Crise do oxigênio: um mês após colapso em hospitais, Manaus ainda depende de doações do insumo

Manaus completa um mês, neste domingo (14), do início de uma situação trágica em hospitais: o colapso provocado pela falta de oxigênio para pacientes internados com Covid-19. A capital já vivenciava um aumento progressivo no número de casos da doença desde dezembro, o que lotou os hospitais de referência em janeiro. Com o grande volume de internações, já não havia mais o insumo para os doentes que dependiam dele para seguir o tratamento.

E a situação ainda não está totalmente controlada no estado. Por meio de nota, o governo do Amazonas disse que as unidades da capital e do interior estão abastecidas, mas a demanda pelo insumo ainda está acima da média histórica, considerando que o Amazonas vive a fase mais aguda da pandemia.

“Dessa forma, para garantir o adequado fornecimento de oxigênio aos hospitais e serviços de pronto atendimento, ainda é necessário o transporte do insumo de outras plantas da White Martins de outros estados para Manaus. Assim como das doações realizadas pelo Governo Federal e por empresas que se sensibilizaram com a crise humanitária vivida no Estado”, explica o texto.

Familiares buscando desesperadamente cilindros de oxigênios para os pacientes internados, enquanto médicos transportavam cilindros nos próprios carros para levar aos hospitais e parentes formando longas filas em frente às distribuidoras foram algumas das cenas que deixaram o país perplexo. Em meio a esse ambiente caótico, os pacientes morriam asfixiados, sem oxigênio. Artistas e empresas de diversas partes do país se mobilizaram para enviar o insumo à cidade.

A White Martins, principal empresa que fornece o insumo, informou na época que estava com dificuldades de produção, e o governo passou a buscar oxigênio em outros estados em aviões da Força Aérea Brasileira. No dia 27 de janeiro, comentando a crise de oxigênio, o governador Wilson Lima afirmou que avisou ao Ministério da Saúde e aos órgãos de controle todas as informações relacionadas à falta de oxigênio em Manaus.

Atualmente, a média diária de consumo de oxigênio nas unidades de saúde de Manaus é de 86 mil metros cúbicos, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Antes da pandemia, a média de consumo diário era de 14 mil metros cúbicos, volume normalmente atendido pela produção das três fornecedoras da região (White Martins, Carbox e Nitron). Essas empresas, juntas, produziam 28,2 mil metros cúbicos diários. Na segunda onda de casos de covid-19, o consumo de oxigênio passou para 76,5 mil metros cúbicos no dia, provocando um déficit diário de 48,3 mil metros cúbicos

Com a situação alarmante, o Amazonas passou a enviar pacientes para receber atendimento em outros estados. A estimativa inicial era transportar 235 pacientes, mas o próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a expectativa do governo era mandar 1,5 mil pacientes para tratamento em outros estados em função da falta de condições de atendimento no Amazonas. Ao todo, mais de 500 pacientes já foram transferidos. O transporte dos passageiros é feito em aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), que foram adaptadas para essa finalidade.

O colapso vivenciado na capital, pela falta do insumo nas unidades de saúde, logo se estendeu para o interior do Estado. Defensores públicos que atuam em municípios do interior do Amazonas informaram que, entre os dias 15 e 19 de janeiro, foram registradas pelo menos 30 mortes de pacientes com Covid-19 e síndromes respiratórias. As vítimas teriam morrido por falta de oxigênio ou falta de remoção para cidades com condições de atendê-las.

Instalação de Usinas
Em outra frente, também com o apoio do Governo Federal, empresas parceiras e prefeituras, o Governo do Amazonas disse que está instalando usinas de oxigênio em unidades de saúde da capital e do interior, com o objetivo de diminuir a dependência dessas localidades de envio de fora de oxigênio.

O total de usinas previstas para instalação no Amazonas até este fim de semana é de 74. Dessas, 28 já estão operando, segundo o Governo. No interior, a previsão é de instalar usinas em 30 municípios. Desses, 9 cidades já estão com usinas em operação.

Números da pandemia
No Amazonas, o número de casos confirmados passa dos 294 mil e o de mortes chega a 9.819, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) divulgados no sábado (13).

O Amazonas começou a viver um novo aumento de casos, internações e óbitos pela Covid-19 logo após o Natal. Com o aumento de mortes, o governo voltou a instalar câmaras frigoríficas nos principais hospitais de Manaus. As estruturas foram montadas, pela primeira vez, em abril, após o colapso nos sistemas de saúde e funerário do estado.

O mês de janeiro deste ano teve o maior número de novas internações por Covid desde o começo da pandemia. Até então, abril e maio registravam os recordes da doença, quando o estado passou pela primeira onda. Mas em fevereiro a situação segue complicada: as mortes por Covid-19 nos dez primeiros dias de fevereiro em Manaus tiveram um aumento de 65,92% em relação ao mesmo período de janeiro. Entre 1º e 10 de janeiro, a capital registrou 270 óbitos em decorrência da doença, enquanto em fevereiro foram contabilizados 448.

Os cemitérios também voltaram a registrar movimentação intensa e começaram abrir novas covas para receber os corpos. No entanto, o secretário de limpeza pública de Manaus, Sabá Reis, disse em dezembro que a cidade não voltaria a ter enterros em valas comuns diante do aumento de sepultamentos. Por isso, foram instaladas câmaras frigoríficas também nos cemitérios.

Ministro da saúde em Manaus
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, está em Manaus pela terceira vez no intervalo de um mês. O governador Wilson Lima publicou uma foto, nas redes sociais, afirmando já que se reuniu com o ministro para alinhar a execução do “Plano de Aceleração da Vacinação na Amazônia”, que deve começar pelo estado.

O ministro é alvo de inquérito da Polícia Federal que investiga se houve omissão dele em relação ao colapso no Amazonas.

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