A CPI da Covid ouve nesta quarta-feira (1º) o advogado e dono de uma rede de televisão Marcos Tolentino. Ele é apontado como “sócio oculto” do FIB Bank – empresa que ofereceu uma carta-fiança de R$ 80,7 milhões em um contrato firmado entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde para a compra da vacina Covaxin.
Na noite desta terça, a defesa de Tolentino obteve no Supremo Tribunal Federal decisão da ministra Cármen Lúcia que permite a ele se recusar a responder a perguntas que eventualmente possam incriminá-lo.
Marcos Tolentino será ouvido no âmbito das apurações sobre as empresas intermediárias em contratos de vacinas. A carta-fiança do FIB Bank fazia parte do processo de aquisição da Covaxin, que previa 20 milhões de doses a um valor de R$ 1,6 bilhão, mas foi cancelado por suspeita de irregularidades – nenhuma dose foi entregue.
A comissão tem informações que demonstram inconsistências na capacidade financeira do FIB Bank e na composição do quadro societário da empresa.
Senadores veem indícios de que duas empresas sócias do FIB Bank e ligadas a Tolentino eram as verdadeiras operadoras da garantidora – apontam, por exemplo, que as empresas estão registradas no mesmo endereço do escritório do advogado.
A comissão também já identificou quase R$ 2 milhões em transferências a uma companhia que pertence à família de Tolentino.
De acordo com o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), o advogado aparece em diversos contratos e interfaces com a Justiça como representante, procurador ou administrador do FIB Bank e de outras empresas ligadas à garantidora.
Marcos Tolentino é amigo de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara, e, segundo senadores, chegou a acompanhar o deputado durante seu depoimento à CPI, em julho.
Senadores querem entender o motivo pelo qual a Precisa contratou o FIB Bank – que, apesar do nome, não é uma instituição financeira – e saber se poderia haver algum beneficiamento ilícito com a parceria.
Além disso, a CPI diz já ter indícios de que a garantidora não teria condições de arcar com a fiança, caso fosse necessário recorrer ao recurso, e de que “laranjas” foram usados para compor o quadro societário da empresa.
Em requerimento que pediu a convocação do advogado, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ressaltou que houve “pressões atípicas” sobre servidores e irregularidades no contrato da Covaxin.
“Torna-se necessário ouvir o testemunho de Marcos Tolentino da Silva, apontado como sócio oculto da empresa que forneceu uma garantia irregular no negócio de compra da vacina indiana”, afirmou Randolfe no pedido.
G1