Educação e tributação mais justa reduziriam desigualdade, diz Piketty

Democratizar o acesso à educação de qualidade, para que quem estuda no ensino público também consiga bons empregos e salários mais altos, é uma das chaves, junto com um sistema tributário mais justo, para reduzir a desigualdade no Brasil, afirmou na noite de ontem o economista francês Thomas Piketty.

Falando a uma plateia que pagou ingressos caros para ouvi-lo – os preços variavam de R$ 1.688 a R$ 2.886, de acordo com o site de um dos organizadores do evento em um teatro no Itaim, bairro nobre de São Paulo – Piketty disse que as próximas medidas dedicadas a elevar a renda dos mais pobres devem vir acompanhadas também de um sistema tributário mais justo, que reduza a imensa fatia da renda concentrada historicamente pelo topo mais rico no Brasil. Estudo recente conduzido pelo World Wealth and Income Database, instituto codirigido por Piketty, mostrou que a fatia da renda nacional concentrada nos 10% mais ricos passou de 54,3% para 55,3% de 2001 a 2015. No mesmo período, a participação da renda dos 50% mais pobres também subiu 1 ponto percentual, passando de 11,3% para 12,3%. Já a participação da faixa intermediária de 40% da população na renda nacional caiu de 34,4% para 32,4% de 2001 a 2015.

Questionado sobre o achatamento da classe média mostrado nos recentes estudos do pesquisador Marc Morgan, Piketty destacou que o crescimento da renda em todas as camadas da população, inclusive no topo, é uma notícia muito positiva nos dados a respeito do Brasil, e mostra “que se está indo no caminho correto”. Compara com o exemplo dos EUA, onde, nos anos 2000, a parcela da renda nacional detida pela camada mais pobre encolheu. Os estudos de sua equipe estimam que, dos anos 70 para 2014, a fatia dos 50% mais pobres americanos antes de impostos caiu de 21% para 12%. No mesmo período, a fatia do 1% mais rico subiu de 10% a 19% da renda nacional.

“Se comparar com o que aconteceu nos EUA no mesmo período, a renda dos 50% mais pobres caiu de 20% para 10%. Era maior que no Brasil e agora é menor. Lá o salário mínimo tem ficado congelado, e no Brasil cresceu”, afirmou. Para Piketty, a insatisfação da classe média brasileira pode vir do fato de que a elite brasileira tem historicamente sido muito competente em manter intacta sua fração da renda. “Não digo que se possa resolver toda a desigualdade às custas de aumentar o salário mínimo, porque é preciso investimento em educação, para que mais pessoas possam ter acesso a empregos que pagam bem”, diz. “O estudo de Marc Morgan reflete o fato de que algumas políticas ajudaram a base mais pobre, como Bolsa Família e reajuste do salario mínimo, mas houve limitada tentativa de aumentar a taxa dos ricos. Isso pode ser fonte de insatisfação para a classe média e é por isso que no futuro, políticas para os pobres deveriam vir acompanhadas de um sistema tributário mais progressivo”.

O francês, que participou do programa “Fronteiras do Pensamento”, destacou também que a mensagem principal que se obtém a partir da análise dos dados tributários do Brasil é que o país sempre foi, e continua muito desigual. Ele diz que a desigualdade é um entrave ao desenvolvimento econômico do país, e que a vontade política tem mais peso que os indicadores econômicos para determinar se a desigualdade cai ou aumenta.

Piketty, que ao final da palestra atendeu a uma fila de fãs que queriam seus livros autografados, ponderou também que países muito desiguais têm, em geral, motivações históricas; Brasil e EUA tiveram a escravidão; a África do Sul, o apartheid. “Mas não dá para diminuir o peso da responsabilidade política”, afirmou o francês.

CARIRI EM AÇÃO

Com Valor/Foto: Google  

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