O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou na manhã deste sábado (31) não saber do paradeiro ou do estado de saúde do policial militar aposentado Fabrício Queiroz, envolvido em um escândalo financeiro junto ao senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ).
“Eu não sei do Queiroz, cara. Eu não sei do Queiroz”, afirmou, ao deixar o Palácio da Alvorada, em Brasília, em direção ao regimento de polícia montada, acompanhado de sua filha mais nova, Laura. As declarações foram as primeiras sobre o assunto dadas após a revista Veja publicar reportagem informando do paradeiro de Queiroz.
“Não existe telefonema para ele, nada, não sei onde ele está. Parece que a Veja descobriu, como se ele tivesse foragido. E pelo que eu sei ele já prestou depoimento por escrito. O que eu fiquei sabendo também exime meu filho de culpa. [Queiroz] Responde pelos atos dele.”, declarou o presidente.
A reportagem de capa da revista publicada nesta sexta (30) conta detalhes da rotina de Queiroz, principalmente com enfoque em suas idas ao Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein -que oferece consultas e serviços como radioterapia e quimioterapia.
Queiroz foi visto no local desacompanhado de familiares ou seguranças, de boné preto e óculos de grau.
De acordo com a revista, Queiroz vive no Morumbi, bairro da zona sul de São Paulo onde fica o hospital Albert Einstein, para onde se desloca de táxi ou carros de aplicativo.
Foi no mesmo local que ele foi visto publicamente pela última vez, em 12 de janeiro, quando um vídeo em que ele dançava no hospital viralizou.
Bolsonaro também justificou as operações de compras e vendas de imóveis feitas por Flavio e que são alvo de investigação pelo Ministério Público do Rio de Janeiro -o inquérito está suspenso após decisão do ministro Dias Toffoli, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).
Segundo o MP do Rio, a empresa MCA Exportação e Participações teria adquirido do senador 12 salas comerciais em construção 45 dias depois de Flavio ter firmado escritura para obter os direitos sobre sete desses imóveis.
“Vou repetir para vocês, R$ 1 milhão o Queiroz tinha dado para ele [Flavio]. Está bem claro isso. Quem pagou essa conta para a construtora foi a Caixa Econômica Federal, documentado, passa por ele porque a Caixa comprou a dívida dele”, disse.
“E ele, em vez de dever para a construtora, passou a dever para a Caixa, essa é uma operação normal. Resolveu? Não tem R$ 1 milhão.”
Ele disse que Flavio vendeu os imóveis depois de pagar “15%, 20%” do valor dos imóveis comprados na planta. “Passou para a frente, o que o MP do estado levou em conta?”, afirmou.
“Ninguém compra um imóvel na planta à vista, porque o cara pode levar um calote.”
Segundo ele, o fato de Queiroz ter feito depósitos de R$ 2.000 deve-se a uma restrição bancária.
“O depósito no envelope lá, o limite é R$ 2.000, não é para fugir do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), em que o limite é R$ 10 mil.”
A Promotoria do Rio vê indícios robustos dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete de Flávio de 2007 a 2018 na Assembleia Legislativa do Rio, período em que Queiroz trabalhou com o então deputado estadual como uma espécie de chefe de gabinete.
No caso de Flávio, uma comunicação do Coaf se refere a 48 depósitos sequenciais de R$ 2.000 em espécie em sua conta bancária de 9 de junho a 13 de julho.
O senador afirmou que esses valores se referem a uma parcela do pagamento que recebeu em dinheiro pela venda de um imóvel no período e que foram depositados por ele mesmo num caixa eletrônico.
A apuração foi suspensa após decisão de 15 de julho de Toffoli. O ministro determinou a suspensão de investigações criminais pelo país que usem dados detalhados de órgãos de controle -como Coaf, Receita Federal e Banco Central- sem aval da Justiça.
A decisão também atinge outros inquéritos e procedimentos de investigação criminal (tipo de apuração preliminar), de todas as instâncias da Justiça, baseados em informações desses órgãos de controle.
A determinação tem potencial de afetar desde casos de corrupção e lavagem, como os da Lava Jato, até os de tráfico de drogas.