O corpo do ídolo argentino Diego Maradona foi sepultado por volta das 20 horas desta quinta-feira (26) no Jardim da Paz, em Bella Vista, mesmo cemitério na periferia de Buenos Aires onde seus pais estão enterrados.
O acesso ao cemitério foi restrito a poucas pessoas pela família de Maradona. A entrada da imprensa foi proibida.
Carro carregando o caixão de Diego Maradona chega ao cemitério Jardim da Paz, em Bella Vista, na Argentina, na quinta-feira (26) — Foto: Reuters/Agustin Marcarian
Um cortejo, acompanhado por escolta policial, levou o caixão da Casa Rosada, onde aconteceu o velório, até o cemitério, um percurso de 47 quilômetros.
Caravana acompanha cortejo que leva o corpo de Diego Maradona até o cemitério Jardim da Paz, em Bella Vista, na Argentina, na quinta-feira (26) — Foto: Reuters/Magali Druscovich
Enquanto o carro fúnebre e sua escolta seguiam por uma pista exclusiva, ao lado centenas de pessoas acompanhavam o trajeto em uma caravana de motos. Pessoas também se amontoavam nas laterais ou até se arriscavam em pé nas muretas entre as pistas, além de ocupar passarelas em alguns trechos.
Caixão de Diego Maradona, coberto por bandeira da Argentina, é colocado em carro que o transportaria até o cemitério Jardim da Paz, em Vella Vista, na quinta-feira (26) — Foto: Esteban Collazo/Argentina’s Presidency Press Office/AFP
O enterro atrasou após seu velório ser prorrogado, para que mais pessoas tivessem tempo de se despedir do ex-jogador da seleção argentina.
Uma imensa multidão esteve na Casa Rosada, sede do governo da Argentina, e o fim oficial do velório, previsto para às 16 horas, foi adiado para às 19 horas. Mas um enorme tumulto fez com que ele fosse encerrado às 17 horas.
Carro funerário carregando o caixão de Diego Maradona deixa a Casa Rosada em direção ao cemitério Jardim da Paz, em Bellavista, na quinta-feira (26) — Foto: Juan Mabromata/AFP
Por volta das 15h45 houve uma situação de descontrole em que muitos torcedores entravam no palácio e a polícia interveio, bloqueando a passagem. Pessoas começaram a subir pelas grades da Casa Rosada e bombeiros jogaram água para impedir. A imprensa local afirma que gás lacrimogêneo foi lançado dentro do palácio. O caixão de Maradona foi retirado da área da capela por motivo de segurança.
Também à tarde imagens ao vivo mostravam confrontos entre torcedores e a polícia nas avenidas de Mayo e 9 de Julio, duas das principais da cidade. Foram usados gás lacrimogêneo, balas de borracha e lançadores de água para controlar os distúrbios.
Multidão se aglomera no Centro de Buenos Aires durante velório de Maradona, nesta quinta (26) — Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Confusão entre torcedores e polícia na entrada da Casa Rosada, que abriga o velório de Diego Maradona nesta quinta (26) — Foto: Reuters/Ricardo Moraes
Fãs de Maradona lotam a Casa Rosada para se despedir do ídolo
Argentino chora e é amparado pelo amigo na Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, onde o corpo de Diego Maradona é velado — Foto: Rodrigo Abd/AP
Fãs e policiais brigam durante velório de Diego Maradona
Princípio de tumulto na Plaza de Mayo, na entrada da Casa Rosada: milhares de torcedores tentam participar do velório de Diego Maradona em Buenos Aires, Argentina, em 26 de novembro de 2020 — Foto: Marcos Brindicci/AP
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, e a primeira-dama, Fabiola Yáñez, durante velório de Diego Maradona — Foto: Presidência da Argentina via AP
Dentro do palácio presidencial, torcedores emocionados jogaram flores e camisetas sob o caixão, que estava fechado e coberto pela bandeira da Argentina e por camisas da seleção e do Boca Juniors.
O governo do presidente Alberto Fernández declarou luto oficial de três dias, e estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas participaram do funeral. O presidente, bem como sua vice, Cristina Kirchner, também estiveram no velório.
Torcedores jogam flores e camisas em direção ao caixão de Maradona durante velório na Casa Rosada — Foto: Reprodução/GloboNews
Maior jogador da história da Argentina e lenda do futebol mundial, Maradona morreu aos 60 anos, após sofrer uma parada cardiorrespiratória em casa, na cidade de Tigre, na região metropolitana da capital. Ele havia passado por uma delicada cirurgia no cérebro no começo do mês e recebeu alta oito dias depois, após drenar uma pequena hemorragia cerebral.
Maradona sofreu um infarto enquanto dormia, segundo resultado preliminar da autópsia revelado pelo jornal argentino “La Nación” nesta quinta-feira (26). Ele teve uma insuficiência cardíaca aguda, congestiva e crônica, que gerou um edema agudo no pulmão, segundo o documento.
Torcedor envolto em bandeira da Argentina lamenta a morte de Diego Maradona na noite de 25 de novembro de 2020 em frente à Casa Rosada, sede do governo da Argentina, em Buenos Aires — Foto: Victor Caivano/AP
O corpo de Maradona chegou à Casa Rosada por volta de 1h30, e a cerimônia foi realizada primeiro com a presença dos familiares. Sua mulher, Claudia, e seus filhos estavam no local.
Jogadores da seleção argentina de 1986, que ganharam a Copa do México junto com o craque argentino, também foram ao palácio presidencial.
Argentinos choram a morte de Diego Maradona em Buenos Aires — Foto: Natacha Pisarenko/AP
Camisas da seleção argentina e do Boca Juniors são maioria entre os milhares de torcedores que comparecem para se despedir do astro — Foto: Martin Villar/Reuters
Diego Maradona ergue a Copa do Mundo após vitória da Argentina sobre a Alemanha Ocidental em 1986, na Cidade do México — Foto: Carlo Fumagalli/AP
Maradona deixa três filhas (Dalma, Gianinna, Jana) e dois filhos (Diego e Diego Fernando) e uma trajetória vitoriosa no futebol: ganhou a Copa do Mundo de 1986 com a seleção argentina e foi vice em 1990. Passou por grandes clubes, como Boca Juniors, Barcelona e Napoli, e atuou como técnico, inclusive dirigindo a seleção argentina na Copa do Mundo de 2010.
Campeão mundial na Copa do Mundo de 1986, quando ficou eternizado pelos dois gols que marcou contra a seleção da Inglaterra nas quartas de final, Maradona era reverenciado e tratado como Deus na Argentina.
“Muitas vezes me dizem: ‘Você é Deus’. E eu respondo: ‘Vocês estão equivocados’. Deus é Deus, e eu sou simplesmente um jogador de futebol”, afirmou o craque argentino em 1991.
Seu gol de mão contra a Inglaterra ficou mundialmente conhecido pela “mão de Deus”. O outro gol, em que Maradona driblou metade do time (inclusive o goleiro), foi eleito pela Fifa em 2002 como o mais bonito da história das Copas do Mundo.
Maradona salta para dar um soco na bola e marcar um gol sobre a Inglaterra nas quartas-de-final da Copa do Mundo do México, em 1986. O episódio do gol ilegal validado pelo juiz ficou conhecido por ‘A mão de Deus’ — Foto: El Grafico via AP/Arquivo
Maradona também jogou as Copas de 1982, 1990 e 1994. Em 1990, ele e Caniggia fizeram a jogada que eliminou a seleção brasileira nas oitavas de final. Em 1994, foi pego no exame de antidoping e cortado da seleção argentina (veja abaixo mais sobre a sua trajetória como jogador).
Problemas de saúde e com as drogas
Maradona conviveu durante toda a sua vida com o vício das drogas, que lhe rendeu duas suspensões quando era jogador.
“Eu era, sou e serei um viciado em drogas”, afirmou Maradona em 1996 em entrevista à revista “Gente”. Em 2004, afirmou à rede de televisão argentina “Canal 9”: “Estou perdendo por nocaute”.
Em 2000, o argentino sofreu um ataque cardíaco devido a uma overdose em um resort uruguaio de Punta del Este e passou por um longo tratamento.
Foto de 19 de fevereiro de 2006 mostra Maradona fumando um charuto antes de uma partida de futebol na Bombonera, o estádio do Boca Juniors — Foto: Marcos Brindicci/Reuters/Arquivo
Diego Maradona em foto de março deste ano — Foto: Natacha Pisarenko/AP
Pesando mais de 100 quilos, o argentino teve outra crise cardíaca e respiratória em 2004, em Buenos Aires, que o deixou à beira da morte.
Entre 2001 e 2005, Maradona viajou a Cuba para tratar de sua dependência química. Foi em Havana que ele conheceu Fidel Castro, a quem chamava de “segundo pai”.
Recuperado, fez uma cirurgia bariátrica, perdeu 50 quilos e um ano depois retornou como um apresentador de televisão de sucesso.
Em 2007, os excessos no consumo de álcool o levaram a uma nova hospitalização, agora por hepatite. Depois, foi internado em um hospital psiquiátrico.
Veja frases marcantes de Diego Maradona
Um dos maiores da história
Diego Armando Maradona nasceu em 30 de outubro de 1960 em Lanús, na província de Buenos Aires. “El Pibe de Oro” cresceu em Villa Fiorito, um bairro muito pobre da periferia da capital argentina.
Com apenas 15 anos, Maradona começou a jogar como profissional no Argentinos Juniors, onde atuou entre 1976 e 1981 e fez 116 gols em 166 partidas. Com o sucesso, se transferiu em 1982 para o Boca Juniors, onde ficou apenas uma temporada.
O craque argentino logo foi para o Barcelona, onde atuou entre 1982 e 1984, na transferência mais cara do futebol até então: US$ 8 milhões (US$ 21,5 milhões em valores corrigidos pela inflação).
De lá foi para o Napoli, na Itália, onde ganhou uma Copa da Uefa, dois Campeonatos Italianos, uma Copa e uma Supercopa da Itália entre 1984 e 1991 e virou ídolo.
Diego Maradona comemora após marcar seu gol da vitória contra a Inglaterra na semifinal da Copa do Mundo no México, em 22 de junho de 1986 — Foto: Ted Blackbrow/Pool/Reuters/Arquivo
Em 17 de março de 1991, seu vício em cocaína custou-lhe a primeira suspensão, de 15 meses. Voltou aos gramados pelo Sevilha, da Espanha, onde jogou entre 1992 e 1993, e retornou à Argentina para uma breve passagem pelo Newell’s Old Boys em 1993.
Depois da Copa do Mundo de 1994 (e da sua segunda suspensão), vestiu mais uma vez a camisa do Boca, onde deixou os gramados em 25 de outubro de 1997, cinco dias antes de seu 37º aniversário.
Em uma despedida memorável em 2001, no estádio La Bombonera lotado, Maradona falou sobre seus vícios: “Errei e paguei, mas o que fiz em campo não se apagou”.
Um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, ao lado de Pelé, o craque argentino disputou 676 jogos e marcou 345 gols em 21 anos de carreira na seleção argentina e em clubes.
Pelé e Maradona recebem troféus no Oscar dos Esportes em Milão, na Itália, em março de 1987 — Foto: AP/Arquivo
Relembre momentos marcantes de Maradona, que morreu aos 60 anos
Maradona também atuou como técnico — atualmente, dirigia o Gimnasia y Esgrima La Plata, um pequeno clube argentino da cidade vizinha a Buenos Aires.
Ele treinou também Mandiyú (1994), Racing (1995), Al Wasl (2011-2012), Al Fujairah (2017-2018) e Los Dorados de Sinaloa (2018), além da seleção argentina na Copa de 2010.
Cronologia – Linha do tempo de Diego Maradona — Foto: Amanda Paes/G1
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