O índice de referência da Bolsa de Valores brasileira revertia uma tendência negativa e tomava na tarde desta sexta (4) o rumo da sua quarta alta semanal. Às 17h26, o Ibovespa avançava 0,49%, a 112.245 pontos. O ganho na semana estava em aproximadamente 0,25%, enquanto o acumulado neste ano passa dos 7%.
O dólar encerrou a sessão em alta de 0,54%, a R$ 5,3240. Apesar do ganho diário, a moeda americana sofreu uma baixa semanal de 1,22%. É a quarta semana consecutiva de queda. Em 2022, a divisa ainda acumula perdas frente ao real de 4,52%.
Os mercados de ações e de câmbio iniciaram 2022 com um comportamento inesperado em relação ao exterior. Analistas previam Bolsa em queda e dólar em alta. Essa seria a reação natural diante da expectativa de aumento dos juros nas principais economias e as consequentes reduções de liquidez e de interesse de investidores por ativos de países considerados arriscados, como é o caso do Brasil.
Em meio à queda acentuada das bolsas americanas, justamente devido à alta dos juros, porém, estrangeiros buscaram em economias emergentes ganhos temporários. Isso favoreceu ativos brasileiros excessivamente desvalorizados pelas turbulências da política doméstica em 2021.
Ao se antecipar ao aperto monetário global, o Brasil também passou a contar com uma das taxas de juros mais atrativas do mundo.
O cenário favorável à entrada de investidores estrangeiros e dólares na economia doméstica ainda ganhou o reforço da valorização de algumas das principais matérias básicas produzidas por aqui, que são o petróleo e o minério de ferro. A petroleira estatal Petrobras e a mineradora Vale voltaram a puxar os ganhos da Bolsa no pregão desta sexta. As empresas subiam 2,37% e 2,60%, nessa ordem.
Ajustes nesses movimentos podem provocar oscilações, como as registradas nesta sexta, o que no jargão do mercado é chamado de correção.
Nos Estados Unidos, a sexta-feira fechava com ajustes para cima nas ações de tecnologia um dia após a Meta, dona do Facebook, ter mergulhado mais de 26% e arrastado os principais índices acionários para o fundo. Após passarem parte da sessão em queda nesta sexta, os papéis da Meta subiam 0,97%.
A Nasdaq subia 2,24%. A bolsa de tecnologia americana havia afundado 3,7% na véspera. Esse é o segmento empresarial que enfrenta os maiores prejuízos no mercado de ações em meio às tensões sobre a elevação das taxas de juros. O segmento é o que mais depende de crédito.
O índice Dow Jones subia 0,51%. O S&P 500, referência do mercado americano, avançava 1,36%.
Os juros americanos deverão sair do zero a partir de março porque o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) avaliou que precisa restringir o crédito para que o país consiga frear a maior inflação em quatro décadas.
A alta nos preços ganha força com a retomada da economia devido ao avanço da vacinação contra a Covid-19. Dados sobre a criação acima do esperado de vagas de trabalho em janeiro, apesar do avanço da variante ômicron, reforçam a expectativa de que os juros irão subir.
O Departamento do Trabalho informou que foram criados 467 mil postos de trabalho fora do setor agrícola no mês passado. Os dados de dezembro foram revisados para cima, para mostrarem abertura de 510 mil vagas, em vez das 199 mil relatadas anteriormente. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 150 mil postos de trabalho em janeiro.
“O mercado laboral está aquecido e mais do que o esperado. Isso põe pressão no Fed a deixar o pé no acelerador no aumento de juros”, disse Andrey Nousi, fundador da Nousi Finance.
Em nota, a Genial Investimentos destacou que, “diante da mudança na avaliação de que a inflação não é transitória, mas sim um processo permanente ligado aos excessos de demanda decorrentes de políticas fiscais excessivamente expansionistas e dos gargalos no sistema produtivo, os bancos centrais precisarão de políticas monetárias mais duras do que as esperadas”.
Com grande influência na Bolsa e na economia brasileira, os preços do petróleo voltavam a disparar nesta sexta. O barril do tipo Brent, referência mundial, saltava 2,48%, a US$ 93,37 (R$ 497,45).
O aumento das tensões entre potências militares ocidentais e a Rússia, que movimenta tropas na fronteira da Ucrânia, é um dos principais fatores de pressão sobre a commodity. Os russos estão entre os principais produtores de óleo e gás.
Além disso, a Opep (organização de países exportadores) reluta em aumentar o ritmo diário de produção, o que já vinha pressionando os preços devido à retomada da economia.
Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora, também destacou nesta manhã que tempestades fortes nos Estados Unidos estão ameaçando causar novos gargalos na cadeia de fornecimento de matérias básicas.
FolhaPress