A nuvem de gafanhotos que percorre a Argentina e se aproxima da fronteira brasileira está a 112 km da cidade de Barra do Quaraí, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, segundo a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) nesta segunda-feira (20).
Os insetos percorreram cerca de 10 km em relação a medição informada no domingo (19). Conforme a secretaria, as temperaturas acima de 25ºC favorecem a aproximação da nuvem, que tem mais de 400 milhões de gafanhotos, e ocupa área estimada em 10 km por 3 km, conforme o fiscal estadual agropecuário Juliano Ritter, da Inspetoria de Defesa Agropecuária de Itaqui.
Em relação ao Uruguai, a nuvem está a 80 km. Como lembra Juliano, além da temperatura, a velocidade dos ventos também influencia na trajetória da nuvem. Por isso, não é possível prever se os insetos vão chegar ao estado, e se sim, em qual data, explica o fiscal.
Busca por alimento
Conforme o entomologista da Unicruz, Mauricio Paulo Batistella Pasini, a preocupação com a chegada dos animais aumentou.
“Como aumentou a temperatura aqui no RS, na semana passada, a gente estava com temperaturas abaixo de 10 graus, ontem [domingo] e hoje [segunda], a gente tem temperaturas acima de 25. É normal que os insetos comecem a se movimentar, a buscar novas fontes de alimento”, afirma.
A nuvem se originou no Paraguai, no fim de maio. Depois, os insetos voaram para a Argentina. Nos dois países, provocaram prejuízos ao destruírem plantações.
A possibilidade de chegada ao Brasil levou o Ministério da Agricultura a decretar situação de emergência fitossanitária, que permite o uso de inseticidas até então proibidos no país.
A secretaria estadual acompanha o deslocamento dos insetos e afirma ter um plano pronto para entrar em ação caso os gafanhotos cheguem às lavouras do estado. Esse combate deve contar com a aplicação de veneno por aviões agrícolas, conforme o diretor do Departamento de Defesa Vegetal da pasta, Ricardo Felicetti.
“Nós aqui no estado mantemos a vigilância e o trabalho de monitoramento e estamos com um plano operacional pronto e já executado na fase de vigilância”, afirma.
Na Argentina, técnicos do Serviço de Qualidade Agroalimentar tem feito a aplicação de veneno com aviões e também por terra. Mas os resultados não têm sido satisfatórios. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do RS (Emater), orientou os agricultores da fronteira a monitorarem as lavouras e a possível chegada dos insetos nas propriedades.
Grupo da UFPel faz simulação
O Grupo de Dispersão de Poluentes & Engenharia Nuclear (GDISPEN) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) vem analisando a trajetória da nuvem de gafanhotos pela Argentina, e realizou simulações de percursos possíveis para os insetos.
“Simulou-se um trajeto de até 150 km de distância do ponto de partida, sabendo que este valor é o maior registrado para deslocamento da nuvem de gafanhotos, ou seja, a nuvem pode parar nos pontos intermediários do percurso”, informa o grupo, em texto em seu site.
Utilizando dados como a velocidade de ventos prevista para a região, o grupo estimou o percurso dos insetos caso ele se movam em 40 km por dia, 80 km por dia e 150 km por dia.
- Previsão para 40 km por dia: se esta previsão se confirmar, na quarta-feira 22/7, estima-se que a nuvem poderá atingir a província de Entre Ríos na Argentina, fronteira com o Uruguai, próximo a Concórdia na Rota 14, em torno de 140 km da cidade de Barra do Quaraí no RS.
- Previsão para 80 km por dia: estima-se que a nuvem poderá atingir a região próxima a cidade de El Eucaliptus no Uruguai, em Passo de Los Carros na Rota 26, aproximadamente 200 km da cidade de Barra do Quaraí no RS e aproximadamente 240 km da cidade de Rivera (Uruguai), divisa com o RS, também na quarta-feira (20).
- Previsão para 150 km por dia: estima-se que a nuvem poderá atingir a região próxima a cidade de Villa del Carmem no Uruguai, província de Durazno. A região fica a aproximadamente 270 km das cidades gaúchas de Aceguá e Jaguarão.
Grupo traçou estimativas de trajetos, de acordo com a velocidade da nuvem: a 40, 80 e 150 km por dia — Foto: Divulgação/GDISPEN
com G1 PB