Apesar de os avanços no tratamento e na prevenção da Aids demostrarem cada vez mais resultados positivos – como a queda em 38,1% na taxa de mortalidade pela doença nos últimos seis anos –, os dados acerca da questão seguem alarmantes. De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids de 2016 e o Relatório de Diagnóstico Clínico do Ministério da Saúde, estima-se que 827 mil pessoas vivam com o vírus ou a doença no Brasil, sendo que 112 mil delas não sabem que estão infectadas e apenas 498 mil estão fazendo tratamento apropriados.
Levando em consideração que a forma mais comum de transmissão do vírus do HIV ainda é pelo contato sexual, segundo dados do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, e que jovens, gays, homens que fazem sexo com homens e usuários de álcool e drogas estão entre os grupos mais afetados pela doença, o Ministério da Saúde fez a campanha “#TemCamisinhaNaFesta”, buscando manter os ambientes que esse público frequenta tão seguros quanto for possível.
Apesar de sexo ser um tópico considerado tabu para muita gente, naturalizar as discussões sobre o tema é importante para ajudar pessoas portadoras de alguma IST (infecções sexualmente transmissíveis). Visto que uma parte das pessoas que vivem com HIV não sabe, ou sabe e não busca tratamento, falar sobre o tema e fazer com que as informações a respeito de prevenção e tratamentos circulem pode fazer com que elas enxerguem que cuidar de si mesmas e zelar pela própria saúde não é motivo de vergonha nem de culpa.
A Aids no Brasil
As notificações de casos da doença no Brasil se tornaram obrigatórias na década de 1980 e, desde então, o quadro tem variado bastante. A cada ano, o País tem em média 40,9 mil novos casos, sendo que o grupo mais vulnerável é o dos jovens entre 18 e 24 anos. Em compensação, os diagnósticos tardios têm sido menos frequentes nessa faixa etária, mostrando que, de alguma forma, os jovens estão cada vez mais engajados em se tratar.
Outro dado importante levantado pela última edição do Boletim Epidemiológico é o de que, em comparação com a população feminina, casos de homens que vivem com HIV ou Aids crescem mais. Em 2006, para cada caso da doença em uma mulher, havia 1,2 casos em homens. Em 2015, a proporção aumentou para três casos em homens a cada caso em mulher.
A campanha do Ministério da Saúde incentiva que as pessoas passem em um posto de saúde para pegar camisinhas gratuitamente antes de ir a festas, mas o cuidado não pode parar por aí, já que não adianta nada ter os preservativos e não lembrar que eles existem ou usá-los de forma errada (sem nem saber que está fazendo isso), comprometendo a eficácia deles.
Apesar de muita gente vacilar na hora H e de as camisinhas – tanto femininas quanto masculinas – serem cercadas de mitos, elas ainda são a forma mais prática e eficaz de prevenir ISTs (inclusive a Aids) e gravidez ao mesmo tempo. Confira alguns esclarecimentos sobre esse método contraceptivo (e trate de colocá-los em prática!):
Desmistificando a camisinha feminina
Você sabia que, de acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é o país em que o governo mais compra preservativos femininos no mundo? Pois bem, apesar de a existência da camisinha feminina ser frequentemente esquecida, ela também é distribuída gratuitamente em postos de saúde e é tão eficaz quanto a masculina. Além do uso desse preservativo ser tão indicado quanto o do masculino, ainda há a vantagem de dar mais autonomia à mulher, já que, optando por esse tipo de proteção, ela não fica mais dependente da vontade do parceiro ou da parceira.
Ainda assim, mesmo com esse preservativo se mostrando eficaz e tendo vantagens, questões culturais fazem com que muitas mulheres não se informem sobre assuntos relacionados à sexualidade e, portanto, tenham muitas dúvidas e preconceitos acerca desse tipo de prevenção. Veja alguns mitos e verdades sobre o preservativo:
A camisinha feminina não é confortável
Mito! Por ser bastante lubrificado, esse preservativo proporciona mais conforto para mulheres que têm o canal vaginal mais ressecado. Esse tipo de camisinha tem também um anel plástico e flexível que fica do lado de fora da vagina, massageando levemente o clitóris durante o sexo e gerando ainda mais prazer para ela. Além de ser confortável para a mulher, ela também pode ser mais agradável para o parceiro, já que, ao contrário do que pode ocorrer com o preservativo masculino, a camisinha feminina não irá apertar o pênis.
O preservativo feminino é fácil de usar
Verdade! Apesar de ela ter uma aparência intimidadora para muitas pessoas, a camisinha feminina é tão fácil de usar quanto um absorvente interno ou um coletor menstrual, por exemplo. Esse tipo de preservativo possui dois anéis, um fechado e outro com uma abertura. Para colocá-lo, é necessário “dobrar” o anel fechado até que ele fique estreito (mais ou menos no formato de um “8”) e inseri-lo no canal vaginal o mais fundo possível. O resto da camisinha se estende até a parte externa da vagina, onde o anel aberto deve ficar.
Como qualquer outro método de prevenção, é necessário treino para que a inserção do preservativo seja feita com perfeição. É importante também experimentá-lo antes da hora H para evitar que a pressa resulte na desistência em usar proteção.
Usar a camisinha feminina e a masculina ao mesmo tempo aumenta a proteção
Mito! E põe mito nisso. Mesmo com a lubrificação, usar os dois preservativos ao mesmo tempo faz com que haja fricção entre eles, o que pode fazer com que o látex se rompa e toda a proteção vá por água abaixo.
O preservativo feminino também protege durante o sexo oral
Verdade! O anel externo da camisinha, que fica para o lado de fora do canal vaginal, recobre a região dos lábios, auxiliando na prevenção de HPV e herpes, doenças constantemente transmitidas não só pelo sexo com penetração, mas pelo sexo oral.
A camisinha feminina deve ser colocada na hora do sexo e com o pênis ereto
Mito! Esse tipo de preservativo não depende do parceiro ou parceira da mulher de forma alguma. A camisinha feminina pode ser inserida na vagina até oito horas antes da relação, o que aumenta, de certa forma, a autonomia da mulher sobre o próprio corpo, já que ela não precisa convencer a outra pessoa a usar.
E a masculina?
Apesar de as duas serem distribuídas gratuitamente pelo SUS, o preservativo masculino é mais comum de se ter do que o feminino. Ainda assim, muita gente não sabe como armazená-lo ou utilizá-lo corretamente, comprometendo a eficácia do preservativo e, consequentemente, se tornando vulnerável à transmissão de ISTs. Veja alguns mitos e verdades sobre esse preservativo e saiba como lidar com ele da forma correta:
Usar duas camisinhas garante proteção caso uma delas se rompa
Mito! Assim como utilizar o preservativo masculino e o feminino juntos pode fazer com que o material delas se rompa, usar duas camisinhas masculinas ao mesmo tempo pode ter o mesmo efeito devido ao atrito entre os dois produtos.
É necessário prestar atenção no tamanho da camisinha na hora de comprá-la
Verdade! Apesar de muitas pessoas não saberem, não há apenas um tamanho de camisinha. A tradicional tem 52 milímetros, mas também há tamanhos um pouco menores ou um pouco maiores, e o ideal é testar para saber qual dessas medidas é a ideal. Além de ser desconfortável, usar camisinhas muito pequenas pode aumentar os riscos de ela estourar, enquanto preservativos maiores do que o tamanho apropriado podem escorregar do pênis e deixar os parceiros desprotegidos.
A camisinha nunca deve ser guardada no bolso ou na carteira
Verdade! Manter os preservativos em locais apertados e quentes como o bolso da calça e o compartimento escondidinho da carteira pode fazer com que eles se amassem, criando atrito e facilitando o rompimento. Calor e umidade também podem prejudicar o material dos preservativos, então nada de deixá-los no banheiro ou dentro do porta-luvas do carro.
Mesmo que eles estejam armazenados em locais arejados, também é importante ficar de olho na validade dos preservativos. Esse prazo varia de três a cinco anos desde a data de fabricação e, após esse período as chances de a camisinha funcionar corretamente não são garantidas.
As camisinhas gratuitas dos postos de saúde são menos seguras
Mito! De acordo com o Ministério da Saúde, quando utilizados e armazenados corretamente, os preservativos distribuídos gratuitamente pelo governo são tão eficazes quanto as compradas em farmácias.
É seguro usar a mesma camisinha duas vezes
Mito! Cada camisinha serve para ser usada apenas uma vez e, se reutilizada, não tem a eficácia garantida. Além de o preservativo precisar ser trocado em toda relação sexual, o casal também teve utilizar um novo toda vez que decidir mudar, por exemplo, do sexo vaginal para o anal ou para o oral. Dessa forma, além de prevenir Aids, gonorreia, sífilis e outras STIs, os parceiros se protegem contra infecções causadas por bactérias da flora do próprio corpo que não podem passar de um orifício para outro.
CARIRI EM AÇÃO
Com IG /Foto: Google
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