O procurador da República Deltan Dallagnol criticou a aproximação do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) a políticos com histórico de corrupção. “Pouco a pouco, os mesmos políticos envolvidos em escândalos voltam a controlar a gestão de órgãos públicos e seus orçamentos”, afirmou em artigo publicado no jornal “O Globo” neste domingo (14).
Dallagnol, uma das principais lideranças do Ministério Público Federal na Operação Lava-Jato, disse que “o establishment político tem resistido a mudanças para reduzir a roubalheira”, o que enfraquece a confiança da sociedade na democracia.
Nas últimas semanas, o governo intensificou a entrega de cargos a políticos do chamado “centrão” –grupo de partidos antes hostilizado pelo discurso bolsonarista, por aceitar nomeações em troca de apoio.
Para muitos apoiadores de Bolsonaro, a aproximação com o centrão é uma traição ao discurso anticorrupção que foi um dos focos durante a campanha eleitoral.
O procurador também criticou a escalada do discurso autoritário, a falta de apoio a projetos legislativos anticorrupção e a interferência do governo em órgãos de investigação –acusações semelhantes às feitas pelo ex-ministro Sergio Moro ao deixar o governo.
“Notícias de interferência na polícia e órgãos de persecução, ausência de um apoio firme à causa anticorrupção, investigações sobre seus integrantes, rejeição do papel da ciência na formulação de políticas públicas em meio à crise sanitária, possíveis ligações com milícias e disseminação de notícias falsas, ataques às instituições e arroubos verbais contra a democracia minam a confiança da sociedade”, afirmou.
Para Dallagnol, o STF (Supremo Tribunal Federal) não tem sido lento na investigação e no julgamento de casos de corrupção, “seja pela complexidade dos casos, pela falta de vocação estrutural ou por decisões equivocadas”.
“Contudo, as possíveis frustrações com o Congresso e o Supremo jamais devem conduzir à proposta de seu fechamento e à irracionalidade de anseios autoritários”, afirmou o procurador. “As críticas devem buscar seu aperfeiçoamento, e não sua destruição.”