PF diz ao Supremo que precisa ouvir Bolsonaro em inquérito sobre interferência na instituição

A Polícia Federal afirmou em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que “mostra-se necessária a realização” do depoimento do presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura se houve interferência na instituição.

Procurada, a assessoria de Bolsonaro informou que não se pronunciará sobre o assunto.

A PF pediu a prorrogação do inquérito por mais 30 dias. As investigações começaram em abril, quando o então ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciou a demissão do cargo.

Na ocasião, Moro disse que Bolsonaro havia interferido na Polícia Federal ao demitir o então diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, e ao cobrar a troca na chefia da PF no Rio de Janeiro. Bolsonaro nega a acusação.

“Para a adequada instrução das investigações, mostra-se necessária a realização da oitiva do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro a respeito dos fatos apurados”, afirmou a PF.

Ao pedir a prorrogação do inquérito, a PF também informou que as seguintes diligências, entre outras, ainda estão pendentes:

  • “exame de edições dos arquivos do vídeo da reunião ministerial, a análise das mensagens do telefone celular de Sergio Moro”;
  • “resposta da Dicor [Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado] sobre o pedido de informações acerca da produtividade da SR/RJ [Superintendência da PF no Rio de Janeiro]”;
  • “resposta do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional [Augusto Heleno] quanto ao pedido de dados a respeito das trocas de comando da chefia da segurança do presidente da República”;
  • “recebimento das cópias dos inquéritos já indicados com trâmite perante a SR/RJ”;
  • “análise das informações, assim como das oitivas de Paulo Roberto Franco Marinho [empresário; suplente do senador Flávio Bolsonaro], Miguel Ângelo Braga Grillo [chefe de gabinete do senador Flávio Bolsonaro]”.
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Reunião ministerial de 22 de abril

Há uma semana, se tornou público o conteúdo da gravação da reunião ministerial de 22 abril, que, segundo Moro, comprova a tentativa de interferência de Bolsonaro.

Na reunião, Bolsonaro disse: “Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”.

Conforme o despacho do inquérito, a Secretaria de Comunicação da Presidência informou à PF que, após a entrega do vídeo da reunião ministerial do dia 22 abril, o cartão de memória da câmera que filmou a reunião foi formatado e devolvido aos cinegrafistas do Planalto, que passaram a reutilizá-lo.

Conforme a Secom, o vídeo entregue não foi editado. A Advocacia Geral da União deu a mesma informação ao STF.

Segundo Moro, ao mencionar “segurança”, Bolsonaro se referiu à Superintendência da PF no Rio de Janeiro.

O presidente, por sua vez, disse que se referia à segurança pessoal, cuja responsabilidade é do Gabinete de Segurança Institucional.

O Jornal Nacional, contudo, mostrou que, em vez de demitir o segurança no Rio de Janeiro, Bolsonaro o promoveu.

Com G1