Infectologistas criticaram a decisão do Ministério da Saúde de suspender a vacinação de crianças de adolescentes sem comorbidades de 12 a 17 anos contra covid-19, anunciada em uma nota técnica nesta quinta-feira (16).
Em entrevista coletiva, o ministro Marcelo Queiroga afirmou que faltavam evidências científicas de que o imunizante seria eficaz para a faixa etária, fato rechaçado pelos especialistas no combate à doença.Médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, esclareceu que a decisão de estender a vacinação para esse público começou nos Estados Unidos e em Israel, após estudos de eficácia e segurança, ao contrário do que afirmou Queiroga.
“Temos estudos que embasaram a liberação dessa vacina não só no Brasil, mas em outros países, inicialmente a partir de 16 anos, e depois de 12 a 15 anos. Foram estudos que chamamos fase 3, de eficácia e de segurança. Posteriormente, a partir de maio, essas vacinas passaram a ser aplicadas na prática, na vida real, inicialmente em Israel, nos EUA, em outros países também, agora mais recentemente aqui no Brasil”, disse o infectologista em entrevista concedida ao portal iG.
Para o especialista, a decisão de Queiroga de suspender a imunização é ruim também do ponto de vista epidemiológico, já que posterga a cobertura vacinal no Brasil.“É absolutamente equivocada. É importante diferenciar e entender que sem dúvida a população de crianças e adolescentes não é prioritária. Mas no estágio de vacinação que estamos no Brasil, onde a maior parte da população de alto risco está imunizada, é imprescindível ampliar a faixa de imunização”, avaliou.“Se essa medida tivesse acontecido há seis meses atrás, eu seria contra vacinar crianças e adolescentes com aquele contingente grande de adultos, pessoas com comorbidades e gestantes que precisavam ser vacinadas prioritariamente. Mas a partir do momento que passamos a proteger essa população é obvio que dentro de uma escala, os adolescentes terão que ser vacinados, por menor que seja o risco de evoluir para uma forma grave.
O fato de ter um baixo risco não quer dizer que não existe risco nenhum”, completou.A Infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio Libanês, fez a mesma avaliação.“[O ministro] Muito provavelmente não foi transparente ao mencionar os reais motivos de preterir os adolescentes nesse momento. Já temos crianças e adolescentes nessa faixa etária no mundo inteiro vacinados com bons resultados, a discussão que se tem hoje não é em relação à segurança da vacinação, mas sim em relação à priorização frente a escassez de doses. Acho que a colocação dele [Queiroga] teria sido correta se tivesse dito que frente a disponibilidade, optou-se por priorizar a 3ª dose dos idosos. Mas não afirmar que essa decisão foi tomada por eventos adversos, pois isso não é verdade”, pontuou a médica.
O representante do Emílio Ribas apontou que o problema é um reflexo da falta de coordenação nacional no Ministério da Saúde desde o início da pandemia.“O Ministério da Saúde teria que ser mais honesto e reconhecer que não nos preparamos de forma adequada, não compramos vacinas de forma eficiente e temos que priorizar, mas não criar uma preocupação nas famílias, criando uma guerra de informação que vai favorecer o medo, o preconceito, uma série de questões que podem prejudicar não só essa vacina, como outras.
Temos que olhar mais longe. Quando o ministro da Saúde diz que não existe segurança para vacinar, se daqui a um mês recebe 100 milhões de doses, e a vacina fica disponível, como em um mês, antes não tinha e agora eu tenho?”, indagou. “Justifique-se, não tenho vacina para mandar para os estados.”
A decisão, que pegou estados, municípios, conselhos e secretários de saúde de surpresa, causou uma guerra de narrativas que prejudica o Plano Nacional de Imunização (PNI) na avaliação da Dra. Mirian.“Toda vacinação tem prós e contras. Qualquer decisão vacinal tem prós e contras, vacinar adolescentes, priorizar adultos com essas doses. Não existe certo e errado, mas com certeza existe certo e errado na decisão de ficar indo e voltando com as informações prestadas à população. Esse vai e volta acaba dando espaço para fake news, com interpretações errôneas.”Da Redaçãocom paraíbajá