O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, definiu o novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em publicação no Diário Oficial desta sexta-feira (2), a pasta oficializou Clezio Marcos De Nardin para ocupar o cargo.
Clezio irá substituir Darcton Policarpo Damião, que ocupava o posto interinamente desde agosto de 2019. Ele exercia o mandato após Ricardo Galvão ser demitido por reagir a críticas do presidente Jair Bolsonaro, que acusou a equipe de pesquisadores do Inpe de mentir sobre dados do desmatamento da Amazônia.
Com a nomeação de Clezio, Darcton deixa a função no Inpe e vai ocupar o cargo de assessor especial do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC).
Procurado pelo G1 na manhã desta sexta, Clezio apenas agradeceu a nomeação ao cargo, mas não fez outros comentários sobre o assunto. “Eu me sinto muito honrado por ter sido escolhido entre tantos nomes brilhantes que estavam concorrendo”, disse.
Clezio é engenheiro eletricista formado em 1996 pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e de doutor em Geofísica Espacial. O pesquisador foi ainda, por três anos, vice-diretor do International Space Environment Service (ISES) que é um organismo internacional dedicado ao Clima Espacial. Ele atua no Inpe desde 1997.
Marcos Pontes define que Clezio Marcos de Nardin será o novo diretor do Inpe
Escolha do diretor
O nome do novo diretor foi escolhido pelo MCTIC a partir de uma lista tríplice definida por um comitê responsável pela seleção dos candidatos ao cargo. O processo teve nove postulantes ao cargo e, entre os candidatos, estava Darcton. A lista tríplice, de onde tradicionalmente sai o escolhido, não foi divulgada neste ano pelo governo.
Clezio terá um mandato de quatro anos e chega ao posto sob clima de apreensão da comunidade científica. Entre os pontos de atenção estão as polêmicas com o governo federal por causa dos dados de queimadas e desmatamento na Amazônia.
Há menos de um mês, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que “alguém” dentro do instituto faz “oposição” ao governo e teria interesse em priorizar a divulgação de dados negativos — as informações, no entanto, são públicas e podem ser acessadas pela internet.
A polêmica mais recente, contestada por cientistas, é a intenção divulgada por Mourão criar de uma nova agência nacional que centralizaria os dados de monitoramento via satélite. O entendimento dos pesquisadores é que a intenção seria blindar os dados gerados pelo instituto.
Outros desafios são os cortes sucessivos de recursos e a redução de efetivo provocada pelas aposentadorias de pesquisadores.
Sede do Inpe em São José dos Campos — Foto: Pedro Melo/TV Vanguarda
Repercussão
A nomeação de Clezio para o cargo de diretor do Inpe repercutiu positivamente entre a comunidade científica.
O cientista Ricardo Galvão, exonerado da direção cargo no ano passado após polêmica com Bolsonaro sobre os dados do desmatamento na Amazônia, elogiou a escolha. Galvão acredita que o novo diretor terá facilidade no diálogo com o governo federal, mas que irá defender o Inpe caso os dados sejam questionados.
“Clézio é cientista de carreira no Inpe, extremamente respeitado e com muita experiência de gestão administrativa. É uma pessoa que vai ter diálogo fácil com governo mas não vai ficar calado se o Inpe for atacado”, disse.
O pesquisador Gilvan Sampaio, coordenador dos estudos sobre a Amazônia, comentou ser positiva a escolha de um diretor que já fazia parte da instituição
“Ele é servidor de carreira do Inpe e acho ótimo que a nomeação seja de alguém que faz parte do Inpe. Em geral, a maior parte dos diretores eram de carreira e acho que só temos a ganhar com mais uma escolha como essa”, comentou.
O Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT) emitiu uma nota sobre a nomeação e destacou a carreira do novo diretor do Inpe.
“Clezio é um cientista qualificado, formado e treinado no próprio Inpe, onde se doutorou em Geofísica Espacial e atualmente é Coordenador-Geral de Ciências Espaciais e Atmosféricas do Inpe”.
A entidade lembrou ainda a exoneração do ex-diretor Ricardo Galvão, as críticas do governo aos dados produzidos pela instituição, e reforçou a expectativa de defesa da comunidade científica na nova gestão.
“Construir e fortalecer uma instituição comprometida com a excelência dos resultados nas missões que lhe são destinadas e, acima de tudo, uma instituição civil, de Estado”.
Com G1