A Câmara dos Deputados pode acelerar nesta segunda-feira a tramitação da proposta que legaliza os jogos de azar no Brasil. Foi incluído na pauta um requerimento de urgência que, se aprovado, deixa o texto pronto para ser votado em plenário a qualquer momento. A iniciativa já causou insatisfação na bancada evangélica, que é contra a ideia.
Desde outubro, deputados mantêm encontros e reuniões fechadas para fazer passar na Câmara o projeto que permite a reabertura dos cassinos, a legalização dos bingos e outras modalidades como jogo do bicho.
A proposta debatida por um grupo de trabalho (GT) criado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é de 1991 e cria o Marco Regulatório dos Jogos. Nas reuniões, os deputados tentaram criar estratégias para convencer a bancada evangélica e alas da esquerda, contrários aos jogos, a pelo menos não trabalharem contra a pauta.
Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP) disse ao GLOBO que já está em Brasília para “obstruir” a pauta da Câmara.
— Eu, como líder da frente, tenho que me organizar para isso não passar. Eu deixei claro ao presidente Arthur Lira que essa era uma pauta que não dava para votar de forma alguma. Disse que obstruiria se fosse para votação. O Brasil não está preparado para esse tipo de situação. Temos grande parte da população pobre e outra parte aposentada. Há estudos que mostram que os mais idosos são os grandes prejudicados pelo vício. E é um caminho que pode levar os jovens, inclusive, para as drogas — disse o parlamentar.
Nas últimas semanas, Lira andou fazendo uma rodada de conversa com as bancadas temáticas para saber quais projetos de lei elas queriam levar ao plenário o mais rápido possível.
Dos deputados da Frente Parlamentar Evangélica, Lira ouviu que a prioridade era barrar esse projeto. Pouco se falou sobre o amplo leque de propostas da agenda de costumes, a não ser esse tema.
Integrante da bancada evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) disse que Lira descumpre o combinado ao pautar o requerimento de urgência.
— Vamos trabalhar para derrubar (o requerimento de urgência) ou conscientizar o Arthur (Lira) para retirar (de pauta). Se não retirar, nós vamos fazer obstrução da pauta da Câmara. Ele descumpriu o que falou para gente, em reunião com 70 convidados. Ele falou que, se pautasse, seria em comum acordo — disse Sóstenes.
Para os parlamentares evangélicos, os jogos de azar são vistos como uma “abominação” que pode trazer maldição à nação.
O Globo