Com pior avaliação no Nordeste, Bolsonaro ignora região em viagens desde a posse

Prestes a fechar o quarto mês de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) ignorou o Nordeste nas viagens realizadas desde que tomou posse do cargo. No período, foram mais de cem agendas públicas divulgadas pelo Planalto, que incluem quatro missões oficiais no exterior.

O Nordeste concentra a maioria dos entrevistados que, em amostra feita pelo Ibope e divulgada na quarta-feira (24), considera o governo “ruim ou péssimo”. A pesquisa aponta que apenas 25% avaliam a gestão como “ótima ou boa” –dez pontos percentuais abaixo da média da população brasileira e a pior avaliação entre as regiões.

O levantamento foi realizado entre os dias 12 e 15 de abril, com 2.000 pessoas, em 126 cidades. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

A região também é considerada fundamental no contexto da tramitação da reforma da Previdênciana Câmara. Isso porque muitos parlamentares da bancada nordestina demonstram “desconforto”, na avaliação da líder do governo no Congresso, a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP), com os pontos mais polêmicos do texto da reforma.

“Nós sabemos que alguns pontos causaram desconforto para bancadas do Norte e Nordeste. O governo está sensível. Os pontos que mais apertam o calo de boa parte dos parlamentares é a questão do BPC [Benefício de Prestação Continuada] e [aposentadoria] rural”, disse.

Bolsonaro já esteve no Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo), no Sul (Foz do Iguaçu-PR), no Norte (Macapá-AP), e despacha diariamente no Palácio do Planalto, em Brasília, na região Centro-Oeste. Ou seja, o Nordeste é a única região brasileira não contemplada até agora.

Além disso, o mandatário já realizou viagens a Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial; a Washington, onde encontrou o presidente americano Donald Trump; ao Chile, para fazer parte das discussões sobre o lançamento do Prosul; e a Israel, que desponta como uma das principais parcerias internacionais do governo Bolsonaro.

Parlamentares nordestinos analisam dados

Deputados do Nordeste ouvidos pela reportagem entendem que um dos principais fatores para a má avaliação de Bolsonaro no local é o desemprego e a falta de renda. A região foi a que mais perdeu empregos no país neste ano. Foram fechadas 23.728 vagas com carteira assinada em março.

Na região, o partido de Bolsonaro elegeu apenas cinco quadros. Procurado, Julian Lemos (PSL-PB) respondeu apenas “nada a declarar”. O UOL tentou contato com mais dois deles, entre quarta-feira (24) e quinta-feira (25), mas não obteve retorno.

Para o deputado cearense José Guimarães, vice-líder do PT, a má avaliação é reflexo da campanha de Bolsonaro, feita “no escuro”, segundo ele.

“Bolsonaro foi eleito apenas com o discurso de ordem. Mas o governo é uma verdadeira desordem. Não tem programa, não tem nada. O governo está em guerra consigo mesmo, com deputados, com a oposição. O governo perdeu a credibilidade antes do tempo”, disse o petista.

Guimarães considera que Bolsonaro está se desgastando no país todo por não apresentar melhorias na qualidade de vida da população.

“Vai lá fazer o quê? Cadê o emprego? Cadê o salário? Cadê a questão da segurança? O Nordeste está abandonado. Então o que ele vem fazer no Nordeste? Eu acho que o Bolsonaro tem até medo de passar por lá”, declarou.

Na quinta, o porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, foi questionado pelo UOL sobre a má avaliação do governo no Nordeste. Ele respondeu que Bolsonaro não havia feito “comentários pontuais” em relação ao estudo do Ibope e que, “com muita veemência”, identificava a amostra como uma “fotografia de momento”.

“Pesquisas são fotografias de momento e já de algum tempo ele as vê com certa necessidade de melhor aprofundamento”, ponderou Rêgo Barros.

A Secretaria de Comunicação da Presidência também foi procurada para comentar o fato de Bolsonaro ainda não ter viajado ao Nordeste. Em nota, o Planalto informou que não se pronunciaria sobre o assunto.

Na eleição do ano passado, o Nordeste foi também a única região do país onde Bolsonaro não superou o adversário, Fernando Haddad (PT), no segundo turno. O pesselista obteve 30,3% dos votos válidos contra 69,7% do oponente.

UOL