Após uma série de atrasos, a Fiocruz vai começar a entregar suas primeiras vacinas contra a Covid-19 envasadas no Brasil. A previsão é que pouco mais de 1 milhão de doses seja enviado até o fim de semana –500 mil na quarta (17) e outras 580 mil até sexta (19).
A fabricação nacional do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, a partir da matéria-prima importada, foi autorizada de forma definitiva pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na última sexta (12).
Até agora, todas as doses desse tipo usadas no país foram compradas prontas do Instituto Serum, na Índia. Elas correspondem a 26% das 11 milhões de unidades já aplicadas na população brasileira, ante 74% da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em São Paulo.
Até o final de março, a Fiocruz planeja enviar um total de 3,8 milhões de doses ao Ministério da Saúde, que depois serão distribuídas aos estados. Isso representa só um quinto da quantidade anteriormente calculada pela pasta (16,9 milhões) e um quarto do previsto pela fundação (15 milhões) nesse prazo.
Além da demora na importação do IFA (insumo farmacêutico ativo) vindo da China, contribuiu para o adiamento um problema recente no equipamento que fecha os frascos, chamado de máquina de recravação. Foi preciso esperar uma semana até que o aparelho fosse consertado e novamente validado.
“Anunciamos 15 milhões de doses com base nas informações que tínhamos no momento. Na medida em que a gente vai internalizando o processo, a gente vai conhecendo melhor os rendimentos de produção. É uma tecnologia nova, a cada dia aprendemos um pouco”, disse na semana passada o diretor da fábrica de Bio-Manguinhos, Maurício Zuma.
Foi para compensar essa demora que a Fiocruz negociou a importação das unidades já prontas da Índia, que também estão atrasadas: só 4 das 12 milhões de doses previstas foram trazidas. O restante era esperado em março e abril, mas agora é aguardado entre abril e julho.
No total, serão 112 milhões de vacinas entregues pela fundação até julho, incluindo a produção própria e a importação. A expectativa é que a capacidade de envasamento de Bio-Manguinhos aumente consideravelmente nas próximas semanas, passando de 250 a 300 mil doses diárias para 1 milhão no fim do mês.
Até o final do ano, serão mais 110 milhões de unidades feitas com o IFA fabricado nacionalmente. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que o processo de transferência dessa tecnologia está bastante avançado e que os equipamentos já estão totalmente instalados.
Enquanto isso, na Europa, 13 países decidiram suspender temporariamente a aplicação da vacina da AstraZeneca/Oxford. Nesta segunda (15), Alemanha, França, Itália, Irlanda e Holanda se juntaram a Dinamarca, Noruega, Islândia, Áustria, Estônia, Lituânia, Letônia e Luxemburgo nessa lista, que inclui ainda a Indonésia.
A intenção é se certificar de que o imunizante não tem ligação com efeitos colaterais mais graves. As suspensões começaram na semana passada, após casos de morte por trombose na Dinamarca e na Áustria, apesar de posição contrária da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da EMA (agência regulatória europeia).
Ambas as entidades afirmam que os dados disponíveis até agora não indicam uma proporção de casos maior que a da população em geral. Grupos de especialistas das duas organizações vão se reunir nesta terça (16), separadamente, para avaliar as informações disponíveis e emitir novas recomendações.
Segundo a responsável por vacinas da OMS, Mariângela Simão, os lotes sobre os quais foram relatados problemas foram distribuídos apenas na Europa. Não há suspeitas de problemas com os imunizantes fabricados na Índia e na Coreia do Sul, de onde também virão doses adquiridas pelo Brasil através do consórcio Covax Facility.
Procurada, a Fiocruz ainda não se manifestou sobre a suspensão do uso da vacina na Europa.
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