Novo presidente em exercício do Progressistas, partido que ancora a coalizão que dá sustentação ao governo federal, o deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA) é conhecido pelo perfil articulador, pela atuação discreta nos bastidores e atua como um equilibrista para conciliar seus interesses nas políticas nacional e local.
Na atual legislatura, ele faz uma espécie de jogo duplo que inclui o apoio incondicional ao presidente e uma parceria consolidada de quatro anos com o governador da Bahia, Rui Costa (PT).
Mesmo assumindo um papel de protagonismo frente ao maior partido da base aliada de Bolsonaro, diz que nada vai mudar em sua atuação política.
“Não muda nada. A nossa aliança é clara a nível nacional com Bolsonaro. Já as alianças que o Progressistas tem nos estados, a princípio, devem continuar. Vamos ver se as condições que existem permanecem”, afirma Cajado.
Faltando cerca de oito meses para as eleições, diz que não teria constrangimento em pedir votos para candidatos adversários na Bahia e na eleição nacional.
Advogado, Cajado surgiu na política como um dos quadros do carlismo, grupo liderado pelo então senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), se tornou aliado PT em 2018 e chega ao comando do partido como um dos principais articuladores de Bolsonaro no Congresso Nacional.
O deputado assumiu o comando provisório do partido nesta terça-feira (15), no lugar do deputado federal André Fufuca (PP-MA). A presidência do partido segue nas mãos do senador Ciro Nogueira (PP-PI), licenciado do cargo enquanto ocupa a Casa Civil do governo Bolsonaro.
Assim como Cajado, Fufuca também se dividia entre o apoio a Bolsonaro e ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB). Outros líderes do Progressistas em estados do Nordeste fazem o mesmo jogo duplo, apoiando ao mesmo tempo Bolsonaro e governos de partidos de esquerda na região.
Funcionando como uma espécie de federação de líderes políticos regionais, o PP libera os seus diretórios locais a fazer os arranjos políticos que forem mais convenientes ao partido.
Sua nomeação para a presidência do Progressistas não teve resistências dentro da bancada no Congresso Nacional.
“É um deputado muito batalhador, que vem para somar. Vai contribuir com o partido e com a Bahia”, afirma o deputado federal Cacá Leão (PP), filho do vice-governador da Bahia João Leão (PP).
A assunção interina ao comando do PP coroa uma trajetória meteórica de Cláudio Cajado dentro do partido. Ele filiou-se ao partido há apenas quatro anos, quando deixou o DEM (hoje União Brasil), legenda ao qual era filiado desde o seu primeiro mandato como deputado federal em 1995.
Deixou o DEM dias depois de o então prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), ter decidido não renunciar ao mandato na prefeitura para concorrer ao Governo da Bahia. Na época, Cajado justificou a decisão afirmando que não acreditava em outra candidatura no campo da oposição.
Filiou-se ao PP e logo aproximou-se do governo Rui Costa, a quem acompanha em inaugurações e agendas pelo interior da Bahia.
Emplacou dois parentes no governo baiano. O irmão Marcelo Cajado Sampaio assumiu em 2019 um cargo na Secretaria Estadual de Infraestrutura Hídrica, feudo do PP dentro do governo baiano, e permanece da gestão petista.
Em janeiro de 2020, foi a vez da mulher de Cajado, Andréia Xavier, assumir a Diretoria de Administração e Finanças da Desenbahia, agência de fomento do governo baiano. O deputado afirma que ela deixou o cargo em abril daquele mesmo ano.
Antes de migrar para o governo baiano, Xavier ocupou a superintendência da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) entre 2016 e 2019, nos governos Michel Temer (MDB) e Bolsonaro.
Também foi por três mandatos prefeita de Dias D’Ávila, cidade de 83 mil habitantes que é o reduto eleitoral da família.
Em 2014, foi multada pelo Tribunal de Contas dos Municípios por gastar recursos públicos com placas em homenagem ao marido no estádio da cidade, conhecido como Estádio Municipal Cajadão. Na época, negou irregularidades.
No Congresso Nacional, Cláudio Cajado está no sétimo mandato como deputado federal e desde o ano passado é vice-líder do governo Bolsonaro. Articulado, foi beneficiado com uma série de emendas para distribuição de tratores em cidades do interior da Bahia.
Cajado tem relação próxima com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e o ministro Ciro Nogueira. E diz que credita a ascensão ao comando do partido à sua experiência como parlamentar.
“Apesar de ter só quatro anos no partido, tenho 32 anos de mandato na Câmara dos Deputados. Acredito que posso ajudar nas parcerias que vamos construir para reeleger nossos deputados e aumentar a nossa bancada, prioridade do nosso partido”, diz.
FolhaPress