Henrique Meirelles ainda ocupava o gabinete principal do Ministério da Fazenda quando, em meados de março, escutou um conselho que o fez reagir: “Isso já passou, ou vou ser presidente ou não vou entrar nesta disputa”.
Um dos quase 20 interlocutores que ouviu antes de decidir concorrer à sucessão de Michel Temer recomendou que ele pleiteasse uma vaga mais simples, no Senado. Recebeu a negativa pronta.
A dúvida não era o cargo, mas se valeria a pena investir toda sua energia —e parte de sua fortuna pessoal— em uma campanha presidencial nebulosa, esgarçada na radicalização entre direita e esquerda no país.
Eva, mulher de Meirelles, foi fundamental para dizer que sim. E, a partir dali —era início de abril—, ele passou a encarar o que diz ser sua última oportunidade política: aos 72 anos, tornou-se pré-candidato do MDB ao Planalto e tem investido alto para tentar tirar sua campanha do imobilismo.
Empacado há meses com 1% das intenções de voto, segundo as pesquisas do Datafolha, o ex-ministro da Fazenda montou uma equipe robusta.
Seu time tem dois marqueteiros, um analista de pesquisas, dois assessores de —imprensa um terceiro que atua somente sob demanda—, um coordenador de agenda, um de programa de governo e até uma fonoaudióloga, para melhorar sua criticada dicção.
Segundo aliados, os gastos com a pré-campanha chegam a cerca de R$ 250 mil por mês, pagos com recursos próprios.
Quando viaja pelo país —Meirelles tem ido a diretório estaduais do MDB para tentar vencer resistências internas a seu nome—, vai de jatinho fretado e leva pelo menos dois assessores por trecho, com diárias e alimentação no orçamento.
Questionada pela reportagem, a campanha diz que as despesas mensais são inferiores a R$ 250 mil, mas não detalha valores.
Auxiliares de Meirelles afirmam que, a partir de agosto, quando a disputa começa oficialmente, com horário eleitoral na TV, ele deve gastar “uma fração” dos R$ 70 milhões permitidos para o primeiro turno das eleições presidenciais.
Esse é o teto fixado pela Justiça Eleitoral para gastos nas campanhas à Presidência.
O ex-ministro sabe —e diz estar preparado para isso— que vai depreender remessas na casa dos milhões, se necessário, inclusive, atualizando os contratos dos publicitários.
Ser um candidato muito rico é um de seus principais trunfos para convencer o MDB de que é o nome ideal do partido para a sucessão de Temer.
Somente em 2016, por exemplo, quando ainda não era ministro do governo, Meirelles faturou mais de R$ 200 milhões com consultorias.
Ele não causa prejuízo à sua sigla, pelo contrário.
Pagando-se integralmente, permitirá o investimento do dinheiro dos fundos partidário e eleitoral —de mais de R$ 300 milhões— exclusivamente nas campanhas de deputados, senadores e governadores do MDB.
Para seu time de comunicação, o ex-ministro contratou Chico Mendez, responsável pela campanha de Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas em 2014, e de Henrique Capriles, opositor a Nicolás Maduro na Venezuela na disputa de 2012.
Recentemente, juntou-se à equipe Paulo Vasconcelos, marqueteiro de Aécio Neves (PSDB) em 2014.
Renato Meirelles, da consultoria Locomotiva Pesquisa e Estratégia, foi chamado para analisar pesquisas, uma obsessão do pré-candidato.
Antes de decidir concorrer em outubro, ele encomendou pelo menos seis levantamentos qualitativos, que modularam seu discurso de nome “acima dos partidos” e “resolvedor de crise”.
O problema é que, mesmo assim, sua campanha não decolou. Atrelado à imagem de Temer, o presidente mais impopular da história —com 82% de reprovação, segundo o Datafolha—, e com os números da economia ainda patinando, o ex-ministro precisou dobrar a aposta.
Como mostrou a Folha nesta semana, a contratação de Vasconcelosmarcou uma mudança no tom de sua campanha, agora mais agressiva, com ataques diretos aos adversários mais bem colocados que Meirelles nas pesquisas: Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT).
Na quinta-feira (28), ele deu início à ofensiva com a divulgação, em suas redes sociais, de vídeo em que atacava Ciro e explorava declarações de Bolsonaro contra as mulheres.
No filme, Bolsonaro aparece em uma cena de 2013 em que xinga a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) de “vagabunda”. Em seguida, outra imagem vem à tona, em que ele chama uma jornalista de “analfabeta” e “idiota”.
Contra Ciro, considerado um político de personalidade explosiva, foi incluída uma cena em que o ex-ministro é mostrado gritando que “Lula é um merda”. Na voz de um locutor, Meirelles é vendido como o homem do diálogo, da calma e da experiência.
A aposta do ex-ministro é no horário eleitoral, a partir de 15 de agosto, o que justificaria a contratação de uma equipe experiente e robusta.
Com 86 segundos no rádio e na TV, ele acredita que poderá finalmente crescer nas pesquisas. Deve citar Temer pouco (ou quase nada) e investir na imagem de Lula.
O discurso é o de que, como presidente do Banco Central do governo do petista, ele foi o responsável pelos bons índices econômicos da época.
Até lá, porém, Meirelles precisa conseguir o apoio do MDB para oficializá-lo candidato e amenizar a rejeição ao partido para a formação de alianças, além de transformar todo o investimento em intenção de voto, o que parece ser seu desafio mais hercúleo.
CARIRI EM AÇÃO
Com Uol/Foto: Reprodução Interne
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