Em menos de um mês, um documentário que sobrevoa as questões que envolvem o crime de homicídio vai ganhar vida. Com 80% já concluído, a estudante de Arte e Mídia, pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Ana Calline, decidiu sair do seu lugar comum e mergulhar no mundo de pessoas presas pelo crime de homicídio, através do documentário “Um dois um: crônicas de homicídio”.
“Ele expõe questões prisionais, sociais e psicológicas, estando centrado no caso de uma detenta, devido à complexidade subjetiva encontrada nele. Além do mais, busca retratar as formas de isolamento dessas pessoas que, muitas vezes, deságua na solidão”, explicou Ana.
A ideia da gravação começou através da música. Inspirada com por canções da banda Racionais Mc’s, começou a consumir produções de temática prisional, pesquisar e estudar. “Percebi que as questões em torno de um assassinato poderiam se tornar o meu trabalho de conclusão de curso”, pensou. E executou.
O objetivo era levantar análises e questionamentos sobre o crime, a função social da pena e o sistema prisional, dando visibilidade social para a população carcerária, pra sua família e família das vítimas.
Diante disso, foi além das arestas. Visitou penitenciárias, casas de famílias e ouviu fontes oficiais. Está narrando, em documentário, três lados possíveis dos crimes: o suspeito, a família do suspeito e a família da vítima. “Desse modo foi possível driblar a visão unilateral sobre o crime, que está pautada de maneira formal através de leis e estatísticas”, esclareceu.
História tem frieza e brutalidade como foco principal
Creuza Bernardo, 49 anos e a vida marcada pela morte. A detenta, que cumpre pena por homicídio qualificado na unidade feminina do Presídio do Serrotão, matou brutalmente todos os quatro filhos. Ana Calline conta que o modus operandi da detenta era semelhantes a casos de serial killers.
Para ouvir essa história, viajou 266 quilômetros de distância, de Campina Grande até a cidade de Tavares, no Sertão paraibano. Sete horas de viagem em busca da mãe de Creuza, Maria Bernardo, não apenas mãe da acusada, mas também avó das vítimas.
“Uma parte da filmagem com Creuza já foi feita, bem como a produção de vídeos demonstrativos sobre o tema, contando com a participação de profissionais do direito, psicologia e mídia”, detalha.
O documentário conta, ainda, com participações especial e importantes: mães das vítimas do estupro coletivo na cidade de Queimadas. “A intenção é dar suporte temático às questões tratadas no documentário”, explicou. Alguns vídeos, assim como outras postagens informativas, são postados no instagram e página oficial do projeto.
No documentário, Ana também ouviu pessoas da área criminal, como delegados, advogado e agentes. “Todos que entrei em contato mostram-se bastante entusiasmados com a ideia, pois reconhecem que estas questões não costumam ser estudadas de forma inovadora, além do fato que eles convivem cotidianamente com os problemas sociais existentes no cenário penitenciário”, ressaltou. Estudante premiada
O documentário de Ana Calline faz parte do seu trabalho de conclusão de curso de Arte e Mídia, pela UFCG. O produto deve ser concluído entre julho e agosto, no Cine-Teatro São José, em Campina Grande. A data oficial será divulgada nas redes sociais do projeto.
No entanto, essa não é a primeira vez que ela se destaca. Além de já ter feito parte da direção de alguns projetos ficcionais, teve o curta metragem “Majestic Hotel” e o video clipe “Bakamarte-Moça” premiados no Festival Comunicurtas da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). O primeiro por melhor trilha sonora e o segundo por melhor vídeo clipe por júri popular.
“Acredito que a maior lição que tiro de tudo é o fato de deixar o julgamento precipitado de lado. Falei com pessoas que cometeram os mais variados crimes, de diversas formas, mas me proponho a olhar algo além disso”, declarou.
CARIRI EM AÇÃO
Com G1/Foto: G1
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