Técnico de enfermagem atravessa rio para vacinar idosa contra Covid-19: ‘dose de esperança’

“Cada dose aplicada, é uma família a menos preocupada”. Esse é o lema que o técnico de enfermagem João Bezerra da Silva, de 34 anos, repete ao dar continuidade à campanha de vacinação contra Covid-19 em Monteiro, município do Cariri da Paraíba. Repetindo essa máxima, ele se sentiu motivado para viver uma grande experiência profissional e humana: atravessar um rio para aplicar o imunizante em uma idosa de 78 anos de idade.

“A gente faz o possível para levar uma dose de esperança pra essa população que mais é necessitada, principalmente da zona rural”, garantiu.

A travessia foi realizada na terça-feira (23). Parecia um dia de comum de trabalho, já que a rotina, por lá, é um tanto incomum. O deslocamento para localidades remotas faz parte do cotidiano do técnico de enfermagem, assim como de toda a equipe de vacinação.

Assim que chegou em Monteiro, João foi avisado que teria nove pacientes. No entanto, só aplicaria a vacina em oito, porque, com uma estrada bloqueada, o caminho mais viável seria o rio.

Intrigado, ele questionou sobre a altura da água e disse que se fosse de até um metro, faria o percurso. Com a água na altura do joelho, ele pediu para que Caio, que é agente de saúde, chamasse a idosa até a margem do manancial.https://7d10ddeb4c88114cecb6b7733c7f9e48.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Vacinação de idosos contra a Covid-19 em Monteiro, no Cariri da Paraíba — Foto: João Bezerra/Arquivo pessoal

Vacinação de idosos contra a Covid-19 em Monteiro, no Cariri da Paraíba — Foto: João Bezerra/Arquivo pessoal

Quando ela chegou ao ponto de encontro, ele tirou os sapatos e ergueu as barras da calça. Atento, teve que pensar na própria segurança e também na das vacinas. Segurou firme nas caixas térmicas que armazenavam o imunizante e, com cuidado para não escorregar, foi até a idosa.

“Pra mim, foi recompensador. Tinha duas acompanhantes com ela. Elas [as três] ficaram pulando de alegria. Não acreditavam que a gente [ele e o agente de saúde] ia atravessar. E eu disse ‘a senhora não vai esperar o rio baixar’. A alegria dela, o sorriso não tem preço”, lembrou.

Segundo João, a idosa teria que esperar de um a dois meses para que o rio baixasse e ela fosse vacinada.

Nesse momento, reflexivo, ele lembrou do segundo lema que usa para se sentir estimulado no trabalho.

“Nenhum obstáculo vai ser o suficiente pra nos impedir. Sempre com a proteção de Deus, sempre com muito cuidado”, prosseguiu.

Técnico de enfermagem atravessa o Rio Paraíba para vacinar idosa contra Covid-19, em Monteiro — Foto: João Bezerra/Arquivo pessoal

Técnico de enfermagem atravessa o Rio Paraíba para vacinar idosa contra Covid-19, em Monteiro — Foto: João Bezerra/Arquivo pessoal

O rio que João atravessou se chama Paraíba, assim como o estado. O manancial leva águas da chuva e também da transposição do Rio São Francisco para o açude de Boqueirão, que abastece 19 cidades.

Vencer obstáculos se tornou rotina para João. Ele trabalha em Monteiro, mas mora em Sertânia, cidade do estado vizinho, Pernambuco. Somando ida e volta, são quase 60 quilômetros percorridos em uma motocicleta.

João aplicando dose de vacina contra a Covid-19, em Monteiro, na Paraíba — Foto: João Bezerra/Arquivo pessoal

João aplicando dose de vacina contra a Covid-19, em Monteiro, na Paraíba — Foto: João Bezerra/Arquivo pessoal

“Chego em casa e vou dormir já pensando em ir trabalhar no dia seguinte para levar amor e carinho a quem necessita”, destacou.

Para João, missão dada é missão cumprida. Em outra situação, ainda na campanha de vacinação contra a Covid, o carro em que estava não podia continuar por uma via cheia de pedras. Ele caminhou por mais de um quilômetro, com fome e debaixo do sol forte das 13h, para aplicar a segunda dose da vacina em um idoso de 95 anos.

“É gratificante. Energia pra trabalhar o resto da semana todinha”, recordou com alegria.

O técnico de enfermagem foi vacinado em janeiro deste ano. Em casa, ele reforça os cuidados de prevenção ao novo coronavírus, principalmente com a filha que tem nove anos e alguns problemas respiratórios. A esposa, que escolheu a mesma profissão, também já foi imunizada.

G1PB