Serei candidato até o fim, mesmo contra Temer, afirma Maia

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a possível candidatura à reeleição de Michel Temer é legítima, mas que, caso esse projeto se concretize, disputará com ele até o fim.

Em entrevista à Folha na véspera do lançamento de sua pré-candidatura para as eleições, nesta quinta-feira (8), ele escolheu o PSDB como seu principal adversário e disse que formar uma chapa com Geraldo Alckmin, hoje, seria, em suas palavras, “uma negligência política”.

O deputado, que fez críticas à atual política econômica, disse que não será garoto-propaganda do Planalto, mas que também não esconderá acertos do governo.

Folha – Aliados do sr. dizem que sua pré-candidatura ao Planalto é só uma forma de angariar força política para entrar na chapa do PSDB. Como responder a essa tese?
Rodrigo Maia –
 Há um caminho no nosso campo que rejeita a polarização entre PT e PSDB e entende que esse ciclo pós-redemocratização acaba com a transição feita pelo presidente Michel Temer. Tenho responsabilidade de construir um projeto para que a gente não entregue o governo para partidos de esquerda.

A rejeição ao PSDB, e o [pré-candidato] Geraldo Alckmin é vítima disso, inviabiliza sua vitória. Representamos um novo ciclo, com a certeza de que compor chapa com o PSDB hoje é participar de um projeto em que entregaremos o governo para aqueles que não governarão da forma que acreditamos.

É um erro compor com o PSDB?
Participar de uma aliança com o PSDB para perder pode ser uma decisão política, mas, neste momento, em que a eleição está aberta, com a rejeição ao PSDB que inviabiliza seu candidato de vencer, não tentar construir outro projeto que represente um novo ciclo seria negligência política da nossa parte.

Hoje o senhor tem 1% das intenções de voto. Acha que vale a pena disputar o Planalto para ser derrotado e ganhar força para a eleição de 2022?
A reeleição foi o grande câncer que o PSDB gerou para o Brasil. O país precisa que as pessoas que queiram construir um projeto possam colocar seu nome na disputa.

É mais importante agora uma vitória política ou eleitoral?
As duas são possíveis. Essa é uma eleição de mudança na geração da política brasileira. Nossa geração tem que se colocar e tem chance de vitória.

O seu principal adversário hoje é Geraldo Alckmin?
Se a situação do PSDB não fosse a colocada hoje, com essa rejeição, seria muito difícil que eu tivesse o apoio dentro do meu partido e de outros partidos que querem construir comigo esse projeto.

Essa pulverização no campo de centro vai até quando?
Sem Lula, é uma eleição menos radicalizada, mas menos previsível também. Nós vamos construir um projeto que vai representar o nosso campo no primeiro turno.

E por que o senhor não inclui o governo do presidente Michel Temer quando fala ‘nós’?
Quando sinalizou que estava preparado para assumir o poder na hipótese de impeachment de Dilma Rousseff (PT), Temer disse que faria uma transição. O governo está fazendo essa transição, da qual o DEM participou. Temos que construir um projeto para um novo ciclo.

Esse governo acaba obrigatoriamente em dezembro?
Se o presidente Temer quiser ser candidato, é um direito legítimo dele. O governo tinha o projeto de fazer a transição, se mudou esse projeto, é um direito que tem.

O senhor não se interessa pelo apoio do Planalto ou do MDB à sua candidatura?
O governo sinalizou claramente que vai tentar viabilizar o projeto de reeleição do presidente. É legítimo. Como o DEM está lançando candidato, é um nome por partido.

E o ministro Henrique Meirelles (Fazenda)?
O que tem?

Se o candidato do governo é Temer, como avalia as articulações do MDB em torno do nome do ministro?
O tal do Palácio do Planalto está trabalhando com esse cenário [de Temer].

A candidatura de Temer é viável mesmo após a autorização para a quebra de seu sigilo bancário e o avanço de algumas investigações contra ele?
É legítimo que todo brasileiro que queira disputar a eleição coloque seu nome.

Se houver uma nova denúncia contra Temer, a Câmara terá a mesma boa vontade de enterrá-la, como das outras vezes?
A Câmara teve responsabilidade para não gerar mais instabilidade no país.

Temer tem popularidade baixíssima. Qual foi o erro do presidente?
Foi aprovar um aumento salarial para 16 categorias, sinalizando que tinha recebido um governo equilibrado do ponto de vista fiscal. A comunicação foi ineficiente. Outro erro foi não pensar políticas econômicas para compensar medidas ortodoxas.

O sr. não está disposto a ser um garoto-propaganda do governo.
Nem posso. No projeto que foi colocado para fazer a transição, tem muitas coisas positivas que eu não tenho problema nenhum de defender.

O presidente do seu partido, ACM Neto, disse que, se a pulverização de centro for longe demais, é possível uma convergência de candidaturas. O sr. vê possibilidade de se unir a um projeto do Planalto?
Ele disse, inclusive, que o PSDB pode dar o nosso vice.

Se Temer for candidato, o sr. vai disputar com ele até o fim?
Se ele for candidato, vou disputar contra ele. Serei candidato até o fim, mesmo com a participação de Temer.

O sr. acha que o governo tem uma dívida com o sr. por tudo o que o fez nos últimos anos?
Não acho que ninguém tem dívida comigo. Não fiz porque era o Michel. Fiz porque tinha convicção de que era melhor para o Brasil eu não gerar uma instabilidade. Mais do que isso: eu tenho o sonho de ser presidente do Brasil, mas nunca manchando meu currículo.

CARIRI EM AÇÃO

Com Folha S.Paulo/Foto: Reprodução Internet

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