A Polícia Civil identificou um homem suspeito de ter ameaçado de morte a vereadora eleita de Joinville, no Norte de Santa Catarina, Ana Lúcia Martins (PT) na última semana. Nesta manhã de domingo (22), agentes cumpriram um mandado de busca e apreensão na residência do suspeito. Ele foi interrogado e segue solto.
Segundo Cláudia Gonçalves, titular da Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCAMI), o suspeito possui esquizofrenia, mora com a mãe e pode ter sido instigado a fazer os comentários. A polícia investiga se houve participação de outras pessoas.
“A gente percebeu que não é uma coisa só daqui de Joinville, talvez tenha uma conexão intermunicipal”, disse Cláudia. “Ele cria muita coisa. Ele, especificamente, não parece que é líder de nada, então, pode ser que ele seja uma peça desse quebra-cabeça”, contou a delegada.
Ana Lúcia, primeira vereadora negra eleita na cidade, foi atacada em uma rede social após o resultado das eleições municipais 2020. Em uma publicação pelas redes sociais, um perfil agora atribuído ao suspeito sugeriu matá-la para que o suplente branco pudesse entrar no legislativo municipal. A postagem já foi apagada.
O cumprimento do mandado ocorreu no bairro Paranaguamirim, na região sul do município. Na casa, a polícia confirmou o diagnóstico psiquiátrico do suspeito. Foram localizado laudos, exames e remédios.
A família também foi questionada sobre o perfil do rapaz e as postagens nas redes sociais, mas afirmou que não sabia do crime. A responsável pelo suspeito contou aos policiais também que ele estava bastante agitado nos últimos dias e, na quarta-feira (18), engoliu o chip do celular.
Nos próximos dias, pessoas próximas ao rapaz serão ouvidas. O médico que já cuidou suspeito também poderá ser inquerido para depoimento.
Equipamentos eletrônicos, como computador, HD e celular, foram apreendidos na residência e passarão por uma perícia. O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) acompanha o caso. No inquérito contra a vereadora, além de injúria racial e ameaça, o crime de racismo foi incluído.
“A gente tem comprovação da injúria racial, da ameaça e do crime de racismo do Artigo 20. Porque o problema não era a vereadora Ana Lúcia em si. Se qualquer negro estivesse ali, naquela posição, certo, ele reagiria da mesma forma”, disse a delegada.
Ataques
Ao menos quatro mensagens contra a vereadora foram publicadas na última segunda-feira (16). Um dos comentários dizia: “os fascistas mandaram avisar que ela que se cuide”. Em outro post estava escrito: “Agora só falta a gente m4t4r el4 [sic] e entrar o suplente que é branco”.
Após a divulgação do caso, o Conselho Pleno da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC) repudiou os ataques à Ana Lúcia. O órgão oficiou à Secretaria de Segurança Pública (SSP) requerendo prioridade na investigação do crime.
Vereadora eleita
Ana nasceu no bairro Floresta, zona Sul de Joinville, atuou como servidora pública, professora e é uma das lideranças na defesa dos direitos das mulheres, da população negra, imigrantes e de comunidade periféricas na cidade, que é o maior colégio eleitoral de Santa Catarina.
Ao G1 SC, a vereadora disse na quinta (19) que, quando soube da ameaça de morte publicada em uma rede social, na terça (17), durante a reunião com assessores, ela logo pensou: “Vai acontecer comigo o que aconteceu com a Marielle. E eu me perguntava, gente, mas eu nem assumi o mandato”.
Ao mesmo tempo, a vereadora eleita classificada em sétimo lugar nas eleições municipais afirma que o episódio dá força para seguir com os planos de candidatura de paz no Legislativo. Ela assume para a gestão 2021 – 2024.
“Desde a minha adolescência eu participo de movimentos sociais, participo do movimento negro, da organização de mulheres negras e todos esses movimentos fortaleceram essa candidatura e todos esses movimentos e muitos outros estão sendo solidários. Ninguém vai nos impedir de ocupar este lugar”, afirmou.
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