A quatro dias do segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou carta em que pede a união dos democratas em torno da candidatura de seu afilhado político, Fernando Haddad (PT), e diz que “o desespero” não pode levar o Brasil a uma “aventura fascista”.
Preso há quase sete meses em Curitiba, o ex-presidente não cita nominalmente Jair Bolsonaro (PSL) como o foco dessa ameaça, mas faz um chamado aos atores políticos do “campo democrático” e afirma que, se há divergências entre eles, é preciso enfrentá-las “por meio do debate” para derrotar o adversário do petista.
“Se há divergências entre nós, vamos enfrentá-las por meio do debate, do argumento, do voto. Não temos o direito de abandonar o pacto social da Constituição de 1988. Não podemos deixar que o desespero leve o Brasil na direção de uma aventura fascista, como já vimos acontecer em outros países ao longo da história”, escreveu Lula em carta divulgada nesta quarta-feira (24).
Lula afirma ainda que a reta final do segundo turno, na qual Bolsonaro lidera as pesquisas com vantagem de pelo menos 14 pontos sobre Haddad, segundo pesquisa Ibope desta terça (23), aponta para a “ameaça de um enorme retrocesso” e que é preciso se unir para tentar vencer o capitão reformado.
“É o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad, para retomar o projeto de desenvolvimento com inclusão social e defender a opção do Brasil pela democracia”, diz o ex-presidente, que completa pedindo voto para Haddad.
“Neste momento, acima de tudo está o futuro do país, da democracia e do nosso povo. É hora de votar em Fernando Haddad, que representa a sobrevivência do pacto democrático, sem medo e sem vacilações.”
Desde o início do segundo turno, o candidato do PT ao Planalto tenta construir uma frente democrática contra Bolsonaro, com políticos como Ciro Gomes (PDT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Joaquim Barbosa (PSB), mas não conseguiu apoio explícito de nenhum deles.
Marina Silva (Rede) e o PDT, de Ciro, declararam “apoio crítico” à candidatura de Haddad e pedem que o PT reconheça erros.
Na carta, Lula faz uma espécie de reflexão sobre o sentimento antipetista que impulsionou a candidatura de Bolsonaro -e de diversos governadores e parlamentares apoiados por ele pelo país-, mas não faz nenhuma autocrítica sobre os equívocos do PT e apenas lista realizações de seu governo -e de sua sucessora, Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016- como forma retórica de explicar o ódio ao partido.
“Minha maior preocupação é com o sofrimento do povo, que só vai aumentar se o candidato dos poderosos e dos endinheirados for eleito. Mas fico pensando, todos os dias: por que tanto ódio contra o PT?”, questiona.
“Será que nos odeiam porque tiramos 36 milhões de pessoas da miséria e levamos mais de 40 milhões à classe média? Porque tiramos o Brasil do Mapa da Fome? Porque criamos 20 milhões de empregos com carteira assinada, em 12 anos, e elevamos o valor do salário mínimo em 74%? Será que nos odeiam porque fortalecemos o SUS, criamos as UPAS e o SAMU que salvam milhares de vidas todos os dias?”, completa.
Lula voltou a dizer que foi condenado e preso injustamente e que, em seu governo, construiu relação “de confiança” com os mais pobres, mas também “com os setores mais responsáveis da sociedade brasileira”.
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