Quatro lições para tornar seu estudo mais eficiente

Cara a cara com os maiores especialistas em memória do mundo, minha mente começa a se sentir bem humilde. O psicólogo britânico Ben Whately, por exemplo, me conta sobre o famoso Matteo Ricci, um padre jesuíta do século 16 que se tornou o primeiro ocidental a fazer os exames mais difíceis do serviço civil chinês.

O teste era uma provação que envolvia memorizar milhares de páginas de poesia clássica – algo que poderia levar uma vida inteira. “Só 1% das pessoas passou na prova, mas Ricci conseguiu ser aprovado depois de dez anos, sem nunca ter falado chinês antes”.

Será que a psicologia consegue nos dar o mesmo impressionante controle sobre nossas mentes? Esse é o objetivo de Whately. Junto com o ex-campeão de memorização britânico Ed Cooke, ele desenvolveu um aplicativo, Memrise, que usa alguns dos princípios aplicados por Ricci séculos atrás.

Agora, eles se uniram a pesquisadores da University College London (UCL), da Grã-Bretanha, para lançar um concurso que tenta encontrar as técnicas mais eficientes de aprendizado e memorização.

Especialistas em memória de todo o mundo foram convidados a conduzir experimentos para encontrar a maneira mais fácil e mais eficiente para memorizar novas informações.

A tarefa que os participantes recebem é relativamente simples: no espaço de uma hora, terão que estudar uma lista de 80 palavras, e uma semana depois, devem mostrar de quantas se lembram. Para complicar, todas as 80 palavras estão em lituano.

Apesar de alguns dos maiores cientistas do mundo terem participado do concurso em Londres, algumas técnicas utilizadas por eles não funcionaram na memorização da lista. “Isso mostra como é difícil aplicar princípios científicos ao aprendizado corriqueiro”, afirma David Shanks, chefe do Departamento de Psicologia e Ciências da Lingagem da UCL.

Mas, apesar de algumas dificuldades, a maioria das equipes conseguiu se sair bem no teste. Para isso, em vez de se concentrarem em apenas uma técnica, eles usaram uma combinação das seguintes estratégias:

1 – ACEITAR A IGNORÂNCIA

Testar os conhecimentos no caminho é uma das melhores maneiras de melhorar a capacidade de memorizar algo.

E o mais surpreendente nesta técnica é uma estratégia chamada “geração de erros”: sem nenhum treinamento prévio, os participantes foram obrigados a tentar adivinhar o significado de cada palavra em lituano. “Da primeira vez, eles sempre erravam”, revela Shanks.

Mas estudos psicológicos já mostraram que erros iniciais ajudam a memorizar as palavras. Simplesmente reconhecer sua ignorância prepara sua mente para trabalhar melhor da próxima vez – duplicando a memorização, em comparação a um grupo que não usou a técnica.

Essa estratégia deriva do conceito da “dificuldade desejável” da Psicologia, que torna uma tarefa um pouco mais difícil para atrair a atenção e construir bases mais sólidas para o aprendizado.

2 – SURFAR NAS ONDAS DA MEMÓRIA

Muitos dos participantes do concurso da UCL desenvolveram algoritmos para entender o quanto conseguiam memorizar de cada uma das 80 palavras, para reavivá-las caso começassem a ser esquecidas.

Outra maneira foi confiar na intuição para ajudar a cronometrar o aprendizado – deixando períodos cada vez mais longos entre um teste e outro. Um dos grupos experimentou fazer pequenos intervalos durante a tarefa de memorização. Isso ajudou a impedir que a fadiga tomasse conta.

3 – ESTUDAR DE TUDO UM POUCO

Pode parecer tentadora a ideia de dividir o material em assuntos e ir memorizando-os um a um.

Mas um grupo preferiu simplesmente memorizar palavra por palavra – da mesma maneira que campeões de memória fazem para se lembrarem de uma sequência de cartas, por exemplo.

Se isso parece um pouco confuso, pesquisas sugerem que você acrescente variedade a uma sessão de estudos: é melhor distribuir o tempo de estudo em vários assuntos do que se concentrar em um só tópico.

4 – INVENTAR HISTÓRIAS

Qualquer forma de “elaboração” pode ajudar a reativar as sinapses e lacrar a memória.

Um dos grupos concorrentes no concurso em Londres decidiu que seus participantes deveriam criar uma história com as palavras que tinham que memorizar.

Outra equipes até criou um “palácio da memória”, técnica que consiste em visualizar um ambiente conhecido e atribuir objetos nele às palavras que têm que ser memorizadas.

Essa, aliás, foi a técnica que permitiu ao padre Matteo Ricci aprender chinês – e também é o que ajuda o campeão Ed Cooke a se lembrar de 2.265 dígitos binários em menos de 30 segundos.

Para ele, esses métodos poderiam ser usados não apenas para aprender um novo idioma, mas também para outras disciplinas, como História e Matemática.

Mas como todo estudante sabe, o maior obstáculo ao aprendizado é a distração. E precisaremos de muitos outros concursos entre cientistas e craques da memória até conseguirmos saltar esse obstáculo.

CARIRI EM AÇÃO

Com BBC /Foto: Reprodução google

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