O Brasil caiu uma posição no ranking global do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) em 2018. Agora, o país ocupa o 79º lugar em um grupo de 189 países e territórios -no ano anterior, avaliação corrigida o colocou em 78º.
Na prática, o Brasil ficou empatado com a Colômbia e atrás de países como Chile, Argentina, Uruguai e Sri Lanka, por exemplo. O ranking é liderado pela Noruega.
O índice é divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) com base em dados de expectativa de vida ao nascer, escolaridade e renda per capita. Quanto mais próximo de 1, melhor o desenvolvimento.
Em 2018, o índice do Brasil foi 0,761, um crescimento de 0,001 em relação ao ano anterior (ou 0,13%). Embora aponte avanço, o valor foi insuficiente para evitar que o país perdesse uma posição em relação aos demais.
Em 2017, além da Colômbia, o Brasil dividia a 78ª posição com Granada, que teve melhora superior do IDH no período -daí a perda de posição.
“O que acontece no Brasil é que, nos últimos anos, tem havido uma estagnação econômica. E isso se reflete em um crescimento menos acentuado”, diz o diretor do escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud, Pedro Conceição.
Ele nega, porém, que o cenário possa ser classificado como estagnação. Para Conceição, o ideal é que os indicadores sejam avaliados a longo prazo.
O diretor avalia que o Brasil vem apresentando um “crescimento sustentado” do IDH nos últimos 30 anos, quando conseguiu passar à categoria de alto IDH, a terceira entre quatro possíveis. “Se olharmos para tendências, elas ainda vão na direção certa.”
Em comparação aos últimos quatro anos, porém, os dados apontam um ritmo mais lento para esse avanço. De 2017 para 2018, o aumento foi de 0,13%, ante 0,4% de 2016 para 2017 e 0,3% de 2015 para 2016 -já a média anual de crescimento desde 1990 é de 0,78%.
Quando observados os componentes, o Brasil teve no último ano um leve crescimento na taxa de esperança de vida ao nascer e estabilidade em índices de escolaridade, enquanto a renda ainda não recuperou a queda ocorrida após 2015.
“Tem havido uma desaceleração na taxa de crescimento, mas essa não é uma situação exclusiva do Brasil. Desde 2010, se olharmos para as médias globais, o crescimento do desenvolvimento humano tem sido mais lento”, diz.
“Isso em parte pode ser explicado pela desaceleração das economias em todo o mundo, mas também está relacionado a uma diferenciação das capacidades básicas do índice e de nova geração de desigualdades.”
A alta desigualdade existente no país é outro ponto que chama atenção no relatório.
Nesse quesito, o relatório traz um indicador que “desconta” um valor de cada dimensão que compõe o IDH de acordo com seu nível de desigualdade (seja na esperança de vida ao nascer, seja na escolaridade, seja na renda). Essa métrica é chamada de IDHAD (IDH ajustado à desigualdade) e é calculada para 150 países.
De 0,761, o IDH passa a 0,574 quando ajustado à desigualdade -uma perda de 24,5%. Entre os países, o Brasil é o que mais perde posições no ranking de IDH por este motivo, seguido pelo Camarões. Essa perda é de 23 posições. A lista final ainda não foi divulgada.
Já quando comparado em números absolutos, e não pelo ranking, o Brasil é o segundo país da América Latina com maior queda no IDH em razão do ajuste por desigualdade, atrás apenas do Paraguai. Em relação aos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é o terceiro que mais perde, depois de África do Sul e Índia.
Entre os indicadores observados estão a desigualdade na esperança de vida ao nascer, além de educação e renda.
Para chefe da Unidade de Desenvolvimento do Pnud no Brasil, Betina Barbosa, a situação preocupa. “O Brasil não está melhorando nem piorando, e isso é muito ruim, porque a posição já é ruim no quesito desigualdade.”
Na renda, as diferenças ficam ainda mais visíveis –sobretudo quando observados os níveis de concentração entre os mais ricos e os mais pobres. Atualmente, o Brasil tem ainda a segunda maior concentração de renda no 1% mais rico da população: 28,3%. Fica pouco atrás apenas do Qatar (29%).
Se observada a parcela dos 10% mais ricos, a concentração chega a 41,9% da renda total do país.
O Pnud também avalia as diferenças no IDH para homens e para mulheres. Em 2018, para eles, esse índice de desenvolvimento foi de 0,761. Já para elas, de 0,757. Isso ocorre porque, apesar de as mulheres terem indicadores melhores de educação e longevidade em relação aos homens, a renda delas no Brasil é 41,5% menor.
Para verificar mais a fundo essa disparidade, o relatório também calcula o GII (índice de desigualdade de gênero, na sigla em inglês) com base em indicadores de saúde reprodutiva, empoderamento feminino e atividade econômica.
Entram nessas categorias dados de mortalidade materna, gravidez na adolescência, percentual de assentos ocupados por mulheres no Parlamento e participação na força de trabalho. Neste caso, quanto mais perto o GII estiver de zero, melhor é o indicador.
Em 2018, o GII foi de 0,386, o que coloca o Brasil na 89ª posição entre 162 países em termos de desigualdade de gênero –assim como no IDH, a lista deixa os melhores indicadores no topo e os piores ao final.
O Brasil tem índice de desigualdade mais alto do que a média da América Latina (0,383)
e de outros países com IDH alto (0,331). Também fica atrás da China, Rússia, Uruguai, Chile e Argentina, por exemplo.
O relatório chama a atenção para o indicador que mostra que o país com menor IDH do mundo, o Níger, tem mais mulheres no Parlamento do que o Brasil. Lá, esse percentual é de 17%. Aqui, de apenas 15%.
Se os problemas atuais já apontam desafios, o Pnud também faz um alerta aos países para o que define como risco de emergência de novas desigualdades, ligadas às mudanças climáticas e a novas tecnologias.
“Não basta não estar em pobreza. Precisamos ver desigualdades que emergem em outras áreas”, diz Conceição.