Pimentel: ‘Nome de Ciro pode ser considerado pelo PT mais pra frente’

Cercado por uma profunda crise fiscal e por denúncias de corrupção, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), aposta na vitória de um presidenciável de esquerda para melhorar a situação do estado, que pretende administrar por mais quatro anos. Seu principal adversário será o ex-governador Antonio Anastasia (PSDB).

Se o registro da candidatura do ex-presidente Lula (PT) não for aceito, Pimentel avalia que seu partido deve considerar apoiar Ciro Gomes (PDT).

Não temos tido apoio do governo federal para nada. O estado está numa situação de completo desequilíbrio orçamentário. O grande problema é a Previdência pública. Sem ela, teríamos superávit de R$ 7 bilhões no ano passado. Com ela, há déficit de R$ 9 bilhões. Agora, falar que cortar despesa equilibra as contas… O candidato que disser isso não está falando a verdade.

Quais medidas o sr. tomou?

Estamos tomando. Só não tomamos mais porque a gente não consegue avançar com o governo, esse desastre chamado Michel Temer [MDB]. Fomos vítimas de um cerco brutal do governo. Estamos tendo que enfrentar esse déficit com os recursos disponíveis. E aí sou obrigado a parcelar salários.

O sr. tenta empréstimos via estatais e é travado na Justiça ou na Assembleia. Vai insistir?

Temos que insistir na estratégia de obter recursos extraordinários, que são legais.

O sr. diz que reduzir gastos não é suficiente, mas já recebeu dois alertas do Tribunal de Contas de que ultrapassou limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não cabe cortar despesas?

Como reduzir a despesa com pessoal? Queria que o TCE dissesse. Alguém demagogicamente pode dizer para extinguir cargos de confiança, cujo gasto é de R$ 17 milhões ao mês. A folha é de R$ 2,4 bilhões. Quando vejo pré-candidatos fazendo esse tipo de afirmação, me dá pena.

Mais quatro anos de Pimentel são mais quatro anos de salário atrasado?

Não, porque vamos conseguir receitas extraordinárias. Dia 31 de dezembro acaba o pesadelo Temer. Tenho certeza que o resultado da eleição tenderá para para o campo democrático-popular, que é onde eu me situo.

A três meses da eleição, o sr. não tem alianças definidas. Há isolamento?

Temos o PC do B, estamos em negociação avançada com PR, PV. Eu não me surpreenderia se o MDB fizesse aliança conosco apesar desses últimos desentendimentos. O MDB de Minas não é do Temer, são do nosso campo.

Já definiu vice?

Tenho carinho extraordinário pela Jô Moraes [PC do B], mas eu sei que ela quer o Senado. O MDB tem grandes nomes, o deputado Adalclever Lopes, presidente da Assembleia, é um nome qualificado para qualquer cargo. O PR tem o filho do Zé Alencar, o Josué, nosso amigo.

Houve boatos de que Dilma ou Josué disputariam em seu lugar.

É medo que eles têm de que eu seja candidato. Tenho uma notícia ruim para dar a eles: eu sou o candidato. E serei muito competitivo. Temos um governo que está mantendo o estado funcionando.

omo avalia o pedido de impeachment contra o sr. aceito na Assembleia?

É um incidente da vida parlamentar.

O sr. conversou com o presidente Adalclever sobre isso?

Não, aqui em Minas Gerais a gente não fala de assuntos polêmicos, a gente conversa de coisas mais amenas.

Teve algum acordo para o impeachment não avançar?

Não, acho que parou porque não tinha objeto. Se fosse levado a voto, seria derrotado.

Se continuar governador, a pauta da Assembleia vai continuar trancada?

A oposição fica mais valente na época das eleições, depois ela costuma aquietar.

A vinda da ex-presidente Dilma para disputar o Senado atrapalhou a aliança com o MDB?

Foi uma surpresa. Em um primeiro momento provocou um certo abalo nas conversas, mas logo se acomodou. Ela está muito bem nas pesquisas e vai nos ajudar. Essa é uma eleição de lado: os que estão com Lula, preocupados em recuperar o modelo distributivista, e outro lado dos golpistas, contra o direito dos trabalhadores.

O senador Aécio Neves (PSDB) está fragilizado em Minas, como vê isso?

Cada um responde pelo seu problema. Deixa as dificuldades deles lá com eles.

O sr. concorda em manter a candidatura do Lula a todo custo?

Eu não sei se ele está condenado, não transitou em julgado. Se há um questionamento, ele tem direito de registrar a candidatura.

O STF já interpretou a Constituição para adiantar a prisão.

Disse, e acho até que não deveria ter dito, que pode começar a cumprir pena a partir da segunda instância. E como a presidente Cármen Lúcia ainda não pautou a discussão de mérito, isso não está definido. Acredito que o Supremo não fará -agora vou cometer um uma ousadia- essa barbaridade.

O sr. é contra escolher um plano B?

Não está na hora disso. Se Lula for impedido, lá na frente, vamos ver o que fazer. Essa eleição vai ter um candidato com apoio explícito de Lula e acho que será eleito. Já tem a Manuela D’Ávila (PC do B), o Guilherme Boulos (PSOL), o Ciro Gomes (PDT). Pode ser que tenha mais um ou pode ser que um desses seja apoiado pelo presidente Lula.

Ciro diz que é difícil que o PT o apoie, mas o sr. diz que isso pode acontecer.

É meu amigo e um quadro político fundamental hoje. Se ele vai ter ou não o apoio do PT, a discussão não chegou nesse momento ainda. Lá na frente, se isso tiver posto, tenho certeza que o nome dele pode ser considerado.

O sr. é acusado na Operação Acrônimo por corrupção e caixa dois. Hoje são cinco denúncias, uma aceita. Como responde?

Pode até ser que sejam mais. Aquilo é uma armação do começo ao fim contra mim. Tudo ilegal, cheio de irregularidades. Depois de três anos e meio de investigação acintosa, arbitrária e perversa não tem nada contra mim. Temos depoimentos, inclusive de membros da Polícia Federal, dizendo claramente a armação que havia lá dentro.

O fato de os processos terem descido para a primeira instância é bom ou ruim?

Me dá o mesmo direito que qualquer outro cidadão brasileiro tem. Não tem benefício. O [Sergio] Moro está trucidando o presidente Lula e é juiz de primeira instância.

PERFIL

Fernando Pimentel, 67.

É formado em economia pela PUC-MG. Lutou contra a ditadura militar como guerrilheiro e no movimento estudantil; ficou três anos preso. Foi prefeito de Belo Horizonte (2001 a 2009) e ministro do Desenvolvimento (2011 a 2014), no governo Dilma Rousseff (PT). Foi eleito governador de Minas em 2014, após um período de 12 anos de gestão do PSDB, com Aécio Neves e Antonio Anastasia.

CARIRI EM AÇÃO

Com Folhapress/Foto: Reprodução google

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