“Os cenários ainda estão em análise pela PF, mas havia a ideia de extorsão, mediante sequestro e chantagem, e de homicídio. Não temos ainda a definição completa. A PF identificou compartimentos falsos sendo preparados em casas, com paredes falsas, que poderiam ser para armazenar armamento, droga ou para guardar pessoas. A PF só vai concluir [a análise] em algumas semanas”, declarou Dino a jornalistas em um evento de advogados, em São Paulo.
O ministro afirmou que as investigações começaram há cerca de 45 dias, depois que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), informou sobre a possibilidade dos ataques. Dino não quis comentar como o senador ficou sabendo das intenções criminosas.
“Tivemos, há aproximadamente 45 dias, a informação de que um agrupamento criminoso visava planejar e executar atentados violentos contra várias autoridades. Isso chegou originalmente até mim por intermédio do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Determinei então que a PF estivesse mobilizada. Ao longo do trabalho da PF, que eu mais uma vez homenageio, houve a identificação de que os indícios eram consistentes. Efetivamente, havia um planejamento em curso para a execução de ações violentas tendo vários alvos”, afirmou Dino.
Ainda de acordo com o ministro, o alvo original dos ataques era Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), em Presidente Prudente (SP).
As ações criminosas atingiriam também autoridades dos sistemas presidenciários e policiais de diversos estados. Na operação desta quarta (22), a PF apreendeu material em documentos e computadores.
“Não sabemos, ainda, as razões determinantes da organização criminosa. Era uma ação nacional, de retaliação, em face de vários agentes públicos, e de intimação, com corte terrorista, para intimidar o aparelho estatal”, declarou Dino.
“Especificamente em relação ao senador Moro, chamou a atenção, e foi determinante para a PF, o fato de já haver atos de montagem de estruturas para perpetração de crimes no Paraná. Isso que levou parte da investigação a tramitar no Paraná”, completou.
Dino informou, ainda, que havia mais autoridades na mira do PCC. O ministro convocou uma reunião com os secretários estaduais de segurança para a próxima semana e afirmou que vai se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) hoje quinta-feira (23).
“As equipes estavam sendo montadas no Paraná, em São Paulo e em outros estados para a prática de atos violentos. A PF considerou, dentro de sua autonomia técnica, que este era o momento indicado para impedir a consumação desses atos violentos. Há um número indeterminado de alvos, sabemos de alguns, mas não de todos”, declarou.
Para o ministro, não há relação entre a onda de ataques no Rio Grande do Norte dos últimos dias e as ações do PCC contra autoridades. “Desde eventos ocorridos em SP há algumas décadas, temos a afirmação de um modelo em que a criminalidade de varejo migra para organizações verticalizadas, em âmbito nacional e com ramificações internacionais. Este fenômeno é que temos de enfrentar. Não há vínculo causal, há vínculo de modelo de estruturação, diante do mesmo fenômeno brasileiro que vem de, pelo menos, 20 anos, que essas facções acabaram substituindo ações individuais.”
Dino condenou, ainda, as ligações entre o ataque frustrado a Moro e declarações recentes de Lula. Em uma entrevista nesta terça-feira (21), um dia antes da operação da PF contra o PCC, o presidente afirmou que, durante os meses em que esteve preso, pensava em se vingar do ex-juiz.
“Quem, neste momento, faz politização indevida está ajudando a quadrilha”, criticou o ministro. “Estamos vendo em redes sociais a narrativa escandalosamente falsa de que haveria relação entre declarações do presidente Lula, e até mesmo minhas, com esses planejamentos. Isso é um disparate, uma violência. Eu reitero e continuarei fazendo críticas à atuação do então juiz Sergio Moro. Essas declarações não me impedem, nem à PF, de proteger uma pessoa crítica e de oposição ao nosso governo”, opinou Dino.
FONTE: Portal Correio