CPI ouve nesta terça médica considerada peça-chave de ‘ministério paralelo’ da Saúde

A CPI da Covid ouvirá nesta terça-feira (1º) a oncologista e imunologista Nise Yamaguchi, uma das principais defensoras do tratamento precoce no combate ao coronavírus. Também defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, a medida é cientificamente comprovada ineficaz contra a doença.

Nise Yamaguchi será o 11º depoente a ser ouvido pela comissão. O depoimento inaugura a fase de oitiva de profissionais da área e pesquisadores.

Diferentemente das pessoas já ouvidas, Nise Yamaguchi foi convidada, não convocada. Assim, não é obrigada a comparecer à CPI nem a falar a verdade, como acontece no caso de convocação, no qual o depoente fala como testemunha e se compromete a dizer a verdade.

A médica é considerada pelos senadores como peça-chave para a apuração sobre a suposta existência de um “ministério paralelo” da Saúde, um dos focos de investigação da comissão.

Senadores querem saber se havia algum aconselhamento ao governo que definia diretrizes sobre a pandemia à margem das regras científicas e das recomendações oficiais do Ministério da Saúde.

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Ministério ‘paralelo’

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta relatou à CPI a existência de um “assessoramento paralelo” de Bolsonaro.

Disse ainda ter participado de uma reunião no Palácio do Planalto na qual havia um papel não timbrado de uma minuta de decreto presidencial para alterar a bula da cloroquina e incluir que o remédio poderia ser usado contra a Covid.

O remédio, contudo, é ineficaz contra a doença. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (AMB) condenam o uso do medicamento contra o coronavírus.

Também em depoimento à CPI, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, confirmou a reunião no Planalto mencionada por Mandetta. Segundo ele, Nise Yamaguchi era uma das participantes e defensoras da proposta.

O chefe da Anvisa foi questionado sobre a autoria da minuta. “Eu não tenho a informação de quem é o autor, quem foi criou, quem teve a ideia. A doutora, de fato, perguntou dessa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade”, respondeu.

Em uma rede social, a médica publicou: “Bulas por decreto não existem. Existe, sim, evidência científica acumulada e de credibilidade sustentando condutas de médicos maravilhosos no mundo todo que cuidam da vida.”

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Convite

O convite a Nise Yamaguchi foi aprovado no dia 13 de maio. A oitiva da médica vinha sendo defendida por senadores governistas, entre eles Eduardo Girão (Podemos-CE) e Luis Carlos Heinze (PP-RS) – os dois já usaram a comissão para propagandear a adoção do tratamento precoce.

Os requerimentos que pediam a convocação de Nise, depois transformados em convite, foram apresentados pelos senadores Marcos Rogério (DEM-RO) e Girão.

“A referida médica é conhecida por ser defensora do uso da hidroxicloroquina e cloroquina como tratamento de pacientes infectados com o vírus causador da pandemia. Da mesma forma, foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro, Luiz Henrique Mandetta, no Ministério da Saúde”, escreveu Girão no requerimento.

Disposta a falar à comissão, a própria Nise bateu à porta do gabinete do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), pedindo para ser ouvida.

Conversas com o governo

Em julho do ano passado, Nise Yamaguchi concedeu entrevista à TV Brasil em que foi apresentada como integrante de “um grupo de médicos para discutir um tratamento para o coronavírus”.

À emissora pública, relatou conversas com o presidente Jair Bolsonaro, com o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e com o embaixador do Brasil em Paris sobre a pandemia.

Ela também tratou o tratamento precoce como “fundamental” para o coronavírus e relatou que médicos estavam tomando hidroxicloroquina e ivermectina preventivamente – ambos os remédios não são indicados para a doença.

g1