PCC usa medidas de Bolsonaro para comprar armas, diz jornal

Integrantes da organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) têm se aproveitado de modificações feitas pelo governo de Jair Bolsonaro na legislação para comprar armas por meio da obtenção de registro de CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores). A informação foi publicada na coluna do jornalista Marcelo Godoy no jornal O Estado de S. Paulo nesta segunda-feira (25).

A reportagem elencou os casos de três criminosos ligados à facção que utilizaram o método para obter armas mantidas em seus arsenais. Um deles foi preso pela Polícia Federal em Uberlândia (MG) com duas carabinas, um fuzil T4, duas pistolas, uma espingarda e um revólver. Ele já tinha sido alvo de 16 processos por tráfico de drogas e homicídios. Há ocasiões em que são utilizados laranjas para fazer a compra dos armamentos, que estão sendo adquiridos por preços mais baixos.

“Eles (integrantes do PCC) pagavam de R$ 35 mil até R$ 59 mil num fuzil no mercado paralelo e agora pagam de R$ 12 mil a R$ 15 mil um (fuzil calibre) 556 com nota fiscal”, explicou em entrevista ao Estado de S. Paulo o promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo Lincoln Gakiya, especializado no combate ao crime organizado. Ele foi responsável por ações de combate ao PCC, como as investigações da Operação Sharks, que desvendou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro.

Embora as falhas no sistema brasileiro para o controle de armas sejam anteriores ao governo Bolsonaro, decretos e portarias do presidente, publicados a partir do início de seu mandato, em 2019, expandiram a força armada dos CACs de forma inédita no país. Dados de um levantamento do Instituto Sou da Paz mostram que a quantidade de pessoas com esse tipo de licença subiu em 262% de julho de 2019 a março de 2022. Há 884 mil armas nas mãos de pessoas que as obtiveram dessa forma, de acordo com informações do Exército, responsável por fazer o controle desses registros.

Essa explosão na quantidade de armas a serem fiscalizadas gera preocupação em especialistas. “Uma coisa era ter um banco de dados que as polícias não acessam, mas que era pequeno, com 50 mil, 100 mil armas de civis. Agora esse banco é muito mais relevante”, afirmou ao Nexo Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, que monitora o uso de armas de fogo no Brasil.