Estado devolve fiança de R$ 800 paga por pedagoga negra presa que levou soco de PM no AP

Pedagoga negra agredida com soco por PM presta depoimento à corregedoria hoje no Amapá

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A Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública (Sejusp) do Amapá informou nesta quarta-feira (23) que a Polícia Civil devolveu a fiança de R$ 800 paga pela pedagoga Eliane da Silva, de 39 anos. Ela levou um soco de um policial militar na sexta-feira (18) durante abordagem em Macapá e depois foi presa por desacato, resistência e desobediência. A agressão foi gravada e o vídeo viralizou.

O Estado também ressarciu o marido dela, Thiago da Silva, que foi detido com as mesmas acusações. Eliane confirmou que o valor foi devolvido no domingo (20). A Polícia Civil informou que não vai dar declarações, no momento, sobre a decisão.

A Polícia Civil fez ainda o “desindiciamento”, ou seja, não indiciou o casal pelos crimes porque percebeu que a conduta da equipe policial não foi correta, segundo a Sejusp. O órgão também instaurou inquérito para apurar como ocorreu a abordagem.

Na terça-feira (22), ela e o marido prestaram depoimentos sobre a ocorrência na delegacia e também na Corregedoria da PM.

Além de agressão física, pedagoga acusa polícia de racismo

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Logo que o caso ganhou repercussão nas redes sociais, a Polícia Militar (PM) abriu inquérito policial militar e um processo administrativo; e afastou das atividades operacionais os três policiais que integravam a equipe. O policial que agrediu Eliane não foi o mesmo que deu soco no marido dela.

A PM disse tratar-se de um caso isolado. A corporação não revelou os nomes dos militares envolvidos, nem quando eles serão ouvidos.

“A instituição tem procedimentos operacionais para adotar em uma abordagem. E [ele] extrapolou os procedimentos que são orientados”, já havia declarado o corregedor da PM, coronel Edilelson Batista, sobre o policial que agrediu a pedagoga.

Em nota, o governador do Amapá Waldez Góes descreveu que a ação da polícia foi “recheada de atitudes racistas”. Eliane afirma que ouviu ofensas racistas, na abordagem na frente da própria casa e durante a condução dela à delegacia a bordo da viatura.

O Ministério Público do Amapá (MP-AP) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) estão entre as entidades que se manifestaram contra a ação policial e que cobram celeridade e transparência no caso. Os órgãos vão acompanhar os desdobramentos das investigações.

Após ser agredida com um soco, a pedagoga foi levada para a delegacia, onde foi liberada após pagar R$ 800 de fiança. O marido também teve arbitrado o mesmo valor em troca da liberdade, totalizando R$ 1,6 mil.

“Para mim isso foi uma tortura, mexeu muito com meu psicológico. […] Eu fui chamada de ‘preta’, fui chamada de vagabunda por eles na delegacia. Eu me senti ofendida e para mim foi um preconceito muito grande, porque éramos os únicos negros ali”, disse Eliane.

“O correto era todo mundo ser ouvido. Por que eu vou pagar fiança por um crime que eu não cometi? Por que o policial me agrediu se eu não o ofendi e estava apenas fazendo um vídeo?”, completou.

Fotos mostram marcas que ficaram da abordagem  — Foto: Eliane Silva/Arquivo Pessoal

Fotos mostram marcas que ficaram da abordagem — Foto: Eliane Silva/Arquivo Pessoal

A abordagem aconteceu na sexta-feira (18) à noite, numa região chamada Loteamento São José, na Zona Norte da capital. Ela não era o alvo da ação, mas começou a gravar e a questionar a maneira como o trabalho dos policiais era conduzido.

A pedagoga foi então imobilizada, agredida e presa por resistência, desacato e desobediência. As imagens gravadas pelo filho dela mostram a equipe abordando primeiro dois homens. Em seguida, um dos militares dá voz de prisão a Eliane. Ela é algemada e levada para a viatura.

Entenda o caso

Pedagoga levou soco no rosto durante abordagem policial na Zona Norte de Macapá — Foto: Reprodução

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De acordo com Eliane, a abordagem iniciou quando ela estava dentro do carro de um amigo da família, na frente de casa. No veículo estavam ela, o marido, dois amigos, um adolescente de 15 anos, e uma sobrinha de 4 anos.

A pedagoga descreveu que três policiais militares iniciaram a revista nos homens, enquanto mandaram ela ir para o outro lado da rua. Eliane também começou a gravar um vídeo do próprio telefone, que foi apreendido pela equipe.

Eliane afirmou que, antes de ser presa, o marido também questionou a abordagem; em seguida um dos policiais teria mandado ele calar a boca, o chamado de “vagabundo”, e dado um soco nele. A agressão e toda a abordagem foi gravada por câmeras de monitoramento.

“A polícia já abordou a gente apontando as armas para o carro. Abordou todo mudo menos eu; um deles deu um soco no estômago do meu marido. Eu falei para a equipe liberar o adolescente porque ele é do interior, e estava sob minha responsabilidade. Eu atravessei, fiquei na calçada de casa. Só um deles me agrediu”, comentou Eliane.

“A abordagem inicial foi me engasgar, me deu rasteira e me ‘murrou’. Eu não tive reação, eu apanhei, só fiz gritar para a população ver o policial me agredindo desnecessariamente. Em nenhum momento houve desacato, em momento algum eu o agredi verbalmente, ele que já veio me agredindo fisicamente”, acrescentou.

COM G1