Em um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, a saúde voltou a ser apontada pelos eleitores das capitais como o principal problema enfrentado em suas cidades. Mas, desta vez, em percentuais bem maiores que aqueles identificados na eleição de 2016. É o que revela a primeira rodada de pesquisas do Ibope, realizadas em 13 capitais.
Enquanto na eleição de 2016 os percentuais para a saúde como principal problema variaram de 32% a 62%, desta vez ela vai de 43% a 77%. O impacto das medidas adotadas, que levaram muitos prefeitos a suspender aulas ou autorizar o modelo de ensino remoto, pode ter afetado também a percepção dos eleitores. A educação aparece mais nessa rodada de pesquisa entre os dois principais problemas do que em 2016.
Individualmente, Goiânia e Rio de Janeiro apresentam os maiores percentuais relativos à saúde como principal problema. Em 2016, a saúde também liderou a lista em Goiânia, mas com percentual de 43%. Agora chegou a 77%, maior patamar entre as capitais pesquisadas. No Rio também houve aumento expressivo. Há quatro anos, 54% dos cariocas disseram que o principal problema da cidade era a saúde. Agora são 74%.
Saúde lidera nas 13 capitais, segundo o Ibope — Foto: Aparecido Gonçalves
Educação e segurança também como prioridades
A percepção dos eleitores também mudou com relação ao segundo e terceiro maiores problemas das cidades (na pesquisa Ibope, eles podiam mencionar até três problemas). Das 13 cidades pesquisadas neste ano, a educação ficou em segundo lugar em sete. Em 2016, na ampla maioria das 26 cidades pesquisadas, a segurança era o segundo assunto mais lembrado: em 23. Na rodada de pesquisa deste ano, no entanto, há situações entre o primeiro e o segundo colocado que configuram empate técnico dentro da margem de erro.
No caso da educação, os maiores percentuais neste ano foram identificados em Salvador e Rio de Janeiro (46% e 45%, respectivamente). Já a segurança pública atingiu 50% em Natal e 44% em Salvador.
Saúde é a primeira em todas; educação é a que mais aparece em segundo lugar — Foto: Aparecido Gonçalves/G1
Para Luciana Veiga, cientista política e professora da Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio), os dados indicam uma relação com a crise na área da saúde, sempre lembrada pelos eleitores, mas desta vez reforçada pela pandemia, que limitou o atendimento da população no tratamento de outras doenças.
“Em decorrência da pandemia, a saúde, que sempre foi um tema central em pleitos municipais, ganha ainda mais importância. Isto acontece devido às campanhas para o combate do Covid-19, e em decorrências das demandas sobre a saúde na ressaca da grande onda do Covid-19. Tratamentos foram acumulados por redução de assistência das demais doenças na campanha do Covid-19. O sistema de saúde foi desorganizado para socorrer a população. Mas ficou como o caso do cobertor curto”, afirma Luciana.
A professora da UniRio lembra que a educação aparece na lista de prioridades dos eleitores porque esse tema tem mobilizado mais brasileiros nos últimos anos.
“Educação assim como a saúde são prioridades de sempre. Mas, nos últimos anos, a educação vem ganhando muita centralidade por estar atrelada à retirada de crianças da criminalidade e à capacitação profissional para o mercado de trabalho, além, claro, de seu papel principal.”
Para Luciana Veiga, chama atenção o percentual do tema “geração de emprego”, que não chegou a liderar em nenhuma capital, apesar de a crise nessa área, que piorou com os efeitos da pandemia. O maior percentual do tema “geração de emprego” foi registrado em Belo Horizonte (30%), quarto item da lista dos problemas apontados pelos eleitores da cidade. O tema foi o quarto mais lembrado também em Florianópolis, com 19%. Em Palmas, a “geração de empregos” atingiu 27%, terceiro tema da lista, mas tecnicamente empatado com educação, que registrou 29%.
“O desemprego é uma agenda absolutamente central. A população, em particular a mais pobre, está sem emprego e sem renda, e vendo os preços da comida e de outros produtos aumentarem nas prateleiras”, observa Luciana.
Com relação ao tema “transporte coletivo”, lembrado em alguns capitais como um dos três problemas mais importantes da cidade, a professora da UniRio acredita que a pandemia pode ter afetado a percepção dos eleitores sobre esse tema.
“Há uma particularidade do momento de pandemia. Nas grandes cidades, houve mudança nos horários e na quantidade de carros disponíveis. O que causa transtorno na vida das pessoas. Também a superlotação, que sempre gerou desconforto, agora dá também a sensação de medo de contaminação, ficando mais perturbadora”, afirma Luciana Veiga.
G1