente. “Os ministros ainda não se pronunciaram. Seria diferente se julgassem improcedente. Além disso, muitas pessoas ainda desconhecem essa alternativa do mandado de segurança. E Dilma viaja o mundo denunciando o golpe, tendo dito até não se sentir aliviada porque ainda é presidenta. E voltando, ela pode pedir as eleições diretas. Uma coisa não anula a outra”, destaca.
Lançada no dia nacional de paralisação convocado pelas centrais sindicais e pelos movimentos sociais, no último dia 30, a ação popular pretende reunir 1,3 milhão de assinaturas para pressionar o Supremo Tribunal Federal a anular o impeachment.
Com comitês em diversas capitais, o Movimento Nacional pela Anulação do Impeachment contesta o mérito do processo que depôs Dilma mesmo sem ter sido comprovado crime de responsabilidade.
“A gente sabe que o Supremo é golpista, que está alinhado com as forças do golpe, mas a gente tem que fazer um contraponto, uma oposição a isso. Se o povo pressionar, vai ser outra força e vai fazê-los se posicionar. A colocar ou não as suas digitais formalmente no golpe. É isso que está faltando aqui no Brasil, essa resistência popular de fato”, afirma a enfermeira aposentada e militante Edva Aguilar, da coordenação nacional do Movimento Nacional pela Anulação do Impeachment.
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