Um casal de idosos e o filho, de 58 anos, morreram, num intervalo de três dias, em decorrência da Covid-19, na Serra do Rio Grande do Sul. De acordo com familiares, 13 pessoas da família testaram positivo para a doença, duas seguem internadas em hospitais de Gramado e Vacaria.
O filho morava em Gramado, e os pais em uma propriedade a cerca de 50 km do centro de São José dos Ausentes. A cidade com 3,5 mil habitantes tem quatro casos confirmados e duas mortes por coronavírus, segundo a Secretaria Estadual da Saúde.
A psicóloga Aline Padilha Rabelo, neta do casal, contou ao G1 que, desde o início da pandemia, havia um revezamento entre os familiares nos cuidados com os idosos.
“Todo ‘finde’ era um filho responsável por vir, para fazer a lida de campo, do gado. Naquele fim de semana, era meu tio Odilon. Ele não tinha sintoma algum que pudesse gerar qualquer preocupação ou desconfiança”, diz Aline.
Solon Gonçalves Padilha, de 88 anos, morreu na última quinta-feira (16). Três dias depois, a esposa dele, Leonor Alano Padilha, de 84, e o filho do casal, Odilon Alano Padilha, de 58 anos, também faleceram
Sem histórico de doenças, o filho Odilon estava internado no Hospital de Gramado desde o dia 7 de julho. No dia 11, recebeu o diagnóstico positivo para coronavírus. De acordo com a família, Solon era diabético e Leonor era hipertensa e cardíaca. Os dois foram internados no mesmo dia, no Hospital Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria, já em estado grave.
A sobrinha Aline conta que Odilon teve contato com outros irmãos e cunhados no fim de junho. Os sintomas começaram a aparecer uma semana depois.
“Ele achou que era uma síndrome gripal normal, mas não teve melhora no quadro. Na terça, dia 7, ele consultou com um médico, que identificou uma infecção pulmonar e pediu que ele já ficasse hospitalizado. No fim da tarde foi transferido para a UTI”, conta Aline.
Foi neste momento que, segundo ela, a família ligou um alerta para a saúde dos idosos. “Desde o dia 4, 5, por aí, eles já estavam debilitados, acamados. Na sexta, dia 3, um tio levou eles em uma consulta em São Joaquim (SC). Lá, eles fizeram um teste rápido, que deu negativo. O médico deu uma medicação e mandou eles ficarem em casa”, comenta a psicóloga.
Após a internação de Odilon, Aline entrou em contato com a Secretaria de Saúde de São José dos Ausentes para que mandassem uma ambulância e fizessem uma avaliação médica nos avós.
“O médico entendeu a necessidade de eles serem hospitalizados, e foram levados para Vacaria. Existia a hipótese de que poderiam estar com Covid, então iniciaram o tratamento. Quatro dias depois, o teste RT-PCR deu positivo para ambos”, conta.
Odilon (esquerda) e o filho Rodrigo (direita). — Foto: Arquivo pessoal
Família testou positivo
Segundo a psicóloga, foram 13 casos positivos na família. “Alguns já tiveram e não têm mais transmissão. Outros foram hospitalizados, mas receberam alta, fora os dois que estão no hospital”, elenca.
Aline ressalta que a família não realizou nenhuma reunião recentemente. “Muitas pessoas estão falando que todos se reuniram no aniversário do meu avô, mas isso não é verdade. A última ocasião em que eles estiveram juntos, apenas com os filhos, foi no Dia das Mães”, garante.
Rodrigo Miola Padilha, filho e neto das vítimas, também testou positivo para a doença, mas não apresentou sintomas graves e é considerado recuperado. Ele acredita que a evolução da doença no pai tenha sido pela demora em buscar atendimento.
“Ele estava com sintomas, mas não queria ir ao médico. Não era adepto a medicamentos farmacêuticos. Tomava chá, mel, limão, gengibre. Eventualmente, quando dava uma gripe nele, fazia isso e tava bom. Só que dessa vez complicou demais. Quando foi consultar, os pulmões e rins já estavam muito comprometidos”, relata.
“Nem no meu pior pesadelo esperava passar por isso. É uma dor muito ruim, uma tristeza que não tem como descrever”, diz Rodrigo.
O pai de Aline também teve diagnóstico positivo, mas está em isolamento domiciliar sem apresentar sintomas. Mesmo com o momento difícil, a família não perde a fé.
“Apesar da preocupação e angústia por não ter um medicamento específico para essa doença, estamos muito confiantes que eles vão sair bem. Estamos com muita fé”, finaliza Aline.
com g1