É inacreditável que um presidente da República possa agir de maneira tão vil diante da morte de milhares e do sofrimento de milhões de cidadãos e cidadãs sob o seu governo, como Bolsonaro vem fazendo desde o início da pandemia do covid-19. Negação, omissão, desídia, indiferença, desinformação, sabotagem, chacota e transferência de responsabilidade: é isso que ele faz e promove no contexto da maior crise sanitária da história da Brasil, que já ceifou mais de 255 mil vidas.
É inacreditável, mas é explicável.
Em primeiro lugar, todo fascista é um necrófilo. Sente prazer com a morte e o sofrimento do outro. Tem orgasmo ao torturar e matar. Não há como esperar um mínimo de empatia e humanidade de um sujeito cujo herói é o coronel Brilhante Ustra, o monstro sádico que na ditadura militar chefiou o DOI-Codi – o “quartel-general” da tortura – e que tinha como prática estuprar e inserir ratos vivos na vagina de suas vítimas, entre outras barbaridades. Esse mesmo sujeito, hoje presidente da República, que disse que a ditadura militar “deveria ter matado uns 30 mil” no Brasil. Jair Bolsonaro é um fascista, ele cultua a morte, por isso ama a pandemia.
Mas, há algo além de deficiência de caráter nessa tara bolsonariana. Sua postura nefanda tem alguma coisa de estratégia. Embora a pandemia afete pessoas de todas as idades e classes sociais, a mortalidade é infinitamente maior entre os pobres e os idosos, como se sabe. Pessoas que, na visão de neoliberais fanáticos como ele, são tão-somente “pesos mortos” para o país: melhor que morram mesmo, o quanto antes, pois assim, eles ajudam no “equilíbrio das contas públicas”, no “ajuste fiscal” e a resolver os (alegados) problemas de caixa da previdência social. Por seu pragmatismo patológico, Bolsonaro ama a pandemia.
O presidente mais preguiçoso e incapaz que este país já teve também ama a covid-19 por interesses eleitoreiros. Por um lado, enquanto houver pandemia, Bolsonaro vai se eximindo de sua própria incúria administrativa e incompetência em governar, pois tudo será culpa dela. Ou dos governadores, ou dos prefeitos, ou do fórum de São Paulo, ou do diabo que o carregue. Por outro lado, Bolsonaro alimenta as hordas de imbecis teleguiados que o seguem com as suas diatribes negacionistas e obscurantistas que, espalhadas pelas redes sociais por robôs e gentes, ajudam a manter os seus inacreditáveis 30% de popularidade. Para quem acreditou em kit gay e mamadeira de piroca, tudo é possível. Afinal de contas, o homem é um mito…
Pode haver, ainda, interesses mais venais naquela personalidade doentia. Como um negociante vulgar, o ex-deputado que enriqueceu a si e aos filhos com “rachadinhas” y otras cosítas más, pode ter visto uma “oportunidade” na crise, mesmo sendo ela das mais lúgubres. Não sei não, mas essa coisa de “prescrever” e propagandear insistentemente remédios contraindicados por médicos e cientistas, que explodiram em vendas da noite para o dia, me cheira a jabá. E ele, como um dos mais proeminentes espécimes do baixo clero da política nacional, adora um jabá. Sabe-se lá o que pode urdir aquela mente insana. A conferir…
Finalmente, mas não menos importante, embora Bolsonaro combata o isolamento social e não se canse de promover aglomerações, ele sabe que o campo democrático-popular respeita a ciência e a vida e, por responsabilidade, empatia e coerência, suas lideranças não vão promover manifestações de rua, que seriam o único meio para desgastá-lo, isolá-lo e – quem sabe? – impedi-lo de seguir governando o país como um psicopata sanguinário. Também por isso, Bolsonaro ama a pandemia e abomina a vacina (para os outros).
Márcio Caniello