A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) está desenvolvendo uma prótese de membro superior para o homem que perdeu os dois braços em um acidente de trabalho em 2019, um dia antes do nascimento do primeiro filho, em Campina Grande. Nilson Medeiros, de 34 anos, tem o sonho de segurar o filho nos braços.
Além da prótese desenvolvida pela UEPB, que ainda não tem data para ser entregue, Nilson Medeiros tem uma vaquinha virtual ativa para tentar arrecadar R$ 160 mil para a compra das próteses convencionais para que o sonho dele de pegar o filho nos braços seja realizado o quanto antes, além de dar mais independência para as atividades do dia a dia.
A prótese, que está em fase de testes, foi idealizada pelo Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (Nutes) e desenvolvida pelo Laboratório de Tecnologias 3D (LT3D), que utilizou métodos digitais em todo o processo, por meio do escaneamento tridimensional, uso de softwares, simulações computacionais e a confecção da prótese transradial por manufatura aditiva.
De acordo com o coordenador técnico do projeto, Rodolfo Castelo Branco, a prótese é totalmente customizada para Nilson. “Todo esse processo, juntamente com o método utilizado para o desenvolvimento da prótese, caracteriza-se como tecnologia assistiva”, explicou Rodolfo. O projeto contou com a participação de uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde e engenharia.
As próteses desenvolvidas pelo Nutes são mecânicas. Já as próteses que serão compradas com a vaquinha são biônicas. Os dois tipos de próteses substituem membros amputados e proporcionam mais qualidade de vida e independência para quem perdeu os membros. A diferença é que a prótese mecânica tem o movimento mais limitado e, no caso das mãos, fazem movimentos mais simples, como abrir e fechar em forma de pinça. Já a prótese biônica consegue reproduzir com facilidade os movimentos fisiológicos, como desenhar, por exemplo.
Nilson, que há 1 ano e 4 meses sonha em pegar o filho Guilherme nos braços, já faz uso do protótipo do braço esquerdo que foi entregue no dia 20 de outubro. Esta fase é importante para que sejam testadas as funcionalidades e, também, para ver quais melhorias precisarão ser implementadas para oferecer maior mobilidade. “As expectativas são as melhores possíveis, tendo em vista que foi só o primeiro passo e possivelmente deve evoluir”, disse.
Segundo a coordenadora do LT3D, “todo o processo é feito em prol de proporcionar ao usuário o melhor conforto possível”, destacou a coordenadora do Laboratório de Tecnologias 3D do Nutes, Yasmyne Martins.
Pai perde os braços um dia antes do nascimento do filho, em Campina Grande — Foto: Luciana Miranda/Arquivo pessoal
O projeto
Conforme Yasmyne, a ideia de fazer a prótese surgiu pouco antes da pandemia do novo coronavírus. “Como já tínhamos um projeto aqui no LT3D, sentamos e conversamos o que poderia ser feito […] então ele veio aqui e vimos que era amputação dos dois membros superiores em alturas diferentes e confirmamos que poderíamos fazer a prótese dele”, contou.
Yasmyne explica que a diferença entre próteses convencionais e as produzidas pelo núcleo é que “as convencionais têm um tamanho padrão (p, m, g) e as nossas próteses são customizadas para o paciente. Então, aquele encaixe do coto dele, cabe perfeitamente dentro do orifício da prótese”. A prótese de membro superior desenvolvida para Nilson é a primeira produzida pelo laboratório da UEPB.
Primeiro foi feito um escaneamento dos membros de Nilson. Depois foi feito o desenvolvimento da prótese em cima da imagem adquirida por um software. Foi quando veio a pandemia e o projeto teve que parar. Com a volta recente das atividades no laboratório, foi dado andamento no projeto. “Nilson emagreceu e o coto dele atrofiou […] a gente teve que fazer ajustes e um novo escaneamento”.
Como o projeto é desenvolvido em um centro de pesquisa acadêmico, ainda não tem previsão de quando a prótese, no seu modelo final, será entregue a Nilson. Até o momento foi produzido o protótipo do braço esquerdo, mas, segundo Yasmyne também será produzido o do braço direito.
Acidente em fábrica
Nilson Medeiros trabalhava em uma fábrica de lingerie e estava manuseando uma máquina quando o acidente aconteceu. Os dois braços foram cortados.
Para preservar a saúde da esposa de Nilson e do bebê — já que ela estava grávida —, a mulher foi informada sobre o acidente, mas não da gravidade da situação.
O parto, que estava previsto para dois dias após a data do acidente, foi antecipado em um. Guilherme nasceu no dia 11 de junho de 2019, e Nilson não pôde assistir ao nascimento do filho. Ele só conheceu o bebê uma semana depois.
Desde então, Luciana precisou abrir mão do trabalho para cuidar do filho e do marido. Para ela ainda é difícil a rotina com acúmulo de tarefas e cuidados.
“A parte mais difícil é ter que cuidar do meu filho, do meu marido e da casa. Entre o meu trabalho e a minha família, a família vem em primeiro lugar, mas hoje ele depende de mim para praticamente tudo”, afirmou.
Pai perde os braços um dia antes do nascimento do filho, em Campina Grande — Foto: TV Paraíba/Reprodução
G1 PB