Covid: com aumento nos casos e nas internações, máscaras voltam a algumas cidades e escolas

Alçadas ao posto de item de primeira necessidade ao longo dos últimos anos, as máscaras de proteção contra a Covid-19 foram, recentemente, sumindo do rosto dos brasileiros. O fenômeno, felizmente, foi fruto do avanço da imunização contra o coronavírus e de um maior controle dos índices epidemiológicos da doença. Mas esse panorama tem mudado com a proximidade do inverno e o crescimento da incidência das doenças respiratórias.

Nas últimas semanas, o acessório voltou a aparecer nas recomendações de escolas e prefeituras. Sem o alarde de antes, a ideia agora é conter a possibilidade de novos surtos localizados, que são fruto, justamente, da flexibilização generalizada que os estados realizaram no último trimestre.

Tome-se, por exemplo, a cidade de Londrina, a 380 quilômetros da capital Curitiba (PR). Na semana passada, o município decidiu indicar novamente o uso das máscaras em ambientes fechados. Os abertos só têm indicação de uso quando há aglomerações, diz a prefeitura. A medida de contenção, embora ainda seja classificada como “orientação” é baseada no aumento de 370% nos casos de Covid-19 nos últimos 30 dias.

— É um decreto que recomenda, mas não impõe o uso. Tivemos um grande aumento de novos diagnósticos, alta no índice de transmissão e, na contramão disso, baixa procura pela vacinação. Tudo isso nos preocupa muito, principalmente porque estamos no outono, época em que a disseminação de doenças respiratórias começa a entrar em evidência — diz Felippe Machado, secretário municipal de Saúde.

Cidades de pelo menos cinco estados já voltaram a recomendar o uso da proteção. O movimento coincide com o fim do Estado de Emergência de Importância Nacional (Espin) da pandemia, que passou a vigorar na semana passada, depois dos 30 dias de adequação concedidos pelo Ministério da Saúde.

Decisões municipais
Na contramão dessa sinalização, até agora, além de Curitiba e Londrina, São Bernardo do Campo (SP), Maringá (PR), Poços de Caldas (MG), Petrópolis (RJ), Canoas (RS) aumentaram as precauções e voltaram a recomendar o uso de máscaras de proteção.

Boletim divulgado pela Fiocruz na última quinta-feira mostra que há tendência de aumento de casos de Covid-19 em todas as regiões do país. De acordo com a análise, 48% dos registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) ocorreram por conta da Covid-19. Dos óbitos por SRAG, 84% são relacionados ao coronavírus.

— Desde que começou a arrefecer a onda da Ômicron, começamos com uma série de flexibilizações. Retomamos as atividades presenciais, o uso de máscara ficou cada vez menos frequente, e as legislações associadas à obrigação de uso também foram caindo. Vimos um crescimento muito forte de outros vírus respiratórios — afirma Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe da Fiocruz.

As prefeituras não são as únicas a se movimentar. Diversas escolas em estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo, assim como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), passaram a indicar o uso de máscaras como medida para impedir surtos localizados — o que levaria as instituições a ter que recorrer outra vez ao ensino remoto.

A Escola Castro Alves, da rede particular de Diadema (SP), por exemplo, não só orientou o uso do item como também decidiu isolar classes inteiras em caso de ocorrência de Covid-19. No Colégio Franciscano Pio XII, na capital paulista, um placar de casos ajudou a retomada das máscaras, há pouco mais de uma semana.

Em tempos de baixas temperaturas, com mais aglomeração em lugares de pouca ventilação, o equipamento pode ser útil para prevenir outras infecções, diz o infectologista e epidemiologista Bruno Scarpellini. Há, por exemplo, impacto no contágio pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), Influenza e tuberculose. No caso da Covid-19, afirma o médico, ela não basta:

— A máscara não é a única variável. Temos sempre que considerar a ventilação, rastreio de casos positivos, proximidade entre pessoas .

Outro fator de peso é a imunização. Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, apenas 42,46% da população tomaram dose de reforço contra a Covid-19. O ciclo primário cobre 77,1% dos brasileiros. Para o presidente do Conselho Nacional de de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes, é preciso alcançar os 90%.

— Há redução da testagem e da percepção de risco pela população. Podemos estar diante de um silêncio epidemiológico, porque alguns municípios têm relatado aumento de internações e oscilações de óbitos, sem correspondência de casos — alerta.

Ao GLOBO, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admite que alta de casos tem relação com a flexibilização das restrições, mas crê que o cenário é de estabilidade.

— Apesar do fim da Espin, as políticas vigentes continuam e as vacinas estão disponíveis — afirma.

O Globo