No momento em que lamenta quatro mil mortes causadas pela Covid-19, marca alcançada na terça-feira (25), a Paraíba vive a expectativa da imunização da população. Há uma semana, no dia 19 de janeiro, houve o início da vacinação em parte dos municípios paraibanos.
Apenas em 2021, foram confirmadas 331 mortes e mais de 19,5 mil novos casos de infecção pelo novo coronavírus na Paraíba.
Julho do ano passado passado foi o mês com mais mortes confirmadas, com 1.168 notificações. Em agosto, o estado dobrou, no espaço de 38 dias, o número de mortes causadas pela Covid-19, passando de 1.002 para 2.023.
Entre as milhares de histórias interrompidas pela pandemia, está a do professor de filosofia Renê Machado, que morreu aos 33 anos em um hospital público de Campina Grande. Além de defender a não realização de aulas presenciais, ele deixou o legado da luta por uma educação de qualidade para os colegas.
Para a família, a lembrança que fica é a dos bons momentos compartilhados com o educador.
“Fomos muito felizes”, declarou a esposa Sabrina Vieira, de 31 anos.
Renê com a esposa e o filho comerando a chegada de 2021 — Foto: Sabrina/Arquivo pessoal
Em quase um ano de pandemia, muitos trabalhadores da saúde arriscaram as próprias vidas para salvar as de outras pessoas. Só em 2020, 22 médicos morreram por causa da doença. Em 2021, foram oito mortes. Três delas no primeiro fim de semana do ano, conforme informou o Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB).
As perdas também marcaram o meio artístico e cultural. O cantor Genival Lacerda foi uma das vítimas da doença. Infectado pela Covid-19, ele foi internado no dia 1º de dezembro do ano passado em um hospital no Recife. No dia sete de janeiro, não resistiu à doença e morreu, aos 89 anos.
Nos seus 64 anos de carreira, Genival Lacerda se tornou ídolo popular e conhecido em todo o Brasil — Foto: André Gomes/Secult-PE/Divulgação
No campo da política, a morte mais recente foi a do ex-prefeito de Patos Ivanes Lacerda. Ele contraiu a Covid-19 nos últimos dias de mandato. Por isso, não compareceu à posse do sucessor, mas seguia em casa sob observação.
No dia 3 de janeiro, foi até João Pessoa e se internou no hospital, depois de perceber pioras em seu quadro clínico. Na segunda (25), faleceu em decorrência de complicações causadas pela infecção.
Ivanes de Lacerda Ramalho, ex-prefeito de Patos, morreu por complicações da Covid-19 — Foto: Epitácio Germano/Arquivo Pessoal
João Pessoa é cidade com mais mortes causadas pela doença, com 1.255 óbitos, seguida por Campina Grande, com 503 (veja ranking abaixo).
Cinco cidades da PB com mais mortes por Covid-19
Cidade | Mortes |
João Pessoa | 1.255 |
Campina Grande | 503 |
Santa Rita | 186 |
Bayeux | 133 |
Patos | 123 |
Fonte: SES-PB
Desde o começo da vacinação no estado, 91 novas mortes foram confirmadas. A expectativa é de que esse número diminua gradativamente com o avanço da vacinação nos 223 municípios paraibanos.
Na corrida para salvar vidas, todas as cidades da Paraíba receberam as primeiras doses do imunizante. Três remessas da vacina chegaram ao estado. Duas com lotes da CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac. No Brasil, ela está sendo produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. A outra é da vacina fabricada pela Oxford/AstraZeneca.
A enfermeira Marineide Rodrigues Gouveia Ferreira, de 60 anos, primeira pessoa a se vacinar contra a Covid-19 na Paraíba, trabalha na área da saúde há 17 anos. Na linha de frente ao combate da pandemia, ela desabafou sobre o que viveu nos últimos 10 meses.
“Todos nós, unidos, com uma causa de salvar vidas, enfrentamos a pandemia. Fui, com a equipe, tentando, na medida do possível, prestar nossa assistência. Não foi fácil. Foi muito lamentável, vendo tantas vidas ceifadas. Lembrem-se que a pandemia não acabou e que todos devem seguir rigorosamente todas as recomendações da Vigilância Sanitária”, declarou.
Embora tenham acumulado relatos tristes para contar, a esperança de dias melhores parece a melhor opção para se apegar. Uma delas é o técnico de enfermagem Joseildo da Silva Batista, de 33 anos, primeiro vacinado em Campina Grande.
No início da pandemia, trabalhando na linha de frente no combate ao novo coronavírus, ele passou a dormir no terraço da casa, para não infectar a mãe, uma idosa de 74 anos, que tem asma e pressão alta.
Mesmo no momento em que começou a ser imunizado, o profissional de saúde lembrou da mãe. Mas, agora, não só com cuidado e preocupação, mas também com otimismo.
“Daqui pra frente vai ser uma nova história. História de esperança. Que não só eu, mas que todos sejam vacinados. Eu queria que minha mãe tivesse se vacinado antes de mim, mas o momento dela vai chegar”, concluiu.
O momento também requer cuidado. Também na segunda (25), o Laboratório Central de Saúde Pública da Paraíba (Lacen-PB) confirmou que identificou a circulação de uma nova cepa do coronavírus no estado.
Segundo o secretário executivo de saúde, Daniel Beltrammi, trata-se da mutação E484K, identificada originalmente na África do Sul e que tem uma maior capacidade de infecção.
A prevenção, contudo, continua sendo a melhor forma de combate ao novo coronavírus, conforme reforçou o secretário estadual de saúde, Geraldo Medeiros.
O uso de máscaras, a higienização das mãos com água e sabão e álcool em gel, assim como o respeito da distância entre pessoas são medidas que devem ser intensificadas para conter o avanço da doença.