O anúncio do governador João Doria de que qualquer cidadão brasileiro poderá tomar a vacina desde que esteja em solo paulista já preocupa os municípios do estado que fazem divisa com outras unidades da federação. Cidades como Queluz, próxima ao estado do Rio de Janeiro, ou Barra do Turvo, ao lado do Paraná, esperam que o governo estadual defina um protocolo claro sobre como lidar com um eventual “turismo de vacina”.
Por enquanto, as brincadeiras de moradores de outros estados sobre possíveis caravanas rumo a São Paulo não passam de memes compartilhados nas redes sociais, mas municípios que já atendem moradores de outros estados em busca de atendimento na rede básica de saúde agora se preocupam com uma possível corrida interestadual pelo imunizante.
E há situações especialmente curiosas. Em Queluz, por exemplo, um dos bairros, o da União, está localizado no limite de três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
— Queluz é uma cidade pequena, temos 13 mil habitantes aqui. E o bairro da União fica na fronteira com Resende, no Sul Fluminense do Rio. Lá tem uma Unidade Básica de Saúde situada bem na divisa. A gente não pode negar atendimento, é tudo SUS, mas não é uma unidade grande. Precisamos ver qual será a regra — afirma a secretária de Saúde do município, Marilda Ferreira.
‘O sistema é único’
São Paulo faz fronteiras com quatro estados: Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesta segunda-feira, o governador João Doria já afirmou que vem conversando com outros governantes interessados em adquirir a Coronavac. O governo paulista não divulga com quem conversou. Por enquanto, desses quatro estados, apenas o Rio de Janeiro já confirmou tratativas com São Paulo.
Além do governo fluminense, a Paraíba, o Acre, o Ceará, o Maranhão e o Pará já demonstraram interesse na vacina. No Paraná, a cidade de Curitiba também tem conversado com o governo estadual.
Na fronteira com o Paraná, a secretária de Saúde de Barra do Turvo, Juliana Aparecida Sanches Caetano, também aguarda um protocolo para lidar com esse tipo de situação. Ela conta que a cidade costuma receber moradores do município paranaense de Campina Grande do Sul, em busca de um encaminhamento ou de atendimento especializado. O cenário da chegada da vacina, entretanto, não deve ter comparação:
— Tanto os moradores de lá vêm buscar aqui como os nossos vão procurar lá. Mas nesse caso precisaremos de u protocolo rigoroso porque isso não costuma acontecer para a vacinação (será algo inédito) — afirma.
A secretária também destacou que a rede pública, vinculada ao SUS, não pode negar atendimento a ninguém. Por isso, enfatiza, é necessário um planejamento que garanta um estoque (de vacinas).
— Isso ainda não foi discutido. Prefiro esperar para comentar, mas poderemos quem sabe ter um protocolo específico para os municípios da redondeza para termos um padrão de trabalho. Não dá para ficar peneirando paciente, o sistema é, afinal, único, mas precisamos de um protocolo — afirma.
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