Dicas para motoristas antes de pegar a estrada para viagens de carro

Engarrafamentos, pneu furado sem ajuda por perto ou o risco da chamada pane seca sem que haja postos de abastecimento na vizinhança – infração que rende multa de R$ 130,16 e quatro pontos na carteira de habilitação.

Para fugir de alguns desses problemas nas estradas em época de férias, a chave é o planejamento. Conhecer o trajeto, mapear pontos de apoio, fazer revisão de itens de segurança e mecânica do carro são algumas das dicas.

A reportagem conversou com o capitão Cláudio César Capelari, porta-voz do Comando de Policiamento Rodoviário da Polícia Militar de São Paulo, e com Sidnei Schmidt, diretor do Icetran (Instituto de Certificação e Estudos de Trânsito e Transporte) para obter dicas do que é preciso saber antes de pegar a estrada:

Como os motoristas podem escolher os melhores dias, horários e rotas para viajar?

A recomendação é evitar os horários de pico no ponto de partida indicados por concessionárias de rodovias e Polícia Rodoviária. No feriado prolongado de Natal, por exemplo, sair no fim da tarde de sexta-feira (21) pode ser um problema, diz a Polícia Rodoviária Federal do Estado de São Paulo.

O Icetran recomenda que se evite viajar à noite e, se for sair de madrugada, tenha pleno conhecimento da rota. É bom evitar horários de trânsito intenso e de mudança de luz, como amanhecer e anoitecer. O professor Sidnei Schmidt diz que esses horários são perigosos porque a visão está se acostumando com a mudança.

Ele ainda alerta para tomar cuidado com viagens no fim de semana, com cidades que são atravessadas por rodovias, onde pode haver movimento de saída de casas noturnas.

As Polícias Rodoviárias dos estados costumam ter informações em seus sites sobre horários de maior movimento em cada região, assim como as concessionárias de rodovias.

Que tipo de informação os motoristas devem buscar antes de viajar?

É importante pesquisar sobre a rota por onde vai viajar, especialmente se o motorista estiver passando por ela pela primeira vez. Sites de órgãos responsáveis pelas estradas costumam ter mais informações.

O motorista também deve mapear postos de abastecimento, locais de socorro e o telefone disponível para emergências, locais para eventuais problemas mecânicos e de atendimento de saúde, saber pontos de base da Polícia Rodoviária (federal e estadual).

A distância limite para que um motorista permaneça na direção é de 400 km. Depois disso, o recomendado é que ele faça uma pausa antes de seguir. Por isso, também é importante planejar os pontos de parada no caminho.

Quais os principais problemas mecânicos enfrentados nesta época do ano?

Segundo o diretor do Icetran, em função das condições da maior parte das rodovias no Brasil, é muito comum que buracos estourem pneus ou aros. Para diminuir as chances desse problema, é importante que os pneus estejam bem calibrados. Isso também ajuda a economizar combustível.

Além disso, é importante observar que muitas montadoras passaram a adotar um pneu de estepe que não é o mesmo tradicional do carro. Eles podem rodar, no máximo, por 80 km. Por isso, é importante conhecer a rota e saber onde vai parar.

Com o calor intenso do verão, vale cuidado redobrado com o sistema de arrefecimento do veículo, de acordo com capitão Capelari. Deixar o reservatório de água sempre nas condições indicadas pelo fabricante, fazer limpeza do radiador, evitar problemas de lubrificação, com a troca de óleo sempre dentro da quilometragem prevista, pode ajudar na eficiência do carro.

O que fazer em caso de pane seca?

A frota de carros atual no Brasil não é mais tão antiga, e certos problemas são mais raros. Mesmo assim, Capelari indica que sempre se tenha uma ideia da distância entre os postos de abastecimento mais próximos.

A pane seca é infração no Código Brasileiro de Trânsito. Ela pode acarretar multa de R$ 130,14 e perda de quatro pontos na CNH. Se eventualmente ocorrer, o motorista deve estacionar em local seguro e desembarcar todos os passageiros do veículo. Por telefone ou por meio de apoio disponíveis, chamar ajuda para que o veículo seja abastecido até o posto de combustível mais próximo.

Áreas de concessão de rodovias costumam ter serviços de guincho. “Mas isso é em situações excepcionais, até porque a finalidade do serviço de guinchamento é para pane mecânica”, explica Capelari.

Que tipo de manutenção e checagem no carro é recomendável antes de pegar estrada?

Para manutenção e checagem de itens de segurança é importante sempre buscar alguém de confiança, seja uma concessionária autorizada seja oficina mecânica, segundo Schmidt.

O professor explica que é importante que o local consiga levantar o veículo para verificar eventuais ranhuras nos pneus, se o cano de descarga está bem fixado, além da condição do protetor de óleo.

Vale ainda prestar atenção às condições de pastilhas de freio, sistemas de iluminação e sinalização, correias, radiador, nível de óleo do veículo, filtros de ar e óleo e calibragem dos pneus.

Equipamentos obrigatórios internos e externos – como limpadores, macaco, extintores, buzina – também devem estar em condições de uso.

Quais os pontos de atenção antes de pegar a estrada?

Além da manutenção do veículo em dia, é importante que o motorista esteja com a sua documentação e a do veículo atualizadas. Além disso, a lei passou a exigir que os documentos apresentados sejam originais, não permitindo mais cópias.

Todos os ocupantes, mesmo quem viaja no banco de trás, devem estar com cinto de segurança. Crianças têm de usar cadeirinhas, que devem estar bem fixadas. É importante também garantir que as bagagens estejam bem fixadas. A tampa do porta-malas não pode ter objetos, para evitar problemas em caso de frenagem brusca.

Em caso de paradas de emergência, sempre achar local seguro, desembarcar todos os passageiros do carro e ligar pisca-alerta.

Quais as infrações mais comuns nesta época e como evitar?
Segundo o capitão Capelari, só em 2016 foram registradas 2,7 milhões de infrações nas estradas de São Paulo. As mais comuns são ultrapassagem em local proibido, uso de substâncias psicotrópicas e excesso de velocidade.
Ainda há negligência quanto ao uso do cinto de segurança, diz ele, e com o transporte inadequado de crianças.

Quais mudanças recentes na legislação merecem atenção?

Uma alteração aprovada em 2017 e importante é quanto ao transporte de carga no teto do veículo, aponta o Icetran. A carga não pode ultrapassar 40 cm de altura, nem o tamanho do teto em largura e comprimento. A única exceção é para o transporte de bicicletas, que podem ser colocadas de pé.

O transporte de bicicletas na parte de trás do carro também foi regulamentado: elas não podem cobrir a placa do veículo. Caso isso ocorra, é obrigatório o uso de régua de sinalização e de segunda placa traseira de identificação fixada a ela ou à estrutura do veículo.

Capelari lembra ainda que a lei 13.546/2017, alterando dispositivos do código de trânsito, trouxe alteração significativa quanto a alguns crimes. Aumento da pena para motorista que atropela outras pessoas, enquanto embriagado (antes era de dois a 4 anos, agora é de 5 a 8), e só o juiz pode arbitrar a fiança.

A lei também aumentou pena prevista para lesão corporal culposa e incluiu manobras no chamado crime de racha (participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística).

Desde 2016, o uso de farol aceso baixo durante o dia  é obrigatório em todas as estradas do país. Caso o motorista seja flagrado com eles desligados, isso pode acarretar em multa de R$ 85 e perda de quatro pontos na carteira.

O que fazer caso o motorista tenha problemas e fique com o carro parado na estrada?

A primeira coisa a fazer, segundo o código de trânsito, é sinalizar o local com o triângulo, obrigatório entre os itens do veículo. Ele deve estar a 30 metros de distância do automóvel, para garantir uma margem de segurança e que outros veículos não venham a colidir.

O carro nunca pode ficar parado sobre a via. Todos os ocupantes do veículo devem desembarcar e encontrar um local seguro, longe da faixa de rolamento e prestando atenção ao fluxo, pelo risco de atropelamento. O pisca-alerta deve estar ligado, mas o carro deve estar parado.

Em situações extremas, caso o motorista não tenha o triângulo, pode ser usada vegetação para marcar a via e avisar outros motoristas.

O que o motorista pode fazer para tentar garantir sua segurança, tanto para evitar acidentes como assaltos?

A recomendação de Schmidt é que se faça o trajeto sempre de dia, com planejamento de locais de parada e onde fazer pernoite. O ideal é que o motorista tente ficar o menor tempo possível parado, acione o socorro imediatamente.

Caso o local tenha risco acentuado, ele diz, o motorista deve chamar um transporte alternativo e deixar o veículo para que o senhor venha depois.

Capelari indica que se entre em contato com serviços de segurança caso se perceba alguma coisa suspeita. “O que nós percebemos é que muitas pessoas param em lugares que não são apropriados, expondo-se a riscos desnecessários. Ladrão observa dois critérios: facilidade e oportunidade”, diz.

 

FolhaPress