Comportamentos inusitados e agressivos de pessoas em bares e shows podem ter influência de efeitos do isolamento na pandemia, diz psicóloga

Com o avanço da vacinação, estados e municípios têm publicado decretos com liberação de público em bares, restaurantes e casas de shows em porcentagens cada vez maiores. Esse crescimento da circulação de pessoas em espaços abertos e fechados pode dar ares de que a pandemia está sob controle e que o cotidiano de antes da Covid-19 está mais próximo do que longe.

No entanto, também é notável que a cada semana que passa imagens e vídeos de comportamentos anormais das pessoas viralizam em número crescente. Casos recentes ganharam grande repercussão como no show do cantor João Gomes em Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde um casal foi filmado fazendo sexo à luz do dia, sem qualquer preocupação com o público ao redor.

Na Paraíba, houve registro de casos de agressão gratuita na noite do último sábado (27) após o resultado da final da Libertadores entre Flamengo e Palmeiras. Um homem morreu e três ficaram feridos durante uma discussão com tiroteio em um bar no bairro do Cuiá, em João Pessoa. Já em Sousa, no Sertão do estado, torcedores rivais se desentenderam em um bar e arremessaram cadeiras e quebraram garrafas, assustando outros clientes que saíram correndo do local.

O ClickPB procurou a psicóloga clínica Nathalia Felizardo, especializanda em Psicologia Humanista, para explicar as possíveis causas desses ânimos exaltados vistos de forma tão generalizada nas últimas semanas. De acordo com a profissional, estudos científicos já comprovam o impacto negativo do isolamento social na saúde mental da população, mas ainda não estabeleceram uma correlação direta de causalidade com os comportamentos em evidência.

“No Brasil, os casos de depressão dobraram e os de ansiedade aumentaram em 80%, além dos relatos de aumento do uso de álcool e outras drogas. Os estudos mostram alterações nos aspectos cognitivos importantes para a mudança de crenças e atitudes, como a percepção geral da situação, percepção dos riscos, estilos cognitivos e a tomada de decisão”, explicou.

“Não podemos afirmar que há uma influência direta ou uma relação de causa e efeito, mas levando em consideração o que os estudos publicados já relatam, percebemos que há impacto no comportamento, na percepção, na tomada de decisão, no geral. Neste sentido, pode-se somente gerar uma inferência de que as habilidades sociais estejam sendo afetadas”, concluiu.