O senador Alvaro Dias (Pode-PR), 73, está em seu 42º ano de mandato como político e é, certamente, um dos mais experientes em exercício no país. Pré-candidato à Presidência da República por um partido que ainda não completou um ano e que tem 17 cadeiras na Câmara dos Deputados, ele se apresenta como a “ruptura com o establishment”.
Por telefone, o senador disse à reportagem do UOL que o eleitor brasileiro, na verdade, não quer saber de “outsiders” e que não prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “seria um retrocesso imperdoável”.
Na pesquisa Datafolha presidencial mais recente, divulgada no fim de janeiro, Dias obteve até 6% das intenções de voto, dependendo do cenário, e ficaria fora do segundo turno.
UOL – Qual sua opinião sobre a prisão do ex-presidente Lula?
Alvaro Dias – É um avanço civilizatório. Arraigado na alma brasileira, no inconsciente coletivo havia o conceito de que a justiça no país só alcançava os pobres. E, de uns tempos para cá, desde a Operação Lava Jato, esse conceito foi se alterando. Empresários poderosos, políticos influentes foram presos. Agora, até um ex-presidente da República, na consagração de uma jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que já havia colocado na cadeia centenas de condenados em segunda instância. Seria um retrocesso imperdoável se, em função do interesse de um único brasileiro, o Supremo aceitasse esse retrocesso. Seria uma afronta ao Estado de Direito e ficaria na contramão desse desejo de inaugurarmos uma justiça onde seremos todos iguais.
O senhor está convencido de que foi tudo correto, dentro do que a lei prevê?
Absolutamente tudo correto. Nós tivemos o devido processo legal, o respeito ao processo penal, não houve afronta alguma à legislação vigente no país, as provas elencadas são materiais, testemunhais, documentais, provas cabais, definitivas, arrasadoras. Elas foram, sim, apresentadas através da mídia nos depoimentos dos relatores, tanto em primeira instância quanto em segunda instância. O legítimo direito à defesa foi exercido integralmente.
O que houve, na verdade, foi a tentativa de escamotear a realidade, que é uma tática utilizada pelos condenados, que procuram desqualificar as autoridades judiciárias e advogar a tese de que não houve prova e que não houve o exercício do direito à defesa. Isso é uma mistificação perversa, porque, na realidade, os procedimentos foram absolutamente corretos.
A prisão do ex-presidente Lula muda algo na estratégia de sua campanha ou em suas pretensões eleitorais daqui para a frente?
A Operação Lava Jato é que começou a mudança no cenário eleitoral. Ao contrário do que muitos imaginam, que nós estamos diante de um confronto entre esquerda e direita, nós estamos diante de um confronto entre honestidade e desonestidade, decência e indecência. E parece que os brasileiros se dividem exatamente nesses dois polos. É mais do que na questão ideológica. Isso foi um efeito da Operação Lava Jato, porque a banalização da corrupção foi um grande desserviço que se prestou ao país nos últimos anos. E a Operação Lava Jato reverteu essa expectativa, estabelecendo novos parâmetros para a definição da preferência do eleitor. Imagino que há, sim, aí uma forte influência da Operação Lava Jato no processo eleitoral, e a ausência do ex-presidente complica, obviamente, a esquerda aparelhada.
Aparelhou-se a esquerda com recursos públicos nos últimos anos e esse aparelho perdeu seu líder mor. A substituição desse líder não é fácil, é improvável, e isso certamente vai pulverizar esses votos, que serão distribuídos aleatoriamente e não creio que alguém possa concentrá-los.
A banalização da corrupção foi um grande desserviço que se prestou ao país nos últimos anos. E a Operação Lava Jato reverteu essa expectativa
O senhor acha que não vai haver um nome ou um grupo de partidos que talvez vá herdar esse capital político?
Não. Nenhum nome que possa galvanizar a preferência de todo esse espectro que era liderado pelo ex-presidente, eu não creio. Acho que haverá uma distribuição desses votos.
Além de honestidade e desonestidade, como o senhor mencionou, corrupção também vai ser um tema forte na campanha eleitoral deste ano?
O mais forte ainda será o emprego, as pesquisas indicam isso, que há multidões de desempregados no Brasil. Temos 52 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, e isso é muito sério. O emprego ainda lidera a seleção de prioridades, mas em segundo lugar vem a questão do combate à corrupção. Será uma exigência essencial da campanha. E depois é que nós teremos segurança pública, saúde, mas pela ordem de importância, o emprego e a corrupção.
Na sua campanha especificamente, o senhor pretende se apresentar como anti-Lula? Vai usar a prisão do ex-presidente na sua campanha?
Nesses 15 anos, ninguém combateu mais os governos do que eu no Senado. Isso era diário, o combate. Eu acho que agora é outra fase. A fase da denúncia, da crítica, da contestação forte foi essa que nós vivemos nesses 15 anos. Desde 2003, já nos primeiros meses do governo Lula, do primeiro mandato, eu já denunciava o que ocorreria no país, é só buscar no YouTube os discursos. Agora, eu acho que é outra fase, é a fase construtiva. O país precisa de coesão e rumo. E é nesse campo que eu quero atuar. Propositivo, construtivo, imagino que é isso que a nação espera dos pretendentes ao cargo de presidente da República.
O senhor tem uma carreira longa na política brasileira e atualmente está como pré-candidato à Presidência por um partido novo, que cresceu em cadeiras na Câmara, mas que ainda continua pequeno em relação aos outros. Isso vai demandar mais esforço?
A proposta que eu apresento na campanha é de ruptura com esse sistema político e de governança e só se justificaria num partido nascente. O Podemos não tem um ano, foi lançado no dia 1º de julho de 2017. Ele está distante do establishment, não integra esse quadro partidário de siglas contaminadas. Essa proposta de ruptura só teria sentido quebrando paradigmas, obviamente, e isso só é possível num partido que tem esse perfil. Que ainda não é um partido, é um movimento que poderá se constituir partido se nós tivermos uma reforma política mais competente.
Nós não estamos priorizando as coligações. Exatamente para não comprometer a proposta [do partido]
Alvaro Dias (Podemos), senador e pré-candidato à Presidência
Qual seria, então, o lema desse movimento, pensando nessa proposta de ruptura?
O lema é a refundação da República, que passa pela substituição do sistema político e sistema de governança, por intermédio de um conjunto de reformas, que terão que ser apresentadas ainda no calor das urnas, nos primeiros cem dias de gestão, quando ainda se obtém alto índice de credibilidade e de confiança da população.
O candidato “outsider”, que vem de fora da tradição política, surgiu nas últimas eleições como uma novidade. Não é possível dizer que o senhor esteja desconectado da tradição política brasileira, pela sua experiência e pelos cargos que já ocupou. Como o senhor vai chegar agora com uma proposta nova sendo já alguém conhecido desse cenário antigo e um pouco desgastado atualmente?
Talvez esse seja o grande equívoco de analistas. Obviamente, eu não espero que ninguém reconheça o equívoco, mas quem está afirmando o equívoco é a população, através da pesquisa Datafolha, que apresentou as duas exigências majoritárias da população: passado limpo e experiência administrativa, portanto nada relacionado com a figura de um “outsider”, que chega de outro planeta para salvar o mundo. Nada relacionado com a figura de “outsider” e tudo relacionado, sim, à figura de um político que possa ter tido a experiência positiva e tenha um passado limpo. É isso que diz a pesquisa, que é exatamente a posição dos brasileiros neste momento.
Eu me apresento como alguém que está se desconectando do establishment, alguém que sempre contestou esse sistema. Me coloco como contestador desse sistema há muito tempo, por isso eu só fui governo quando governei o Paraná quatro anos e mais sete meses no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso.
De resto, dos 41 anos de mandato, estou agora no 42º, eu sempre fui oposição, exatamente pelo inconformismo. Inquieto sempre diante da prática política no interior dos partidos. Eu digo que eu conheci esse monstro nas suas entranhas, porque estive nesses anos no interior dele. Por isso que eu tenho autoridade para combatê-lo agora, porque sempre o combati. Não é uma proposta eleitoreira.
Eu digo sempre que, em 2010, eu imaginava que alguém viesse com a proposta de ruptura, e não veio. Em 2014, da mesma forma. Ao contrário, esse sistema foi se consolidando e ganhando adeptos e sendo transplantado para estados e municípios, distribuindo a incompetência e a corrupção. Por essa razão que eu avalio que a experiência administrativa positivamente comprovada, no meu caso, fui governador, e a experiência política de todos esses anos me autorizam a dizer que é possível, sim, propor e substituir esse sistema.
O senhor acha que vai ser possível se apresentar como essa pessoa que está se distanciando do establishment sem fazer coligações, sem se associar a outras siglas?
Nós não estamos priorizando as coligações. Exatamente por isso, para não comprometer a proposta, já que os políticos, em boa parte, sobrevivem à sombra desse sistema. A substituição dele significará a exclusão de muitos do mundo da política. Por isso, nós não temos facilidade em coligação, mas estamos trabalhando coligação menor para ampliar um pouco o nosso tempo de TV e de rádio, e temos esperança de concretizar uma coligação que possa nos dar um tempo razoável para fazer o nosso proselitismo.
Já existem nomes e siglas que o senhor consideraria?
Já. Foi até divulgado há algum tempo, e não fomos nós que divulgamos, foi o próprio partido. O PRB (Partido Republicano Brasileiro) divulgou que estava em entendimento conosco para uma aliança. Isso tudo se interrompeu durante a janela partidária, mas certamente teremos que retomar isso brevemente. Temos tempo até julho, até as convenções.
Se o senhor tivesse que dar apoio em um segundo turno para algum candidato, caso não vá ao segundo turno, quem o senhor apoiaria?
Olha, eu não cogito. Não precisa fazer análise de hipóteses, porque eu descarto a hipótese de não estar no segundo turno. Nós estaremos no segundo turno. Eu não sei quem vamos enfrentar, mas estaremos lá. Pelo menos essa é a minha convicção. Eu aposto nessa possibilidade e não discuto outra alternativa.
O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa anunciou sua filiação ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), mas não falou ainda em candidatura. Se ele vier a ser candidato à Presidência, isso muda alguma coisa?
Passa a ser a um candidato competitivo. Obviamente, valoriza-se esse confronto. Tem que esperar para ver.
CARIRI EM AÇÃO
Com UOL/Foto: UOL
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