Os ministros da Defesa da OTAN estão reunidos nesta quarta-feira (16) na sede da aliança militar em Bruxelas, em caráter extraordinário, para avaliar quais deverão ser os próximos passos em meio a escalada de violência na guerra. Ucrânia, Finlândia, Suécia e Geórgia, países que não fazem parte da organização, além de representantes da União Europeia, também participam do encontro.
Às vésperas da reunião extraordinária, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, afirmou que “ nós – a aliança – devemos rever nossa posição militar” depois da invasão russa na Ucrânia. Na coletiva para a imprensa, Stoltenberg explicou que concretamente isso “deve significar um aumento substancial das tropas na parte oriental da Otan”, com o envio de mais 40 mil soldados.
“A invasão russa na Ucrânia e sua integração militar com Belarus formam uma nova realidade de segurança no continente europeu. E nós devemos rever nossa posição militar diante desta nova realidade”, prosseguiu. Stoltenberg disse estar preocupado com a possibilidade de a Rússia organizar uma operação clandestina, sob bandeira falsa, para usar armas químicas e biológicas na Ucrânia.
Mais cedo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reconheceu que seu país não poderá integrar a OTAN, uma das exigências da Rússia para o cessar-fogo. “Ouvimos durante anos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos dizer que não podíamos aderir. Esta é a verdade e temos que reconhecê-la”, declarou Zelensky. A OTAN vem apoiando a Ucrânia de diferentes maneiras, há anos. Desde a anexação da Criméia, em 2014, a aliança militar treina soldados e fornece armamentos e equipamentos militares, mas a adesão do país nunca esteve sob a mesa de negociações da organização.
Medidas concretas
Nesta quarta-feira (16), os ministros da Defesa da OTAN devem abrir as discussões abordando medidas concretas para reforçar a segurança a longo prazo, em todas as áreas. O reforço das defesas aéreas e antimísseis, o reforço marítimo e a ciberdefesa, assim como a manutenção de exercícios militares também estão na agenda do encontro.
Jens Stoltenberg pediu para que os membros da OTAN aumentem suas contribuições com pelo menos 2% do Produto Interno Bruto de cada país à defesa e também afirmou que a China “deveria se unir ao mundo e condenar a Rússia”.
No domingo (13), o bombardeio russo que atingiu a base militar de Yavoriv, no oeste ucraniano, a apenas 15 quilômetros da fronteira com a Polônia, que faz parte da OTAN, elevou a temperatura e acendeu um alerta no Ocidente.
A Ucrânia não é membro da aliança militar, mas, desde 1991, quando se tornou independente, a antiga república soviética se afiliou ao programa de Cooperação para Manutenção da Paz e Segurança, lançada pela OTAN para reestabelecer relações bilaterais com países terceiros. A partir desta parceria, Yavoriv era o local de treinamento das forças militares ucranianas e tropas vindas de outros países.
Com a guerra, a base de Yavoriv se tornou o lugar de entrada de parte da ajuda militar destinada à Ucrânia pelos países ocidentais. Além de 35 mortos e mais de 130 feridos, os mísseis russos em Yavoriv destruíram mísseis antitanques Javelin e mísseis anti-aéreos Stinger.
Exercícios militares no Ártico
A Organização do Tratado do Atlântico Norte iniciou esta semana uma série de exercícios militares na Noruega, mais precisamente na região do Círculo Polar Ártico e a cerca de 450 quilômetros da fronteira com a Rússia. Este tipo de operação acontece normalmente a cada dois anos, mas no contexto atual da guerra na Ucrânia os treinamentos estão sendo realizados em meio a uma grande tensão diplomática.
A chamada operação “Cold Response 2022” que se estenderá até o dia 1º de abril, conta com cerca de 30 mil soldados de diversos países e tem como objetivo testar a capacidade de combate em condições climáticas difíceis como as do Ártico.
Na próxima semana, o presidente dos EUA, Joe Biden desembarca em Bruxelas para uma Cúpula extraordinária da OTAN, a ser realizada no dia 24 de março, quando completa um mês da invasão russa na Ucrânia. A Rússia acaba de anunciar sanções contra Biden e mais 12 altos funcionários americanos, em resposta às medidas punitivas de Washington contra Moscou.
Zona de exclusão aérea
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky voltou a pedir à Otan uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia. “Se não fecharem o nosso espaço aéreo, é apenas uma questão de tempo para que os mísseis russos comecem a cair nos países da OTAN”, ressaltou Zelensky.
Até o momento, a OTAN e os países do Ocidente têm rejeitado o pedido do líder ucraniano argumentando que na prática isso poderia desencadear uma guerra mundial.
Enquanto o mundo acompanha as atrocidades da guerra na Ucrânia e se inquieta pelo o que ainda pode acontecer, mais de três milhões de ucranianos fugiram do país desde o início dos ataques russos há três semanas. É a maior crise humanitária na Europa em décadas. O conflito da Síria, que gerou outro êxodo em massa recente, precisou de dois anos de combate até chegar a marca dos dois milhões de refugiados.
RFI