O governo do Líbano decidiu nesta quarta-feira (5) colocar todos os funcionários responsáveis pelo porto de Beirute desde 2014 em prisão domiciliar. É uma das ações em resposta à explosão do armazém na região portuária da capital do país que aconteceu na terça-feira (4).
A suspeita é que a explosão tenha partido de um armazém que guardava nitrato de amônio, um tipo de fertilizante. Segundo o governo libanês, a contagem oficial de mortos chega a 135. Além disso, o ministro da Saúde disse em entrevista a uma rede local de televisão que há cerca de 5 mil feridos.
A estimativa inicial do governo é que a explosão causou danos de US$ 3 bilhões (R$ 15,9 bilhões) a US$ 5 bilhões (R$ 26,5 bilhões). O Líbano declarou estado de emergência de duas semanas na capital, Beirute e ao menos 250 mil pessoas perderam suas casas entre os escombros.
O Exército libanês vai supervisionar a prisão domiciliar até que os responsáveis pelo armazenamento de 2.750 toneladas de nitrato de amônio durante seis anos sejam identificados. Não está claro quantas pessoas foram presas nesta quinta e qual cargo ocupavam dentro da autoridade portuária.
Veja o antes e o depois da explosão na zona portuária de Beirute
Busca por desaparecidos
Equipes de resgate seguem com as buscas de desaparecidos após a enorme explosão. Nesta quarta, ainda há fumaça saindo da região portuária. As principais ruas do centro da cidade amanheceram cheias de escombros, com as fachadas dos edifícios destruídas e veículos danificados.
Imagens de drones mostram que a explosão atingiu silos de trigo que ficavam no porto. Estimativas iniciais indicam que cerca de 85% dos grãos do país, que são majoritariamente importados, estavam armazenados nos armazéns que foram destruídos.
Imagem feita por drone mostra a local da explosão no porto de Beirute, no Líbano, nesta quarta-feira (5) — Foto: Hussein Malla/AP
Ainda não se sabe o que levou à explosão, mas a suspeita é que tenha atingido um galpão que guardava grandes quantidades de nitrato de amônio, composto geralmente usado como fertilizante.
O primeiro-ministro, Hassan Diab, disse em um pronunciamento horas após o acontecido que “era inadmissível que um carregamento de nitrato de amônio, estimado em 2.750 toneladas, estivesse em um armazém por seis anos, sem a segurança necessária”.
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Especialista sobre o nitrato de amônio: ‘No Brasil, é controlado pelo Exército
O nitrato de amônio é um sal e sua forma mais comum é granulada, como um pó branco. Sozinho, ele tem baixo potencial explosivo, mas quando aquecido, pode ser perigoso. A partir de 210 °C, decompõe-se e, se a temperatura aumentar para além de 290 °C, a reação se torna explosiva.
Um incêndio, tubos superaquecidos, fiação defeituosa ou relâmpagos podem ser suficientes para desencadear tal reação em cadeia.
Vídeo de outro ângulo mostra explosão no porto de Beirute — Foto: Reprodução
Sentença adiada
O Tribunal Especial para o Líbano (TSL) adiou, para o dia 18 de agosto, o veredito do julgamento contra quatro homens acusados de terem participado do assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri em 2005.
A decisão seria anunciada nesta sexta-feira pelo tribunal com sede em Haya, Holanda. A instituição se posicionou em nota defendendo o adiamento “em respeito às inumeráveis vítimas”. Os réus, todos membros do movimento xiita do Hezbollah, estão sendo julgados à revelia.
A sentença deve ser dada 15 anos depois do atentado com um carro-bomba no centro de Beirute. Nele, morreram o bilionário sunita e outras 21 pessoas. O assassinato de Hariri, pelo qual quatro generais libaneses foram inicialmente acusados, desencadeou uma onda de protestos.
O Líbano vive um período de instabilidade política. No fim do ano passado, o primeiro-ministro Saad Al-Hariri renunciou. O país viveu um período com um vácuo de poder, até que Hassan Diab assumiu e anunciou a formação de um novo governo em janeiro.
Em março deste ano, o país deu um calote em seus credores. O Líbano deveria reembolsar US$ 1,2 bilhão em títulos do Tesouro (cerca de R$ 6,3 bilhões), dos quais uma parte significativa está nas mãos dos bancos e do Banco Central, e decidiu não fazer isso.
5 de agosto – Pessoas passam por prédios danificados após explosão em Beirute, Líbano — Foto: Hassan Ammar/AP
Embaixada Brasileira foi atingida
O Ministério das Relações Exteriores informou que o prédio da embaixada brasileira em Beirute sofreu avarias após a explosão na região portuária da cidade. Ainda de acordo com o Itamaraty, o único brasileiro ferido segue sendo a esposa do adido da defesa. Ela teve ferimentos leves e está hospitalizada.
A embaixada brasileira fica no centro da cidade, região próxima à área portuária. As salas do prédio voltadas para o porto, segundo o ministério, tiveram os vidros das janelas quebrados e o forro do teto caiu além de equipamentos quebrados.
“As salas voltadas para o local da explosão foram mais afetadas, com janelas estilhaçadas, desabamento do forro do teto, mobília e computadores seriamente danificados”, disse o Itamaraty em nota. “Por outro lado, salas e escritórios voltados para a cidade foram poupados.”
com g1