Divulgada nesta segunda-feira por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF, a gravação de quase 1 hora e oito minutos descoberta pela Polícia Federal da reunião em que Jair Bolsonaro, Augusto Heleno, Alexandre Ramagem e duas advogadas discutiram “supostas irregularidades” cometidas por agentes da Receita Federal na investigação sobre o suposto esquema de “rachadinha” no gabinete do senador Flávio Bolsonaro contém uma declaração especialmente curiosa — tendo em vista o destino do áudio quase quatro anos depois.
Segundo a transcrição da PF, na conversa realizada em 25 de agosto de 2020, Bolsonaro perguntou se era o caso de as advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach conversarem sobre o caso com o então chefe da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, e com o ex-ministro Gustavo Canuto, que comandava a Dataprev — que o presidente parece confundir com o Serpro, o Serviço Federal de Processamento de Dados.
Chefe do GSI na época, o general Heleno alerta que “ele tem que manter esse troço fechadíssimo, pegar gente de confiança dele”. “Se vazar…”, complementa o então ministro.
No 47º minuto do áudio, Bolsonaro então diz que a conversa com Canuto precisaria ser feita a sós e faz um comentário sob medida para o caso de estar sendo gravado:
“E, deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém tá gravando a alguma coisa, que a não estamos procurando favorecimento de ninguém”.
A advogada Luciana Pires então afirma que o que se quer é que não cometa crime e que investigue. Na sequência, Juliana Bierrenbach comenta que até o próprio GSI poderia fazer essa “apuração”, mas que isso poderia causar “fragilidade” e “exposição”.
Ouça a gravação: