Durante toda a semana, o papagaio mais famoso e querido do Brasil foi lembrado. Os dias seguintes à morte de Tom Veiga, intérprete do Louro José, no último domingo (1), foram marcados por homenagens. Homenagens ao personagem a a quem deu vida a ele: o artista Tom Veiga. A imagem do Tom era pouco conhecida, mas a voz e o jeito engraçado conquistaram adultos e crianças, que há anos começavam o dia se divertindo com as brincadeiras do Louro José ao lado da apresentadora Ana Maria Braga. Ela recebeu a repórter Renata Ceribelli virtualmente para uma conversa aberta sobre o momento que está vivendo.
Abaixo, alguns destaques da entrevista.
Renata Ceribelli: Primeiramente, meu carinho e minha admiração por você. Porque domingo passado a gente recebeu essa notícia triste da morte do Tom Veiga. E ao mesmo tempo em que as pessoas se lamentavam, as pessoas também se perguntavam: gente, mas e a Ana Maria? Como ela vai fazer? Será que ela vai conseguir fazer o programa na segunda-feira? E você estava lá. Mostrando uma força e um profissionalismo impressionantes. De onde vem essa força?
Ana Maria Braga: Essa pergunta aí que você está dizendo que as pessoas falavam: será que ela vai tá lá, né? Eu no domingo também me fiz essa pergunta várias vezes. E eu fiquei preocupada comigo mesmo. Mas também, o sentimento de respeito pelo meu trabalho, acho, por tudo aquilo que já representou e todos os problemas que eu já passei na minha vida, eu sempre soube que eu tinha essa capacidade de enfrentá-los de verdade. A gente tem que se superar e superar os medos. Eu fiquei arrasada com a notícia. Eu não queria acreditar. Essa é a primeira reação que você tem, é a negação.
Renata Ceribelli: Como você está lidando com a falta do Tom? Você deve sentir falta da voz dele, da interação…
Ana Maria Braga: Pois é, eu sinto a falta dele desde segunda-feira, quando eu voltei a trabalhar. Mas essa semana, como a gente tá fazendo uma semana especial, né? A gente tá fazendo uma semana de homenagens a ele, ele tá no programa, né? Em todos os momentos. Aí eu rio e choro ao mesmo tempo. Então eu ainda não… Sabe quando você ainda não caiu na real? De que mesmo sabendo de tudo isso, da realidade, eu acho que a partir da próxima semana é que a gente começa a fazer o programa. Vai ser um novo recomeço, eu acho. Tão difícil quanto.
Renata Ceribelli: Lidar com a falta dele, né? Porque você costuma falar, e isso é curioso, que o Louro é uma coisa e o Tom é outra coisa. Seriam duas perdas? Seu amigo e o seu personagem, que você está com ele há vinte e cinco anos no estúdio.
Ana Maria Braga: São entidades que nunca se misturaram. Então, agora, nesse momento, eu perdi o grande amigo, o Tom, e o meu filho, o Louro. Mas você olhando pra isso de frente, na verdade o Louro José existe. Ele pode não existir na interpretação magnífica do artista Tom Veiga, né? Que deu vida a esse personagem. Mas o personagem vai continuar existindo. Porque não tem como, se você pegar os grandes personagens aí, de qualquer… Da nossa vida, né? De Mickey Mouse a… Eles fazem aniversário e são eternos, né? E o Louro vai ser eterno pra sempre, né?
Renata Ceribelli: O louro não vai sair em nenhum momento do ar, do seu lado?
Ana Maria Braga: Eu acho que é muito cedo pra se dizer qualquer coisa, né? Mas obviamente o Tom é inigualável.
Renata Ceribelli: E durante essa pandemia, você e o Tom se falavam? Vocês eram amigos confidentes?
Ana Maria Braga: A gente era amigo, confidente. A gente se falava a respeito de tudo. A gente se falava por telefone todo dia durante essa pandemia. A gente se sabia. Morria de saudade.
Renata Ceribelli: Ana, vocês falavam sobre a morte? Sobre a finitude?
Ana Maria Braga: Não. Estive pensando nisso inclusive. Eu nunca conversei sobre o Tom, né? Com o Tom a respeito de por exemplo: e se um de nós morrer? Ou o que você acha de ser enterrado assim? Eu penso em morrer de vez em quando porque me dão uns sustos, né? Assim, acho que com mais frequência. Agora, ele não. Moleque jovem, moleque que a bem da verdade não se cuidava. Da saúde. Como deveria, eu acho. Todo mundo falava isso pra ele. Não se cuidava bem. Todos os amigos falavam. Olha, precisa dormir mais. Olha, precisa fazer isso menos. Olha, precisa ir no médico ver essa dor na coluna. Mas era uma coisa impensável, né? Impensável. Mas a gente nunca falou sobre a morte.
G1