Marcos do Val presta depoimento à PF e diz que Bolsonaro em nenhum momento ‘mostrou contrariedade’ ao plano golpista

Senador contou que foi pedido que ele se reunisse com Alexandre de Moraes para forçar e gravar conversa comprometedora.

Em um depoimento de quase quatro horas à Polícia Federal (PF) ontem quinta-feira (2), o senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em nenhum momento “mostrou contrariedade” ao plano golpista proposto pelo ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).

À revista “Veja”, do Val acusou Bolsonaro e Silveira de organizarem uma reunião, em dezembro, para propor gravar sem autorização alguma conversa que comprometesse o ministro Alexandre de Moraes, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Que durante toda a conversa, o ex-presidente manteve-se calado; que a sensação que teve era que o ex-presidente não sabia do assunto, e que Daniel Silveira buscava obter o consentimento tanto do depoente como do presidente; que em nenhum momento ex-presidente negou o plano ou mostrou contrariedade ao plano, mantendo-se em silêncio”, disse o senador no relato à PF.

Do Val narrou que, ao chegar ao encontro, conversou com ex-presidente sobre a “ausência de manifestação” dele a respeito do acampamento com intenções golpistas em frente ao quartel-general do Exército.

O senador disse que “em determinado momento Silveira perguntou “se ele cumpriria uma missão importantíssima”. Segundo do Val, a “missão” seria a gravação ilegal do ministro Alexandre de Moraes.

Ainda no depoimento, ele conta que Daniel Silveira pediu para que a conversa fosse conduzida “de maneira que o ministro falasse algo no sentido de ultrapassar as quatro linhas da Constituição”.

Diferentes versões

Durante todo o dia, Marcos do Val fez alterações e “retirou” pontos no relato feito inicialmente à revista “Veja”.

Na quarta (1º), em discussão com integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), Marcos Do Val citou pela primeira vez a existência do encontro entre Bolsonaro e Silveira. Em uma transmissão ao vivo, ele disse que Bolsonaro teria imposto a ele a participação no plano.

“Eu vou soltar uma bomba. Na sexta-feira [3], vai sair na Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para dar um golpe de estado junto com ele. E é lógico que eu denunciei”, disse.

À PF e à GloboNews, ele não atribuiu a responsabilidade do plano golpista ao ex-presidente.

Na primeira versão à revista “Veja”, Do Val afirmou que o encontro havia ocorrido no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República. Ele teria sido levado até o edifício por carros descaracterizados da Presidência.

Pela manhã, em entrevista à GloboNews, mudou o local. Disse que o encontro havia acontecido na Granja do Torto, residência de campo da Presidência da República.

Já para a PF, citou que “acredita que era a casa do presidente; que como nunca foi lá, não sabia exatamente qual era a casa, se era a residência oficial, casa de lazer ou outra”.

Do Val também chegou a afirmar, em uma rede social, que pediria afastamento do mandato. O senador foi eleito em 2018 e, com isso, tem mandato vigente até 2026.

Poucas horas depois, do Val voltou atrás e afirmou que “estuda” pedir afastamento do cargo de senador.

FONTE: Click PB